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Leão XIV recebe monarcas britânicos: primeira oração juntos desde a Reforma

Um dia histórico nas relações entre a Igreja Católica e a monarquia britânica. O Rei Charles III fez uma visita oficial ao Vaticano e, pela primeira vez desde a Reforma, uniu-se ao Papa em oração.

Foto: Vatican News/ Vatican Media

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Redação (23/10/2025 11:13, Gaudium Press) Na manhã desta quinta-feira, pouco antes da oração ecumênica, os monarcas britânicos, realizaram seu primeiro encontro oficial com o Sumo Pontífice, Papa Leão XIV. Por volta das 10h50, foram recebidos com as devidas honras no Pátio de São Dâmaso, no Palácio Apostólico, conforme o protocolo para as visitas de Estado.

Após a execução do hino britânico God Save the King pela banda do Corpo da Gendarmeria Vaticana, com a Guarda Suíça devidamente formada, o Rei Carlos III e a Rainha Camilla, trajada de preto com véu, ingressaram no Palácio Apostólico, sendo acolhidos pelo Santo Padre na biblioteca do Palácio Apostólico.

Foto: The Royal Family/Facebook

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Em seguida, o Rei Charles dirigiu-se à Secretaria de Estado para as tradicionais audiências com o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, acompanhado por Mons. Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados, súdito de Sua Majestade por sua nacionalidade britânica, natural de Liverpool. A rainha, paralelamente, visitou a Capela Paulina no coração do Palácio Apostólico, a poucos passos da Capela Sistina.

 

Oração ecumênica

Após a audiência realizada no Palácio Apostólico, o Papa Leão XIV e os monarcas ingleses reuniram-se para uma oração ecumênica na Capela Sistina. A eles juntou-se o Reverendíssimo Stephen Cottrell, 98º Arcebispo de York e Primaz da Inglaterra, segundo bispo mais graduado da Igreja da Inglaterra.

Foto: Vatican News/ Vatican Media

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O Santo Padre e o Arcebispo conduziram uma oração do meio-dia, composta por salmos e uma leitura do Evangelho. A Capela Sistina, adornada pelos afrescos de Michelangelo, acolheu diversos convidados ecumênicos, incluindo o Arcebispo de Westminster e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Inglaterra e País de Gales, Cardeal Vincent Nichols, e o Arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, Leo Cushley, representando o episcopado escocês.

Esta visita representou um marco histórico nas relações anglicano-católicas, um evento sem precedentes em 500 anos. Dois temas centrais guiaram a jornada: a promoção da unidade cristã e o compromisso com a preservação do meio ambiente.

Além disso, oração ecumênica, realizada em latim e inglês, fortaleceu as boas relações entre o Vaticano e o Reino Unido. Ela também atendeu a um desejo do rei Charles, que, como Governador Supremo da Igreja da Inglaterra, há muito tempo está comprometido com o diálogo inter-religioso.

A oração começou com um símbolo importante: o hino ao Espírito Santo composto por Santo Ambrósio de Milão no século IV, cantado segundo uma tradução para o inglês de São John Henry Newman, anglicano convertido ao catolicismo, que será proclamado doutor da Igreja em 1º de novembro.

Outro marcante sinal de comunhão foi a participação das crianças do coro da Capela Real do Palácio de St. James, em Londres, e do coro adulto da Capela de St. George, no Castelo de Windsor, convidados por Charles e Camilla, ao lado do prestigiado Coro da Capela Musical Pontifícia Sistina. A celebração prosseguiu com a recitação do Salmo 8, seguida do Salmo 64, e culminou com a leitura em inglês da Carta aos Romanos, centrada no tema da esperança. O fio condutor dos cânticos e da liturgia selecionada é o louvor à majestade de Deus Criador.

O Papa e o Arcebispo Cottrell rezaram juntos uma oração a Deus Criador: “a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, estejam conosco para sempre”.

 Ao final da liturgia, realizou-se um encontro com aqueles envolvidos na proteção da casa comum na Sala Real do Palácio Apostólico. Representantes da Cúria, empresários, o Movimento Laudato si’ e especialistas das Nações Unidas estiveram presentes neste encontro, relacionado com o décimo aniversário da Laudato si’ e refletindo o compromisso do rei com a proteção do meio ambiente.

Simbólico é o intercâmbio de dois exemplares idênticos de Cymbidium, da família das orquídeas, entre o Pontífice e o monarca. Essa troca expressa um compromisso comum com a proteção do meio ambiente e o cuidado da criação de Deus.

Foto: The Royal Family/Facebook

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Charles “confrade real”

À tarde, a Família Real Britânica visitou a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, que, juntamente com a Abadia Beneditina anexa, mantém profundos laços históricos com a Coroa da Inglaterra. Em reconhecimento aos vínculos históricos e aos significativos avanços no caminho da reconciliação entre a Igreja de Roma e a Igreja da Inglaterra, o arcipreste da Basílica, Cardeal James Michael Harvey, e o abade da comunidade monástica, Dom Donato Ogliari, com a aprovação do Papa Leão XIV, concederam a Sua Majestade, o Rei Charles III, o título honorífico de Confrade Real de São Paulo. O cardeal explicou que esse título é um sinal de “esperança”, e um gesto de boas-vindas não apenas a um soberano, mas a um “irmão”.

 Para a ocasião, foi especialmente criada uma cadeira adornada com o brasão do Rei Charles III e a inscrição em latim Ut unum sint – “Que sejam um”, extraída do capítulo 17 do Evangelho de São João. A cadeira permanecerá na abside da Basílica e será usado no futuro pelo próprio rei e seus herdeiros e sucessores.

Em consonância com o tema da visita real, o cardeal também rezou pela Criação, para que seu “clamor” seja ouvido e protegido em benefício das gerações futuras.

Antes da oração final, foi executado o moteto Exultate Deo, de Giovanni Pierluigi da Palestrina, em homenagem ao 500º aniversário do nascimento do compositor, comemorado este ano. A celebração foi encerrada com o hino Praise to the Holiest in the Height, cujo texto foi retirado do poema de São John Henry Newman, The Dream of Gerontius.

No final da cerimônia, foi tocado o primeiro movimento da Sonata para Órgão em Sol maior, de Edward Elgar. Elgar, que era católico, serviu como Mestre da Música do Rei de 1924 a 1934. Em seguida, a família real fez uma breve visita privada à monumental biblioteca da abadia anexa à basílica. 

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