Gaudium news > Leão XIV e a próxima encíclica

Leão XIV e a próxima encíclica

Será uma encíclica social ou espiritual? As duas não são mutuamente exclusivas, e uma pode ser vinculada à outra. Muito dependerá, no entanto, da estrutura precisa que Leão dará ao documento e da maneira como ele apresentará suas prioridades.

Foto: Vatican news/ Vatican media

Foto: Vatican news/ Vatican media

Redação (16/07/2025 16:53, Gaudium Press) Em entrevista ao jornal italiano Il Messaggero, o Padre Alejandro Moral, superior dos agostinianos, divulgou, na semana passada, que Leão XIV está trabalhando na estrutura de sua primeira encíclica. A grande questão é saber se o Papa seguirá a inspiração que lhe vem do nome e, portanto, dedicará a primeira encíclica de seu pontificado a questões sociais, ou seguirá a linha de suas primeiras palavras no início de seu pontificado, quando estabeleceu com veemência a necessidade de desaparecer para dar lugar a Cristo.

Em suma: será uma encíclica social ou espiritual? As duas não são mutuamente exclusivas, e uma pode ser vinculada à outra. Muito dependerá, no entanto, da estrutura precisa que Leão dará ao documento e da maneira como ele apresentará suas prioridades.

Os dois primeiros meses do pontificado de Leão XIV nos ensinaram que alguns dos processos iniciados pelo Papa Francisco são irreversíveis. Eles podem ser redesenhados, mas não revertidos. E um desses processos é seu foco em questões ambientais.

Laudato Si’

Ora, o Papa Francisco não inventou nada de novo com seu foco no cuidado responsável pela criação. A Igreja sempre se preocupou com isso. Bento XVI, aliás, foi apelidado de “Papa verde” pela mídia católica e secular devido à sua atenção às questões ecológicas. O trabalho teológico já estava feito quando Francisco decidiu dar um impulso pastoral à questão.

O Papa Francisco levou a atenção ecológica da Igreja a outro nível. Tanto a encíclica Laudato Si’ quanto a exortação Laudate Deum foram baseadas em uma série de dados, números e cifras de agências das Nações Unidas. Na prática, o Papa Francisco vinculou a preocupação ecológica a questões políticas e multilaterais. A Laudato Si’, sendo uma encíclica, incluiu uma estrutura necessária de doutrina social. Porém, as passagens mais citadas em fóruns internacionais foram precisamente aquelas que confirmavam as posições dominantes, enquanto as posições da ecologia integral foram minimizadas.

Por exemplo, poucos se lembram que a Laudato Si’ inclui uma defesa da vida desde a concepção até a morte natural, que ataca a cultura do descarte também em termos de descarte de vidas humanas e que adota uma abordagem de ecologia integral que coloca o ser humano no centro. A Laudate Deum, como exortação, foi apresentada como uma atualização de dados científicos, o que era normal, pois as Nações Unidas sempre atualizam esses mesmos dados. Mas era justamente esse o ponto: poderia um documento papal estar vinculado apenas a dados contingentes?

Afinal, não se tratou de um documento que respondesse a uma situação grave com uma forte estrutura teórica (pense na encíclica de Pio XI contra o nazismo, “Mit Brennender Sorge“, ou nas mensagens de rádio de Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial). Em vez disso, foi um documento que adotou o ponto de vista de organizações internacionais, que raramente associam o problema ecológico aos seres humanos. Na verdade, os seres humanos são frequentemente considerados o problema.

Entretanto, doze anos de pontificado criaram um movimento ecológico que, por vezes, parece abraçar o ambientalismo sem restrições e divorciado da essência humana que Francisco, em última análise, buscava conferir a este, abordando apenas as questões mais políticas e midiáticas. E, entre as iniciativas ligadas a esse ambientalismo, está uma Missa especial pela Proteção da Criação.

Leão XIV e a missa com o novo formulário “Pela Proteção da Criação”

Leão XIV manteve esse processo, aprovou-o e celebrou a primeira missa privada com essa formulação especial no Borgo Laudato Si’, em Castel Gandolfo. Em sua homilia, ele disse que “Deus nos deu a criação como um dom a ser protegido, não como uma presa a ser explorada”. Em seguida, fez um apelo à conversão daqueles que não reconhecem o problema ecológico.

O Papa também lembrou o compromisso dos cristãos para com o cuidado da criação. “Quando contemplamos a beleza da Terra, compreendemos que Deus a criou não por necessidade, mas por amor. A criação nasce da sua bondade transbordante, e cada criatura traz em si um reflexo da sua glória”, ressaltou o Papa.

E acrescentou: “Hoje, porém, essa glória é ferida por nossas escolhas irresponsáveis. A criação sofre e geme, como diz São Paulo, e as pessoas em situação de pobreza sofrem com ela. Não podemos mais ignorar o clamor da terra e o clamor dos pobres, porque são um único clamor que se eleva a Deus.”

Enfim, a homilia do Papa não deixou de lado o Papa Francisco, e houve muitas referências à Laudato Si’ em seu décimo aniversário. No entanto, ele também deu ênfase especial à questão da criação, em vez do ato da criação em si. Leão XIV teve uma abordagem cautelosa a essas questões: ele não rompeu com o pontificado de Francisco, mas reconectou-se com uma corrente profunda do pensamento católico. Ele rompeu com a ideia de que o pontificado do Papa Francisco foi uma ruptura.

A questão, então, é esta: a revolução ecológica do Papa Francisco é um processo irreversível? Leão XIV não parece disposto a recuar na questão, mas também buscou renovar seu foco especificamente católico e antropológico. Deve-se notar também que o formulário da missa foi usado em uma celebração privada, e não se sabe se essa celebração será repetida em público.

A maneira como Leão XIV articula sua primeira encíclica será, portanto, muito reveladora. Após dois meses, seu pontificado ainda é um equilíbrio entre elementos de continuidade e descontinuidade. Não é um pontificado de restauração, embora ele esteja restaurando muitas coisas. Não é um pontificado de ruptura com seu antecessor, mas ele se reconectou com a tradição.

Alguns processos já em andamento permanecerão inalterados, mas resta saber como serão redefinidos, redesenhados e reinterpretados por Leão XIV. Sua primeira encíclica será um sinal claro nesse sentido.

Por Andrea Gagliarducci

Originalmente publicado em MondayVatican, 14 de julho de 2025. 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas