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Irlanda: líder unionista acusa Carlos III de trair o juramento protestante por rezar com o Papa

Trata-se do Reverendo Kyle Paisley, filho do líder do Partido Unionista Ian Paisley. Certos líderes protestantes solicitaram a abdicação do rei.

Foto: Vatican News/ Facebook

Foto: Vatican News/ Facebook

Redação (25/10/2025 08:41, Gaudium Press) O Reverendo Kyle Paisley, filho de Ian Paisley, fundador radical do Partido Unionista Democrático (que defende o Protestantismo e a união da Irlanda do Norte com o Reino Unido), acusou o Rei Carlos III de trair seu juramento protestante ao rezar com o Papa Leão XIV no Vaticano. Ele acredita que o monarca comprometeu a fé reformada e pede sua substituição. Outros líderes protestantes também criticaram o ato ecumênico.

De acordo com Paisley, Carlos III agiu de forma contrária ao juramento que fez em sua coroação e deve agora “deixar que outra pessoa ocupe seu lugar, alguém que seja um verdadeiro protestante e leve seus votos a sério”, declarou o ministro presbiteriano livre da Irlanda do Norte depois que o monarca rezou com o Papa Leão XIV na quinta-feira na Capela Sistina do Vaticano.

Paisley fez essas declarações em uma carta enviada a vários jornais da Irlanda do Norte e, posteriormente, em uma entrevista na BBC Radio e em outras mídias.

Durante o ato de oração na Capela Sistina, o rei Charles, que detém o título de governante supremo da Igreja da Inglaterra, acompanhado pela rainha Camilla, sentou-se à esquerda do papa, enquanto este e o arcebispo anglicano Stephen Cottrell conduziam as orações.

O encontro histórico e o ato de oração também foram lamentados publicamente pela Ordem Orange, uma fraternidade protestante internacional com sede na Irlanda do Norte e associada principalmente aos protestantes de Ulster. O grupo chamou as orações ecumênicas de “um dia triste para o protestantismo”, expressando sua “profunda tristeza” e objeções “nos termos mais fortes possíveis”.

Paisley questionou se a oração histórica em Roma foi um ato de “oportunismo cínico”, coincidindo com o 500º aniversário da impressão do Novo Testamento em inglês por William Tyndale, algo que, segundo ele, ainda deixa o papado “lambendo suas feridas”.

“Em sua coroação, o rei afirmou ser um verdadeiro protestante e prometeu defender a religião da Igreja estabelecida na Inglaterra, bem como a da Igreja da Escócia, que é historicamente protestante”, declarou Paisley. “Nosso rei negou o Evangelho cristão, desprezou as Escrituras Sagradas, traiu seu juramento e demonstrou que não é de forma alguma o que afirma ser – um verdadeiro protestante.” Ele acrescentou:

“O protestantismo considera a Bíblia como a única regra de fé e prática. O romanismo não o faz. Sua regra de fé e prática são as Escrituras conforme interpretadas pela Igreja – isto é, a Igreja Católica Romana – e a tradição. Isso, de fato, torna a Igreja a regra de fé e prática. A palavra de Deus sozinha não basta para ela”.

Wallace Thompson, da Evangelical Protestant Society of Northern Ireland (Sociedade Evangélica Protestante da Irlanda do Norte), concordou com Paisley, embora não tenha pedido a abdicação do rei. Ele declarou à BBC:

“Os problemas que existiam na época da Reforma ainda existem: profundas diferenças doutrinárias. As duas igrejas estão tão distantes que não se deve considerar apropriado fazer orações conjuntas – conversas, sim. Esse ato é simbólico. O rei assume certos valores em sua coroação para manter a religião protestante reformada estabelecida por lei no Reino Unido. Agora ele está enviando um sinal de que, no fundo, ele realmente não quer fazer isso.

O comparecimento ao funeral da Duquesa de Kent também foi criticado

Paisley também criticou a presença do Rei Charles e de outros membros da família real britânica no recente funeral da Duquesa de Kent, que era católica.

Redobrando suas críticas, Paisley publicou uma declaração nas mídias sociais antes da oração na Capela Sistina:

“É uma autêntica vergonha que nenhum parlamentar cristão evangélico ou membro da Câmara dos Lordes tenha se manifestado publicamente sobre a violação flagrante do juramento do rei, evidenciada pelo ato de culto planejado em conjunto com o papa.”

“A cadeira na Basílica de São Paulo, com o emblema do rei, não é meramente um ornamento vazio, mas está lá para ele usar em qualquer ocasião que visite”, disse ele, referindo-se à nomeação de Carlos III como Confrade Real da Basílica de São Paulo Fora dos Muros.

Vendo nesse gesto o objetivo a longo prazo de Roma de reverter completamente a Reforma, Paisley disse:

“A besta mortal tem lambido suas feridas infligidas pela Reforma e agora vê seu caminho para sua cura completa, com a ajuda e o apoio de um rei que não é fiel à sua palavra, de um governo britânico, de um Ministério das Relações Exteriores e de um primeiro-ministro britânico que são tão ímpios quanto podem ser”.

O pai de Paisley, o falecido Reverendo Ian Paisley  – o político evangélico protestante fundamentalista  – era virulentamente anticatólico. Em 1959, após a visita da Rainha Mãe (avó do Rei Charles) e da Princesa Margaret (sua tia) ao Papa João XXIII em Roma, ele as acusou de “fornicação e adultério com o anticristo”.

Após a morte de João XXIII, o ancião Paisley proclamou: “Esse homem romano do pecado está agora no inferno”.

Em 1988, Ian Paisley foi fisicamente expulso do Parlamento Europeu por gritar “Eu te denuncio, anticristo!” contra o Papa João Paulo II durante sua visita oficial. O Papa observou-o calmamente enquanto o irlandês do norte era retirado do local.

Apesar de ter opiniões semelhantes sobre a fé católica, Kyle Paisley expressou, após a morte do Papa Francisco, sua simpatia pelos “católicos romanos devotos que o consideravam o chefe de sua Igreja e o guia de sua fé”.

O rei Carlos III se reuniu com os três últimos papas, especialmente com Francisco, pouco antes de sua morte em abril.

Os papas João Paulo II e Bento XVI viajaram para o Reino Unido, mas seus encontros com membros da família real não incluíram orações conjuntas.

O príncipe William, herdeiro do trono, compareceu ao funeral do Papa Francisco, e o príncipe Edward, irmão do rei, esteve presente na missa que inaugurou o pontificado do Papa Leão em maio.

Com informações CNA/ Infocatolica

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