Matrimônio: união santa, monogâmica e indissolúvel
Nosso Senhor Jesus Cristo restituiu ao matrimônio a sua original pureza.
Redação (29/10/2022 11:25, Gaudium Press) Destinado para Deus, o homem vive à sua procura, impulsionado por certo “instinto do divino” – correlacionado intimamente com o instinto de sociabilidade -, que não se sacia em nada da criação.
Contudo, porque é composto de corpo e alma, precisa de algo externo que, pela via dos sentidos, lhe facilite a contemplação interior e lhe sirva de elemento de ligação com Deus, enquanto não O vê face a face.
A criação de Eva serviu de complemento, era um ser com quem Adão podia estabelecer uma relação que satisfizesse aquela apetência de amor com que o Todo-Poderoso o dotara, para uma altíssima finalidade.
O Senhor quis dar a Adão uma “auxiliar semelhante” (Gn 2, 18b) – e não igual – que, conjugada com ele, o completasse, refletindo de Deus os aspectos contrários, mas harmônicos. Assim – tendo em vista a realização do plano que, desde todo o sempre, Ele arquitetara para a humanidade -, homem e mulher deveriam ser “uma só carne” (Gn 2, 24), isto é, unir-se para constituir família, com o objetivo de gerar uma prole e educá-la nos caminhos de Deus.
Uma vocação
O Salvador elevou o matrimônio – de si um contrato natural – à categoria de Sacramento. Na celebração das núpcias, os ministros são os próprios nubentes. Ao pronunciarem a fórmula pela qual manifestam o consentimento para sua união, além de terem aumentada a graça santificante, lhes é dada uma assistência especial para mais facilmente manterem a fidelidade mútua e cumprirem os deveres de seu novo estado.
O casamento é uma vocação, e os que forem chamados a abraçá-la hão de deixar seus pais “e os dois serão uma só carne”. Ao instaurar o regime da graça, o próprio Redentor proporciona à humanidade a força para tornar isto possível.
Nosso Senhor Jesus Cristo consagrou o matrimônio na Nova Lei, restabelecendo o vínculo conjugal exclusivo e perene, que só a morte pode desfazer. Com efeito, este não permanece no Céu, como Jesus esclarece a propósito de uma discussão com os saduceus (cf. Mt 22, 30); trata-se de uma aliança permanente apenas nesta vida.
União de dois que resolveram abraçar juntos a cruz
Há uma ideia romântica — tão difundida pelas produções cinematográficas de Hollywood e pelas novelas televisivas — de que a vida matrimonial é uma realidade feita de rosas… Sim, há rosas perfumadas, de pétalas muito bonitas, mas com caules crivados de espinhos terríveis… Porque não existem dois temperamentos iguais! Se não há dois grãos de areia ou duas folhas de árvore idênticas, menos ainda duas criaturas humanas, pois quanto mais se sobe na escala dos seres, maior é a diferença entre eles. A utopia da igualdade absoluta dos homens é uma loucura!
Às vezes há processos de separação por causa de bagatelas. Qual a raiz de tais desentendimentos? A dificuldade em aceitar a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual nos fala São Paulo: “Convinha de fato que Aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, e que desejou conduzir muitos filhos à glória, levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio de sofrimentos” (Hb 2, 10).
Para nos redimir, bastaria que Jesus oferecesse ao Pai um gesto – pois todos os seus atos têm mérito infinito -, mas Ele preferiu padecer os tormentos da Crucifixão, o suplício mais ignominioso daqueles tempos, dando-nos assim o exemplo de como devemos abraçar a nossa própria cruz.
Símbolo do matrimônio
É o Apóstolo que, escrevendo aos efésios, se refere ao matrimônio como símbolo da união entre Nosso Senhor Jesus Cristo e a Santa Igreja (cf. Ef 5, 22-32). O Salvador a ama a ponto de por ela ter derramado todo o seu Sangue, e é essencial que os cônjuges estejam dispostos a fazer o mesmo um pelo outro. Só quando ambos se determinam a abraçar a cruz e carregá-la juntos, o matrimônio atinge sua plenitude e seu esplendor.
Desta forma, “onde há uma só carne, há um só espírito: rezam unidos, se prostram unidos, jejuam unidos; se instruem mutuamente, se exortam mutuamente, se alentam mutuamente. São iguais na Igreja de Deus, no banquete de Deus, nas provas, nas perseguições e nos consolos”.
Não nos iludamos! Em qualquer estado de vida, o verdadeiro caminho a ser trilhado é o da cruz! Depois do pecado original, ela sempre estará presente no convívio social, havendo desavenças e desencaixes inclusive entre esposos.
Falsa seria a afirmação de que é possível existir um casal tão inteiramente harmônico, que cada um dos consortes nunca tenha de fazer esforço para adaptar-se ao outro. Daí a importância do Sacramento, que “purifica os olhos da natureza, faz suportáveis as desgraças, enternecedoras as enfermidades, amáveis a velhice e os cabelos brancos. A graça torna o amor paciente. Ela o fortifica face ao choque dos defeitos com que ele se deparou”.
Família
Age com grande insensatez quem se baseia na estrita beleza física ao contrair matrimônio, esquecendo-se de que, com o correr dos anos, a fisionomia e a pele vão adquirindo outra aparência…
Pior ainda é o erro no qual incorre quem se casa por sensualidade, acreditando na mentira de que a felicidade está em dar vazão a paixões voluptuosas no relacionamento matrimonial. Neste não pode haver libertinagem; cada um deve respeitar a si mesmo e o outro, tendo como objetivo a prole.
O que se fizer sem esta intenção é pura e simplesmente pecaminoso, como ensina Santo Agostinho: “tudo quanto os esposos realizem contra a moderação, a castidade e o pudor é um vício e um abuso, que não provém do autêntico matrimônio, mas sim de homens mal refreados”. Soltar as rédeas das paixões é inconcebível em qualquer circunstância, pois o combate a elas é o cerne de nossa luta e de nossa cruz.
No campo sobrenatural temos a mesma origem de Nosso Senhor Jesus Cristo, somos todos irmãos, pertencemos à família divina, e é com vistas a aumentar o número de seus membros que foi instituída a família terrena.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 166, outubro 2015.
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