“Jesus é uma pessoa ou um personagem?”, questiona Cardeal Cantalamessa
O pregador da Casa Pontifícia lamentou que para muitos cristãos Jesus seja um personagem, ao invés de uma pessoa.
Cidade do Vaticano (26/03/2021 12:15, Gaudium Press) Na manhã desta sexta-feira, 26 de março, o pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, conduziu a quarta e última pregação da Quaresma seguindo o tema “Jesus de Nazaré: uma pessoa”.
Logo no início da meditação, o frei capuchinho explicou que a proposta para este encontro era se aprofundar na ideia de que “Jesus de Nazaré está vivo! Não é uma memória do passado; não é apenas um personagem, mas uma pessoa. Vive ‘segundo o Espírito’, certo, mas este é um modo de viver mais forte do que aquele ‘segundo a carne’, porque lhe permite viver dentro de nós, não fora, ou ao lado”.
Segundo o religioso, foi Tertuliano quem utilizou pela primeira vez a fórmula “uma pessoa” aplicada a Cristo. Entretanto, foram necessários dois séculos de reflexão para entender o seu significado e como poderia se conciliar com as duas naturezas de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
A pessoa de Cristo
O pregador da Casa Pontifícia ressaltou que em nossos dias, há os que negam que Cristo seja uma pessoa “divina”, preferindo dizer que é uma pessoa “humana” na qual Deus habita, ou opera, de modo único e excelso, mas ninguém nega que Cristo seja “uma pessoa”.
Ele salienta ainda que o mais importante a respeito do dogma de Cristo ‘uma pessoa’, “não é tanto o adjetivo ‘uma’, mas o substantivo ‘pessoa’. Não tanto o fato de que seja ‘um e idêntico em si mesmo’, mas que seja ‘pessoa’”.
Ele justifica essa afirmação frisando que “isto significa descobrir e proclamar que Jesus Cristo não é uma ideia, um problema histórico. Nem mesmo apenas um personagem, mas uma pessoa e uma pessoa viva! Isto, de fato, é o que falta e do que temos extrema necessidade, para não deixar que o cristianismo se reduza a ideologia, ou simplesmente a teologia”.
“Pessoa”, em Deus, significa relação
Em seguida tratou do conceito de pessoa no âmbito da Trindade. Para isso, utilizou os exemplos de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, que chegaram à conclusão de que “pessoa”, em Deus, significa relação. “O Pai é tal pela sua relação com Filho. Todo o seu ser consiste nesta relação, como o Filho é tal pela sua relação com o Pai.”
Cantalamessa frisou que isto vale de modo eminente para as pessoas divinas da Trindade, mas também vale para cada pessoa no âmbito criado. “Não se conhece a pessoa na sua realidade, a não ser entrando em “relação” com ela. Eis porque não se pode conhecer Jesus como pessoa, a não ser entrando em uma relação pessoal. Nós não podemos nos contentar em crer na fórmula “uma pessoa”; devemos alcançar a própria pessoa e, mediante a fé e a oração, “tocá-la”, salientou.
Para mim, Jesus é uma pessoa, ou somente um personagem?
Frei Cantalamessa interpelou os participantes da meditação propondo que cada um perguntasse a si mesmo “para mim, Jesus é uma pessoa, ou somente um personagem?”. Em seguida explicou a diferença: “O personagem – tipo Júlio César, Leonardo da Vinci, Napoleão – é alguém de quem se pode falar e escrever o quanto queira, mas com o qual é impossível falar”.
O religioso lamentou que para muitos cristãos Jesus seja um personagem, ao invés de uma pessoa. E alertou que “se permanecermos no plano da Fé objetiva, sem desenvolver uma relação existencial com ele, ele permanece externo a nós, toca-nos a mente, mas não aquece o coração. Permanece, apesar de tudo, no passado; entre nós e ele se interpõem, inconscientemente, vinte séculos de distância”.
Concluindo sua meditação, o Cardeal Raniero Cantalamessa recordou que “daqui a uma semana será Sexta-feira Santa e, logo depois, Domingo da Ressurreição. Ressurgindo, Jesus não voltou à vida de antes como Lázaro, mas a uma vida melhor, livre de todo afã. Esperemos que seja assim também para nós. Que do sepulcro em que a pandemia nos manteve encerrados por um ano, o mundo – como nos repete continuamente o Santo Padre – saia melhor, não o mesmo de antes”. (EPC)
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