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La Valette, um homem providencial

Defendendo heroicamente a Ilha de Malta diante da investida dos turcos, no século XVI, João de La Valette salvou a Europa da dominação muçulmana.

Foto: Wikipedia

Fotos: Wikipedia

Redação (27/09/2025 10:49, Gaudium Press) Procedente de uma família nobre, João de La Valette nasceu numa cidade do Sul da França, em 1494. Desejoso de lutar pela Santa Igreja e Civilização Cristã, aos vinte anos ingressou na Ordem de Cavalaria São João de Jerusalém, conhecida como Hospitalários, na Ilha de Rodes – próxima à Turquia.

Em 1522, o sultão Solimão, o magnífico, enviou 300 navios com 100.000 homens para conquistarem Rodes. Os cavaleiros hospitalários a defenderam com galhardia e, após cinco meses de cerco, houve um acordo entre o Grão-Mestre dos cavaleiros e Solimão, autorizando os hospitalários a deixar Rodes e se instalarem na Ilha de Malta, situada no Mar Mediterrâneo ao Sul da Itália.

Ao tomar conhecimento do heroísmo dos cavaleiros hospitalários, Solimão lhes concedeu a liberdade.  Navegando pelos mares, La Valette foi ferido gravemente por corsários, que o escravizaram obrigando-o a remar nas galés, durante um ano.

O poderio turco cresceu após a traiçoeira aliança do Rei de França, Francisco I, com os otomanos. Lançaram-se contra o Imperador Carlos V e, depois, contra os Habsburgo, Casa soberana da Europa da qual provieram todos os Imperadores do Sacro Império romano alemão, entre 1452 e 1740.

A respeito da Turquia do século XV, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:

Ela “passou a ser a nação líder do maometanismo na Europa, com um poder enorme no Mediterrâneo, uma marinha de primeira ordem, uma posição-chave muito importante na passagem do Bósforo e, portanto, no comércio com todo o litoral do Sul da Rússia.

“Por outro lado, ela era senhora do Norte da África e até mesmo de uma boa parte dos Bálcãs”.[1]

Grande epopeia iniciada aos 70 anos de idade

500px Jean de Valette Antoine Favray cropped1A grande epopeia de La Valette iniciou-se quando tinha 70 anos de idade: a defesa da Ilha de Malta,

Em maio de 1565, o sultão Solimão enviou 159 navios e 30.000 combatentes, sob as ordens de Mustafá, visando conquistar Malta. Esta, comandada pelo heroico La Valette, possuía apenas 8.000 homens dos quais somente 500 eram cavaleiros; o restante se compunha de burgueses e camponeses habitantes da ilha.

O Rei da Espanha Felipe II ordenou ao Vice-Rei da Sicília – a qual estava subordinada à Espanha – a defesa de Malta. Mas esse socorro não aparecia. Abandonado às suas próprias forças e com mil problemas que devia resolver, La Valette sempre conservou a serenidade de espírito, característica da alma que ruma para a santidade.

Homem de Fé, ele convocou todos seus irmãos cavaleiros a renovarem seus votos, o que foi feito numa igreja logo após terem recebido a Sagrada Eucaristia.

Em fins de maio de 1565, os turcos chegaram à Malta e atacaram o Forte de Saint-Elme. Os católicos o defenderam com brilho, matando 8.000 muçulmanos; entre os nossos 1.500 perderam a vida.

La Valette ordenou uma procissão geral para implorar a intervenção de Deus. Os cavaleiros, com sua túnica negra e cruz branca, seguidos pela população inteira, caminharam rezando em torno de uma das cidades fortificadas existentes na Ilha.

Chegando na igreja, os cavaleiros se prosternaram e “imploraram solenemente ao Deus dos Exércitos por seus irmãos de Saint-Elme e pelo triunfo da Cruz”.[2]

1170px Levee du Siege de Malte by Charles Philippe Lariviere 1798 1876 cropped

Baía de São Paulo, onde o Apóstolo naufragou

A coragem dos cavaleiros incendiou os corações de todos os malteses. Marinheiros, burgueses e camponeses se integraram à luta, meninos utilizavam fundas para atingir os inimigos, mulheres lançavam óleo fervente sobre eles.

Mas, como as batalhas contra os turcos invasores eram constantes, os malteses se encontravam exaustos. Só a Fé e fortaleza de La Valette os mantinha vivos.

Por fim, em 7 de setembro – véspera da festa no Nascimento de Maria Santíssima – chegaram à Malta 10.000 soldados da Sicília, sob o comando de Dom García Álvarez de Toledo.

Isso causou nos malteses muita alegria e esperança, enquanto que os assaltantes estremeceram de pavor.

Mustafá já ordenara a retirada de seu exército, quando um integrante do mesmo veio lhe dizer que o número dos soldados provindos da Sicília era de 6.000, os quais estavam famintos a ponto de não poderem se manter em pé.

Confiando nessa errônea informação, o chefe turco mandou 10.000 soldados desembarcarem de galés para reforçar o ataque à Malta, na madrugada de 11 de setembro.

E La Valette, favorecido pelo dom do discernimento concedido por Deus, ordenou a seus homens que, antes do raiar do dia, se dispusessem num terreno elevado.

Com o auxílio de Nossa Senhora, os defensores da Fé avançaram, atingindo uma posição vantajosa no alto de uma colina, e ali cravaram seus estandartes. Iniciou-se, então, uma batalha acirrada!

A decisão de Mustafá de atacar mostrava-se agora um terrível erro de julgamento. A força católica era maior do que o traidor havia afirmado e seus componentes estavam mais descansados do que os muçulmanos, os quais já batalhavam por quatro meses.

Os otomanos começaram a fraquejar. E os malteses arremessaram contra os inimigos de Deus com tal força de impacto que eles fugiram em debandada.

Os últimos momentos da guerra de Malta transcorreram nas margens da Baía de São Paulo, local do naufrágio do Apóstolo, de grande significado religioso para os malteses e toda a Igreja. 30.000 turcos otomanos pereceram em combate.[3]  Dos 8.000 guerreiros de Malta, apenas 600 continuavam em condições de portar armas, e a metade dos cavaleiros hospitalários havia perecido.

Em sua “Oração abrasada”, São Luís Maria Grignion de Montfort faz referência aos turcos. Diz ele que Deus ateará em toda a Terra um dilúvio de fogo de puro amor, de um modo tão suave e tão veemente, que os turcos e os próprios judeus hão de arder nele e converter-se.[4]

Peçamos a Nossa Senhora que apresse a vinda desse dilúvio.

 Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Desígnios de Deus quanto às nações. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XXI, n. 241 (abril 2018), p. 23.

[2] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1884, v. 34, p. 497.

[3] Cf. MERRIMAN, Roger Bigelow.  Suleiman the Magnificent, 1520-1566, Cambridge, Harvard University ,1944, 348 p.

[4] Cf. Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes. 8. ed. 1974, p. 307.

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