Misteriosa, mas verdadeira Paixão
O Evangelho de hoje pode ser considerado como uma “profecia” para os tempos atuais: Nosso Senhor Jesus Cristo é a Cabeça da Igreja, e se Ele passou por uma Paixão, também por ela pode passar a Santa Igreja, seu Corpo Místico.
Redação (12/09/2021 08:13, Gaudium Press) Muitas das previsões e profecias relacionadas ao Salvador encontradas nas Escrituras costumam nos apresentar aspectos gloriosos e brilhantes de sua missão. Sem deixar de entrever tais aspectos, hoje a liturgia nos convida a fixar os olhos numa realidade importantíssima, que bem pode ser resumida pelo ditado latino: per crucem ad lucem – é pela cruz que chegamos a luz. Sim, foi pelo sofrimento que Nosso Senhor chegou à glória; é pela dor que nós, filhos dele, chegaremos ao Céu.
Mas é fácil falar de sofrimento, o difícil é sofrer.
A fuga dos sofrimentos é algo instintivo, natural; que deve, entretanto, ser coibida em certas ocasiões por razões mais elevadas.
Não é verdade que muitos profissionais sacrificam o lazer, o convívio com seus familiares e inclusive horas de descanso em benefício de seu sustento e do bem-estar dos seus? Neste caso, fugir das privações inevitáveis seria omitir um dever importantíssimo, inerente ao próprio estado de vida que tais pessoas escolheram.
Assim, quem opta por seguir um rumo determinado, opta por todos os sofrimentos que sobrevirão em seu trajeto. É natural.
Aceitar a parte que nos caberá nesses sofrimentos
Com os seguidores de Jesus Cristo, membros da Igreja, ocorre o mesmo.
No Evangelho (cf. Mc 8,27-35), Nosso Senhor anuncia a realização das profecias sobre sua Paixão.
Embora anuncie também a sua Ressurreição, Ele apresenta as suas dores como elementos para identificá-Lo. Em sequência, o Evangelho narra que São Pedro não aceitou essa característica do Messias e, por isso, ele foi objeto de uma violenta repreensão: “Vai para longe de Mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8,33). Assim, não reconhecê-Lo devido às aparentes desfigurações causadas pelas dores da sua Paixão, é não pensar como Deus.
Sob essa perspectiva, o Evangelho de hoje pode ser considerado como uma “profecia” para os tempos atuais. Nosso Senhor Jesus Cristo é a Cabeça da Igreja, e se Ele passou por uma Paixão, também por ela pode passar a Santa Igreja, seu Corpo Místico.
Nesse caso, com que postura de alma devemos enfrentar tal Paixão? Sabemos, pelo Evangelho, que não aceitar essa Paixão é “não pensar como Deus e sim como os homens”. Assim, não podemos deixar de reconhecer ou distinguir a Igreja enquanto instituição divina pelos sofrimentos que Ela passa.
Por sua vez, se Nosso Senhor realizava nas suas dores o píncaro de sua divina missão, não estará a Igreja passando por essas dores para atingir o auge dos desígnios que a Providência teve ao fundá-La?
Devemos, pois, aceitar a parte que nos caberá nesses sofrimentos.
Afinal, se a Santa Igreja se constitui dos membros que somos nós batizados, tal Paixão também deverá contar com nossa participação. De nada valeria a um membro fazer parte dum corpo, se não participar das alegrias e dores deste. E participar da Paixão de Igreja significa, nas palavras de São Tiago na segunda leitura (cf. Tg 2,14-18), pôr em prática nossa fé n’Ela pois, afinal, “a fé: se não se traduz em obras, por si só está morta” (Tg 2,17).
É preciso levar até o fim a nossa resolução de pertencermos à Igreja Católica, sofrendo com alegria o que for necessário para ser fiel a ela, praticando, vivendo e pregando o que ela ensina com integridade, num mundo que a contradiz e a desfigura.
Sigamos o conselho de Nosso Senhor no Evangelho: “Se alguém Me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga” (Mc 8,34), e não nos iludamos: deveremos sofrer para praticar a virtude, para nos mantermos no verdadeiro caminho do bem e íntegros em relação aos ensinamentos da Igreja.
Desta forma, nossa fidelidade será também a prova de nossa confiança na sua gloriosa Ressurreição.
Por João Paulo de Oliveira
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