Matemática e… santidade
A liturgia de hoje nos apresenta dois caminhos a serem trilhados: qual deles eu seguirei?
Redação (06/06/2021 10:19, Gaudium Press): Transcorria a aula de catequese na cidade polonesa de Niepokalanów.
– No dia de hoje iremos aprender uma nova fórmula matemática – afirmou o catequista.
Ora, que relação poderia haver entre matemática e religião? Era o que os alunos se perguntavam…
Escrevendo no quadro negro, continuou:
– A fórmula é a seguinte: v=V.
E concluiu:
– Esta é a fórmula da santidade.
Todos os alunos ficaram curiosos, evidentemente, e não cessavam de fazer perguntas ao professor, São Maximiliano Kolbe, pois estavam desejosos de descobrir a razão deste enigma matemático-sobrenatural.
Afinal de contas, qual a analogia entre a fórmula do santo polonês e a santidade? A liturgia de hoje nos traz a resposta.
Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?
No capítulo terceiro do Evangelho de São Marcos, Jesus, tendo escolhido para si doze apóstolos, após lhes exortar à pregação da palavra e dado poder para expulsarem demônios, são convidados a retornarem para as suas casas. Em seguida, reuniu-se em torno deles uma numerosa multidão, a ponto de não terem nem sequer tempo de tomar alimento algum. Ora:
“Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si. Os mestres da lei, que tinham vindo para Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu”. (Mc 3, 21-22)

É certo que copiosas graças foram derramadas sobre os familiares de Nosso Senhor para discernirem sua Divindade, pois os sinais realizados por Ele demonstravam claramente tratar-se de uma pessoa divina. Contudo, o obstinado apego aos seus critérios e à própria vontade fê-los rejeitarem estas graças, impedindo-os de seguirem o Divino Pastor, e de abrirem suas almas aos numerosos benefícios operados por Ele ante seus olhos.
Mais adiante, o Evangelho narra o seguinte fato: enquanto Jesus falava ao povo, alguns homens indicaram-Lhe estarem sua Mãe e seus irmãos fora de casa, à sua procura; ao que Ele respondeu:
“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos. E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mc 3, 33-35)
Comentando este trecho do Evangelho, afirma Santo Agostinho: “[Jesus], com estas palavras, nos ensina a antepor nosso parentesco espiritual ao carnal. Ensina-nos, ademais, que os homens não encontram sua felicidade em estar aparentados mediante laços de consanguinidade com justos e santos, senão em aderir, mediante a obediência e imitação, ao ensinamento e ao modo de vida de Jesus”.[1]
Maria Santíssima é, pois, paradigma para todo católico de “obediência e imitação ao ensinamento e modo de vida de Jesus”. Pois foi Ela quem, por antonomásia, cumpriu plenamente a vontade de Deus, como belamente declarou de si mesma na Anunciação: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1, 38). “Escrava”, porque em tudo fez a vontade de seu Senhor, a exemplo de seu Divino Filho obedientíssimo ao Pai: “Desci do Céu não para fazer minha vontade, senão a de meu Pai que me enviou” (Jo 6, 38); e: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra, como no Céu” (Mt 6, 10). Eis um dos primordiais aspectos da santidade de Maria e de todos santos ao longo da História: “a conformidade com a vontade divina”.
Conformidade com a vontade divina! Que tarefa difícil para os homens deste século. Ante os fracassos e dificuldades que a vida nos apresenta, facilmente a tristeza e o desespero tomam conta das almas, e as esperanças esmorecem.
Identificados com vontade divina
É doutrina católica que toda perfeição cristã consiste essencialmente na caridade, segundo o amor a Deus e ao próximo. Entretanto, o frade jesuíta, Pe. Afonso Rodrigues, em sua obra “Exercícios de perfeição e virtudes cristãs”,[2] insiste que o aspecto deste desejo de santidade “mais puro e mais perfeito é conformar-se com a vontade de Deus e ter um querer e não querer de acordo com a sua Divina Majestade. Pois quanto mais unido e mais conforme estiver cada um com a vontade de Deus, tanto melhor e mais perfeito será”.
Nenhuma coisa pode acontecer nem suceder no mundo senão por ordem e vontade de Deus. Dessa maneira, “não haveis de tomar nenhuma coisa como vinda por acaso ou por obra humana, pois isso é o que sói dar maior pena e tristeza a alma; (…) não penseis que vos sucedeu isto ou aquilo porque o outro assim o tramou, e que, se não fosse tal ou tal coisa, não sucederia assim, mas de maneira muito diversa. Devemos tomar e receber tudo o que nos acontece, como vindas das mãos de Deus, e conformar-nos com sua santíssima e divina vontade por qualquer via ou rodeio que elas venham, porque é Ele que as envia por esses meios e caminhos”.
Esta é a raiz e o princípio de toda a paz e quietação dos santos, porque sujeitam-se e põem-se nas mãos de Deus. Não se inquietam nem se perturbam com as mudanças desta vida, nem com os vários sucessos que sobrevêm, porque seus corações e sua vontade estão unidos e coadunados com a Providência Divina.
Assim sendo, dois caminhos nos apresenta a liturgia de hoje: aqueles que seguem a via dos parentes de Nosso Senhor, inconformes à vontade de Deus e errantes em seus caminhos; e aqueles que, a exemplo de Nossa Senhora, aceitam tudo com paz e serenidade de alma, submetendo-se aos seus desígnios divinos.
Continuando a nossa história: São Maximiliano, enfim, explicou aos seus alunos a fórmula da santidade: “O v minúsculo é a minha vontade, o V maiúsculo é a vontade de Deus. Identifiquem a sua vontade com a de Deus: sejam santos. É simples, não? Então, não resta senão obedecer”.[3]
Por Guilherme Motta
[1] SANTO AGOSTINHO. Obras Completas. Madrid: BAC, v. 12, p.695-696.
[2] Cf. RODRIGUES, Afonso. Exercícios de perfeição e virtudes cristãs. 4 ed. Lisboa: União Gráfica, 1947, v. 2, p. 251-272.
[3] C. LORIT, Sérgio. 16670, quem era? São Paulo: Cidade Nova, 1966, p. 126.






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