Mártires no Século XXI
Temos presenciado a perseguição religiosa com muito sangue derramado por aqueles que não aceitam se submeter às religiões pagãs, ideologias ateias ou por ser missionários da Fé Católica em regiões que estavam à espera do anúncio do Evangelho.
Redação (08/06/2021 14:28, Gaudium Press) Ao ouvir a palavra “mártires” não deixa de vir a nós a recordação dos primeiros cristãos que derramaram o seu sangue, especialmente em Roma. A figura do Coliseu se apresenta aos nossos olhos. Este enorme anfiteatro com sua arena repleta de bênçãos, cenário do martírio de tantos na época das perseguições, acontecimentos sinistros, ao mesmo tempo magníficos. Aparece a imagem do pódio onde as autoridades assistiam ao martírio dos cristãos devorados pelas feras. Sem a menor dúvida o sofrimento desses mártires estava unido, misticamente, aos cristãos de todos os tempos.
Aqueles homens e mulheres ofereceram suas vidas resistindo à pressão do ambiente idólatra e paganizado que os rodeava, permanecendo fiéis à graça de conversão que haviam recebido ao conhecer a Santa Igreja Católica em seu caminhar inicial, com um espírito inflexível e entrega total. Negar-se a colocar incenso aos “deuses” pagãos era motivo causal para ser jogado às feras onde seriam devorados.
A epopeia dos mártires dos primeiros tempos
Recordo-me das belas palavras que Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, Fundador dos Arautos do Evangelho, escreveu como meditação, dentro do próprio Coliseu, em fevereiro de 1993. Parafraseando alguns trechos do agradável texto literário:
“Bem ao lado do palco onde os imperadores se deliciavam com o desmantelamento dos corpos dos mártires, lugar central e mais importante da plateia deste histórico, terrível e grandioso Coliseu, posso assistir, com a memória e a imaginação, a inúmeros martírios”. As vítimas eram “objeto de escárnio daqueles pagãos que aguardavam o momento trágico em que soltariam as feras famintas na arena. As vaias, para eles, não representavam nada. Foram um estímulo para acreditar nos coros dos Anjos e dos Bem-aventurados que os esperavam, para além das muralhas das aparentes realidades desta vida, com uma palma e uma coroa”. A multidão grita, silêncio e um grande suspense: “as feras famintas irrompem na arena e avançam sobre as vítimas puras e inocentes para devorá-las”.
“Terminada a cruel matança, os gladiadores entravam para acorrentar os animais que saciaram seu apetite bestial com as carnes de um novo serafim. A arena está vazia, o espetáculo acabou, a multidão frustrada se retira lentamente. Que demonstração de Fé e nobreza eles presenciaram! Os cristãos permanecem. Quando o manto da noite começa a cobrir a cidade, vão à areia em busca da terra transformada em relíquia, encharcada com o sangue daqueles mártires que hoje constituem uma verdadeira legião no gozo da visão beatífica. Este edifício é evocativo: cada pedra tem uma bela história para contar, para dizer uma palavra sobre aquele passado coberto de sangue, dor e glória. Oh arena que foste o pedestal de tantos Bem-aventurados!”
Bem se diz: “sangue de mártires, semente de cristãos”. Assim aconteceu, sim, milhões de cristãos foram martirizados das formas mais horríveis nos primeiros séculos do cristianismo. Seu sangue abriu caminho para a conversão de tantos e tantas à Fé cristã.
Passaram-se quase dois mil anos. Porém, ao longo dos séculos, em todo o orbe, temos presenciado momentos de perseguição religiosa com muito sangue derramado por aqueles que não aceitavam se submeter às religiões pagãs, ideologias ateias ou por ser missionários da Fé Católica em regiões que estavam à espera do anúncio do Evangelho.
Se fala tanto de direitos humanos…
No nosso século XXI, tão cheio de palavras sobre os direitos humanos, o direito de praticar qualquer religião, ideologia ou formas de vida, encontramos situações que nos deixam tristes, nos enchem de indignação e nos fazem refletir.
Em nossos ambientes -mesmo dentro dos efeitos de uma pandemia que não acaba-, vivemos uma tranquilidade que melhor seria qualificada de “pseudo normalidade”. Despreocupados, podemos ir ao shopping, ao supermercado, ao cinema, praticar algum esporte, caminhar pelas ruas, ir à Missa, viajar. Como católicos, mesmo como crentes, não temos, no momento, oposição aberta às nossas convicções religiosas.
Não podemos deixar de comparar a nossa situação com a daqueles cristãos que, em terras africanas, em variados países, sofrem uma tenaz perseguição que os leva, inevitavelmente à morte, se mantiverem a Fé, com base nos mandamentos da Lei de Deus e nos ensinamentos da Santa Igreja e, mais ainda, se forem missionários.
É o que está acontecendo, por exemplo, na Nigéria. Mais de 1.400 cristãos foram massacrados por grupos extremistas, quebrando o recorde macabro de maior número desde 2014 (de acordo com a Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito). Por sua vez, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) informou sobre um aumento na perseguição aos cristãos na África. A estes homicídios juntam-se vítimas em outros países deste continente que, como sombra aterradora sobre a Igreja, ocorrem em Camarões, Chade, Quênia e Somália. Dom M. Kukah, Bispo de Sokoto, Nigéria, declarou após a execução de dez cristãos um dia depois do Natal: “Faz parte de um drama muito maior com o qual vivemos diariamente”.
Nós, gozando a “pseudo-normalidade”…
Eles, perseguidos e mortos sem piedade, nós tranquilos gozando a “pseudo normalidade”.
Tomando conhecimento desses fatos, não podemos permanecer na mesma atitude de espírito. Suspeita é a falta de informação sobre o tema nos serviços de comunicação internacionais, tão rápidos em noticiar certo tipo de acontecimento. Parecem cegos e surdos diante destes terríveis eventos.
É por isso que quero, neste artigo, dar de minha parte, e certamente de muitos que o estarão lendo, meu acompanhamento, meu pesar, meu protesto indignado, por esses assassinatos de irmãos na Fé em terras africanas. Que saibam eles, “mártires do Século XXI”, seus familiares e amigos que, de coração, estamos com eles.
À distância, a partir de nossas “comodidades” – entre aspas porque não sei por quanto tempo as teremos – uma saudação, uma oração, um abraço aos nossos irmãos africanos que estão sofrendo a perseguição daqueles que, exigindo tolerância para seus pensamentos extremistas religiosos ou políticos, agem com a mais tenaz intolerância diante daqueles que querem levar a paz e a alegria de Cristo Nosso Senhor aos corações.
Queira Deus que o “sangue” destes mártires sejam “semente” de novos cristãos e produzam uma colheita abundante para o seu Reino. Que Deus e a Virgem vos acompanhem.
Por Padre Fernando Gioia, EP
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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