Intolerância militante contra o mal
A Renascença, que deu origem à Revolução gnóstica e igualitária, foi vitoriosa porque os bons não tiveram uma intolerância indignada e militante contra o mal.
Redação (12/06/2024 10:07, Gaudium Press) Apresentamos uma visão global do processo revolucionário então iniciado.
Em determinado momento, ocorreu um pecado imenso – praticado provavelmente por um homem de altíssima vocação –, o qual teve como resultado o relaxamento dos costumes, que provocou uma explosão de orgulho e sensualidade.
Essa explosão minou as estruturas eclesiásticas, fazendo com que, em alguns países, arrebentasse o protestantismo; depois, a estrutura temporal, política, de onde decorreu a Revolução Francesa. Mais tarde solapou a ordem econômica e social dando origem ao comunismo.[1]
Essas foram as Três Revoluções. Hoje presenciamos a Quarta Revolução que se caracteriza, entre outras coisas, pela derrocada das tradições indumentárias do Ocidente, corroídas cada vez mais pelo nudismo. E a crescente ojeriza a tudo quanto é raciocinado, estruturado e metodizado[2] faz com que as pessoas se tornem dependentes da internet.
O homem começou a tender para o Inferno
Centralizemos nossa atenção na Renascença.
Desprezando a ordem sacral vigente na Idade Média, os renascentistas colheram os restos apodrecidos de Bizâncio e os transformaram em ornato para fazer deste mundo, não mais a Cristandade, mas o Olimpo regido por uma ordem racional elucubrada apenas pelo homem.
Isso conduziu, do ponto de vista intelectual, ao racionalismo e, na esfera da ação concreta, deformou o senso prático dos povos, fazendo deles puros planejadores racionalistas.
E ao invés de olhar para o Céu ou contemplar a Cristandade existente na Terra, o homem começou a tender para o Inferno como ponto terminal.[3] A Revolução gnóstica e igualitária tornou-se também satânica.
Um exemplo dessa marcha rumo à perdição eterna é a asquerosa obra Roman de la Rose – Romance da Rosa, propagada durante a Idade Média. Composta de 22.000 versos, foi escrita por dois clérigos, um dos quais era Doutor em Teologia… Nela é escarnecido o celibato eclesiástico e condenado o casamento, “pois vai contra a natureza, que é … o comunismo sexual”.[4]
Quando estudamos o problema da decadência da sociedade medieval, ocorre-nos uma indagação no sentido de saber por onde ela se vergou à Revolução.
Muitos afirmam que os reis e o clero deram o passo inicial. Há outra teoria, mais simpática, segundo a qual tudo foi possível a partir do momento em que a resistência contra o mal deixou de ser caracterizada por uma intolerância indignada e militante.[5]
Importância dos pequenos sintomas de mal
Há um princípio de sabedoria comum que, na Renascença, foi negligenciado por grande número de pessoas de responsabilidade decisiva. Como resultado ocorreram derrapagens tristes. […]
O princípio é este: Com relação ao bem e ao mal nada é sem importância, por menor que seja.
Uma das condições mais preciosas da integridade da alma é compreender a importância dos pequenos sintomas de mal e intervir logo para extirpá-los, antes que eles se tornem monstruosos.
Instituições e até civilizações ruíram porque pessoas responsáveis fecharam os olhos a esses sintomas, por otimismo e preguiça de serem combativas, enérgicas.
Considerando apenas a ordem natural das coisas, vemos que nesta Terra, devido ao pecado original e ao demônio, é mais fácil ao mal vencer do que ao bem. Porque aquele oferece o atrativo de um gosto, um deleite, e o homem muito facilmente atende o convite do prazer.
O bem, pelo contrário, apresenta um ideal, uma grande perspectiva de ordem espiritual, mas pede o sacrifício do corpo e muitas vezes o da alma. É mais difícil segui-lo, pois encontra grande número de opositores.
Mas o bem tem de seu lado algo que o mal não possui: a graça de Deus e a ajuda de Nossa Senhora.
A luta é o sentido da vida
Deus tudo faz segundo sua Providência e os acontecimentos, mesmo que pareçam absurdos e contraditórios, num plano geral se encaixam.
O Onipotente quer que haja sol e também trevas para o bem do homem, criando um ambiente para ele descansar e outro no qual acorde alegre e se sinta em condições para trabalhar.
À noite, o homem se lembra da morte, de sua própria ruína, compreende o efêmero dos dias de sol e que só uma coisa tem valor absoluto: Deus em sua eternidade; só n’Ele precisamos confiar totalmente.
Uma Terra perpetuamente escura ou ensolarada não é viável. E uma vida de contínua alegria ou de perpétua desgraça são opostas à natureza do homem. Com essa rotação, Deus nos dá o sinal de que tudo é efêmero e pode levar a resultados inesperados.
A luta é o sentido da vida. O homem deve lutar contra seus defeitos que a todo o momento procuram renascer e corrompê-lo. E contra os adversários externos: o demônio, o mundo e a carne, que querem arrastá-lo para o pecado.
E também contra a doença, as carências, a indigência; essa luta se chama o trabalho.
Sem luta a vida não seria vivível, pois se tornaria mais insuportável do que a de um mendigo; ela é o normal da vida.
“O Senhor avança como um guerreiro”
Nesse normal da vida devemos procurar guiar os acontecimentos, conforme a quota de direção que Deus nos entregou a respeito dos mesmos. Ele nos deu meios para, na invariabilidade de muitos fenômenos, podermos modificar muita coisa.
Se reconhecermos que é preciso lutar, Deus nos concederá, pelos rogos de Maria Santíssima, a graça da solércia — palavra que saiu do vocabulário usual e significa a agilidade, a prontidão no julgar, no perceber, no discernir – a fim de agirmos logo no começo e obter “in ovo” vitórias brilhantíssimas para o glorioso reinado do bem.[6]
O Profeta Isaias nos adverte:
“Tal como um herói, o Senhor avança; como um guerreiro, Ele desperta seu ardor; lança seu grito de guerra, como um herói que afronta seus inimigos” (42, 13).
E vendo atualmente o mal dominar o mundo inteiro, tenhamos certeza de que Nossa Senhora o esmagará em breve e implantará seu Reino, o qual será o triunfo do bem.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Mistérios de uma alma e de um povo. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XX, n. 235 (outubro 2017), p. 23.
[2] Cf. Idem. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei. 2002, p. 188-189.
[3] Cf. Idem. A evolução da sacralidade na História. In Dr. Plinio. Ano XVI, n. 187 (outubro 2013), p. 19.
[4] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 385.
[5] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O perigo começa com a vitória – II. In Dr. Plinio. Ano XIV, n. 157 (abril 2011), p. 23.
[6] Cf. Idem. Reflexões para o final do ano. In Dr. Plinio. Ano XV, n. 177 (dezembro 2012), p.16-19.
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