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Maria Santíssima: Templo de Deus

A Santíssima Virgem Maria é a casa de Deus. Se, como diz o Apóstolo, ‘os que vivem castamente são o templo de Deus’, a Virgem, a castíssima Mãe de Deus, poderia não o ser?

900px La Anunciacion Fra Angelico Prado

Redação (20/12/2020 18:16, Gaudium Press) A Liturgia deste último Domingo do Advento apresenta, na Primeira Leitura, a bela postura de alma do Rei Davi, ao zelar pela dignidade da Arca da Aliança, um dos mais sagrados símbolos da religião judaica naquele tempo:

Tendo-se o Rei Davi instalado já em sua casa e tendo-lhe o Senhor dado a paz, livrando-o de todos os seus inimigos, ele disse ao profeta Natã: “Vê, eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda! Natã respondeu ao rei: “Vai e faz tudo o que diz teu coração, pois o Senhor está contigo”. Mas, nessa mesma noite, a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: “Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar?’”. (II Sm 7, 1-5)

Mas ao Rei-profeta não foi dado construir um santuário para o Altíssimo; coube a seu filho a edificação do Templo que sobrepujaria em esplendor a todas as construções do povo judeu. Altamente simbólico e sagrado, o primeiro templo de Jerusalém fora construído durante o reinado de Salomão, filho de Davi (970 aprox. a 931 a.C.).

Após sucessivos saques, depredações, restaurações e reconstruções – como por ocasião da tomada de Jerusalém sob Nabucodonosor, rei da Babilônia, entre 587 e 586 a.C. (Cf. Jr 42-43); e a invasão e saque da cidade santa, ao comando de Antíoco Epífanes, descritos no Livro dos Macabeus (2Mc 5,15ss) – o Templo de Jerusalém foi por última vez reerguido entre 20 e 19 a.C. por Herodes Magno. Foram os átrios deste templo que puderam presenciar acontecimentos como a apresentação e circuncisão do Menino Jesus, bem como sua perda e encontro aos doze anos.

Por fim, a ruína completa e definitiva se deu na queda de Jerusalém do ano 70 de nossa era, quando o santuário foi completamente incendiado. Assim se cumpria o que fora predito por Nosso Senhor Jesus Cristo: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra” (Lc 21, 6).

Um Templo muito superior: o claustro de Maria

No Antigo Testamento, o Senhor escolhera uma edificação material para habitar, no entanto, essa não era senão prefigura de uma morada muito mais esplendorosa, santa e perfeita que o próprio Deus construiria para Si.

Muitos artistas tentaram retratar este fato incomparável descrito no Evangelho (Lc 1, 26-38) deste IV Domingo do Advento. Dentre eles, o Beato Fra Angélico soube reconstituir, pela pintura, a bendita cena da Anunciação com autêntica piedade e singular genialidade.

Nossa Senhora numa casa pequena, modesta, limpíssima e posta em inteira ordem. Em certo lugar, no chão, um vaso ingênuo no qual florescem lírios brancos. Ela, sob pequenas e simples arcadas, sentada num banquinho, tendo ao colo um livro para meditação.

A arte não vai além disso. Mas onde ela não chega, podemos nós chegar por suposições à luz da Fé.

Paz em volta, Ela está lá e diante de seu olhar um Anjo. É o fato extraordinário que se deu naquela ocasião. Ela não estava pensando nisso, Ela não pensava nunca que pudesse aparecer um Anjo naquela hora, e muito menos que ele lhe faria um anúncio.

Havia quatro mil anos, talvez mais, em que a humanidade esperava Aquele que deveria vir, que seria o centro de tudo e em função do qual tudo se reestruturaria.

E uma Virgem pura, concebida sem pecado original expressamente para uma missão, sabendo que a única solução para seu povo – que se encontrava em tremenda decadência – era a vinda do Messias, o Redentor do gênero humano, meditava, lia as Escrituras e pensava a respeito d’Ele.

Levada pelo desejo de que o Messias nascesse o quanto antes, ela compunha a figura d’Ele em seu coração, com base nas Escrituras e em virtude de seu amor a Deus. Quando, pois, o último traço fora conferido a essa imagem do Messias, na paz de sua meditação, aparece um Anjo que lhe diz: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo…”

E diante da inefável notícia trazida pelo Arcanjo Gabriel, podemos imaginar o humilíssimo espanto d’Ela. “Tu serás Mãe do Messias! – é o que anuncia o mensageiro celeste; e mais ainda: o pai deste menino será o Espírito Santo, que engendrará em ti o Filho que há de nascer”.

Pelo Fiat de Maria Santíssima, “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14), e habitou no seio da Rainha dos Céus.

Pobre Templo de Jerusalém, pobres são seu ouro, seu bronze e suas pedras diante daquele Templo que o Senhor, Ele próprio, edificou para Si.

“A Santíssima Virgem Maria é, portanto, a casa de Deus. Se, como diz o Apóstolo, ‘Os que vivem castamente são o templo de Deus’, a Virgem, a castíssima Mãe de Deus poderia não o ser? Sim, Ela o é, e jamais possuiu Deus moradia mais nobre e mais digna de Si. Por isso, diz São Gregório: ‘Salve, templo vivo da Divindade! Salve, casa equivalente ao Céu e à Terra! Salve, templo digno de Deus’”[1].

Em poucos dias celebraremos o augusto mistério do nascimento de Nosso Senhor.

Ele, ao deixar miraculosamente o claustro santíssimo de Maria sem ofender sua virgindade, foi posto numa humilde manjedoura.

Não será que neste Natal o Menino Jesus não deseja também nascer e ser posto nas pobres manjedouras de nossos corações?

Peçamos, pois, à Sua augustíssima Mãe que prepare em nós um coração semelhante ao d’Ela, imaculado e perfeitíssimo, para que possamos também nós, sermos morada de Jesus Cristo pela graça. Com Nossa Senhora, o Templo de Deus, seremos capazes de acolher dignamente o Divino Infante que, misticamente, vem a nós neste 25 de dezembro; e, com seu auxílio e intercessão materna, poderemos ter a certeza de estar celebrando um feliz e santo Natal.

Por: Afonso Costa


[1] JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie, Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III, p. 247-248

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