João Batista, a Festa Junina e o homem antipático: uma questão de enfoque
Todos os anos, no Brasil, celebra-se a Festa Junina com grande alegria. Entretanto, muitas vezes nos esquecemos do seu verdadeiro significado: o religioso. Neste ano, em que as comemorações não poderão ser feitas como de costume, surge a oportunidade de meditar sobre esse aspecto essencial da festa.
Redação (24/06/2020 09:00, Gaudium Press) Para a Festa de São João deste ano, decidiu-se mudar o figurino: o consagrado chapéu de palha transformou-se em máscara de proteção; as alegres bandeirolas tornaram-se cartazes, segurados por manifestantes que parecem não saber bem quais são os princípios que estão “defendendo”; o brilho dos fogos de artifício foi substituído pelo bombardeio dos noticiários que não param de se contradizer a si mesmos; a dança mudou-se em espera; a cantoria deu lugar ao silêncio. Nunca o Brasil passou por um mês de junho tão silencioso.
Mas a quietude tem um papel importante na vida: ela propicia a meditação. Quem sabe se não há outro modo de se comemorar a Festa Junina? Afinal, o que é que se comemora na Festa Junina?
Neste mês, o mundo celebra um aniversário. Comemoramos o nascimento de São João Batista. Ora, quando se organiza uma festa de aniversário, busca-se, antes de tudo, agradar ao aniversariante, nada mais óbvio. Contudo, para agradar a alguém, é preciso conhecê-lo. Será que todos realmente conhecem São João Batista?
Eu, pelo menos, pensava que conhecia. Mas, quando comecei a ler um pouco mais a respeito dele, vi que estava bem enganado.
Nascimento de São João Batista
São João nasceu num contexto interessante. Seu pai, Zacarias, e sua mãe, Isabel, já idosos, não podiam ter filhos.
Um dia, Zacarias, que era sacerdote, encontrava-se no interior do Templo para oferecer o incenso. Na parte externa, esperava, reunida em oração, uma multidão – não havia distância social na época… Enquanto o ancião rezava, apareceu-lhe São Gabriel e anunciou-lhe que sua esposa iria ter um filho. Por ter duvidado, Zacarias foi castigado: quando saiu do Santuário, já não podia exortar os fiéis: estava mudo.
Não quero falar mal de Zacarias, a própria Escritura afirma que ele era justo. Mas todos esses fatos parecem-me muito simbólicos: de um lado, o povo reza e espera; de outro, o sacerdote duvida, e pelo fato de não ter fé, fica mudo. Quem irá guiar os fiéis se o sacerdote já não fala? É, nesse momento trágico, que o Anjo anuncia: nascerá a “Voz” (Cf. Jo 1,23). Deus não se cala jamais.
São João Batista: antipático?
Continuei minha leitura.
Para ser sincero, São João, mesmo em relação à sociedade no tempo dele, era, no mínimo, um homem excêntrico, para não dizer antipático.
São João vestia-se com pele de camelo: roupa quente, incômoda, completamente fora de moda. Mas, pelo menos, estava caracterizado: aquele era o traje do representante de Deus. Todos podiam reconhecê-lo pela vestimenta, e o Batista não se disfarçava.
São João comia pouco, não bebia vinho nem licor: era um homem comedido, que não vivia se lançando em prazeres desenfreados. Era íntegro, coerente com seus princípios.
São João falava as verdades que ninguém queria ouvir. Aos que o procuravam, ele costumava receber com as palavras: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira iminente?” (Lc 3,7) Ele não tinha receio de apertar as consciências.
Esta era sua missão: “Dar testemunho da Luz”. São João dizia as coisas claras. Nas suas palavras, nada era tortuoso, confuso ou ambíguo. Ele sabia que o caminho que leva ao Céu é reto, e bem apertado (cf. Mt 7,14).
Enfim, São João tinha tudo para ser detestado, e, de fato, o era. Aqueles que não queriam mudar de vida odiavam-no. Os fariseus só não o mataram porque o povo o tinha em conta de profeta. Mas o que os mestres da lei não puderam realizar, Herodes o fez. A integridade do Batista custou-lhe a vida.
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Embora nossas festas não estejam muito de acordo com o feitio do aniversariante, não vou condená-las aqui. Meu único objetivo é pôr o foco onde deve estar: em Deus, nos Mandamentos, na Fé. Talvez nosso “antipático” celebrado tenha querido essa Festa Junina silenciosa para nos recordar disso.
Por Otto Pereira
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