Mons. Gänswein: muitos cardeais estariam em sintonia se o Cardeal Scola tivesse sido Papa
O ex-secretário de Bento XVI concedeu uma entrevista ao Corriere della Sera
Redação (30/03/2023 11:33, Gaudium Press) Mons.Georg Gänswein concedeu uma curta entrevista a Giampiero Rossi do Corriere della Sera, como parte de uma apresentação do livro de suas memórias com o Papa Ratzinger em Milão, uma conversa em que o prelado abordou um tema específico, tendo sempre presente que “em Santa Marta há uma grande sensibilidade”.
Mas essa sensibilidade que o antigo secretário do Papa Ratzinger reconhece existir na Casa do Papa não o impediu de dizer coisas, como que acredita que “não poucos cardeais teriam vivido bem se [o cardeal] Angelo Scola tivesse sido Papa”. De fato, o antigo patriarca de Veneza foi um forte candidato, votado, no conclave que elegeu Jorge Mario Bergoglio como sucessor de Pedro. Alguns chegam a afirmar que Scola era aquele que Bento teria preferido como seu sucessor, e que com essa intenção o teria feito arcebispo da grande sé de Milão, em junho de 2011.
Rossi não teve a ousadia de perguntar isso diretamente ao secretário de Bento, mas perguntou se ele teria apreciado a eleição do Cardeal Scola como papa: “Não posso dizer que fui amigo do Cardeal Scola, mas tenho por ele uma grande simpatia pessoal e profunda estima. Contudo, dizer certas coisas hoje, sabendo que em Santa Marta há uma grande sensibilidade…”. Os dois últimos encontros de Gänswein com Francisco devem ter aguçado essa percepção de sensibilidade a que se refere Mons. Gänswein.
“Que lembranças o senhor tem da relação entre essas duas figuras importantes da Igreja Católica?” pergunta o jornalista do Corriere della Sera.
O arcebispo de Urbisaglia recorda “as duas visitas oficiais que Ratzinger fez a Scola durante seu pontificado”, uma enquanto ainda era patriarca de Veneza e outra como arcebispo de Milão para o Encontro Mundial das Famílias. Na primeira, em maio de 2011, “já era muito perceptível a simpatia humana e a sintonia teológica entre o Papa e o Patriarca. Eles se conheciam há algum tempo, precisamente em um contexto de reflexões teológicas e, naquele momento, eles se encontraram em uma bela harmonia. Para descrevê-la , vem à mente a imagem de um veleiro impulsionado por uma boa brisa”.
Quando Ratzinger visitou Scola em Milão “não se falava de um possível sucessor porque não era sequer concebível que um Papa renunciasse. Mas, no dia 11 de fevereiro de 2013, [o dia em que foi anunciada a renúncia do Papa alemão] as coisas mudaram de repente”, sublinha Rossi.
“E ainda mais a partir de 28 de fevereiro – retruca Mons. Gänswein – quando às 20 horas o Papa assinou sua renúncia e embarcou no helicóptero que o levou a Castel Gandolfo, porque o mosteiro Mater Ecclesiae ainda não estava pronto para recebê-lo. Lembro-me muito bem que muitos, e em particular vocês jornalistas, se apressaram em dizer que o Cardeal Scola seria o sucessor natural, dando-o como certo”.
“E a realidade, o senhor se lembra qual é?”
“O Papa Bento XVI não falou com ninguém, não respondeu a ninguém, precisamente porque não queria e, em todo caso, não poderia influenciar de forma alguma o Conclave. Mas assim como existem os chamados kingmakers, também existem os papamakers que, talvez até partindo de fatos reais, como a harmonia teológica e humana entre os dois, também acrescentaram muita fantasia. Mas o mundo católico e da Igreja é grande e diversificado, sempre há algum elemento incalculável e concentrar-se apenas em Roma é um erro”.
Mas Mons. Gänswein teria gostado que Scola tivesse sido o Papa?: “Além da minha estima e simpatia pessoal [por este Cardeal], o senhor compreende que cada uma das minhas frases a esse respeito poderia ser interpretada como uma manifestação negativa ao atual Pontífice. E como eu disse, em Santa Marta, há uma grande sensibilidade…”, responde o antigo secretário de Bento.
No entanto, por insistência jornalística de Rossi, Mons. Gänswein diz: “Acho que não poucos cardeais teriam vivido bem se Angelo Scola tivesse sido Pontífice”, o que significa que esses cardeais se sentiriam “em sintonia não só externamente, mas também internamente”. (SCM)
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