Igreja Siro-Malabar: a aposta que não deu certo para o Arcebispo Vasil
O arcebispo volta a Roma e a situação com a Igreja Siro-Malabar se agravou ainda mais.
Redação (24/08/2023 15:46, Gaudium Press) O arcebispo jesuíta Cyril Vasil retorna a Roma, depois de completar a primeira fase de sua missão, conforme declarado em um comunicado à imprensa. Entretanto, analistas dizem que a situação agora está pior do que antes.
O jesuíta é Delegado Pontifício na Arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, que arrasta um conflito de mais de dois anos, porque a grande maioria de seu clero não aceita um “rito unificado”, aprovado pelo sínodo dos bispos da Igreja Siro-Malabar em 2021.
Em síntese, este sínodo – que é o órgão dirigente da Igreja Siro-Malabar – aprovou um rito unificado cuja intenção era recuperar as raízes do “Holy Qurbana” ou rito litúrgico, que entre outras modificações buscava que o rito fosse celebrado com o sacerdote dirigido ad orientem, em vez de olhar para o povo. Este último costume – o de olhar para os fiéis – havia sido introduzido sob a influência das reformas da liturgia latina após o Concílio Vaticano II.
Mas o povo se acostumou com o sacerdote celebrando a missa voltado para a assembleia e, após os protestos iniciais, chegou-se a um compromisso de 50/50, ou seja, o sacerdote olharia para os fiéis durante a maior parte da liturgia e se voltaria para o Oriente durante os momentos essenciais da missa.
Isso foi aprovado, mas muitos não se sentiram confortáveis com o acordo e resistiram a adotar o rito unificado. Afirma-se também que, em toda a disputa, não há apenas a questão do rito, mas também divergências de visão teológica e outros tipos de divisões.
Sendo a Arquidiocese de Ernakulam-Angamaly, “o centro demográfico e canônico da Igreja Siro-Malabar”, como resume o The Pillar, o que ali acontece diz respeito aos 4,25 milhões de fiéis desta Igreja espalhados por todo o mundo, a segunda maior Igreja Católica do Oriente.
A verdade é que o rito unificado havia sido aprovado, mas os sucessivos arcebispos de Ernakulam-Angamaly não conseguiam impô-lo. O cardeal George Alencherry, arcebispo maior da Igreja Siro-Malabar e de Ernakuylam-Angamaly, também se distanciou do governo cotidiano da diocese, já que é parte de uma ação judicial sobre uma polêmica venda de terras; o que não favorece a regularização da vida de sua diocese, que se tornou ingovernável. Nessa situação, apelou-se a Roma para tratar da situação.
“Mas os resultados parecem ter servido apenas para agravar a situação”, diz The Pillar.
Comentou-se que, quando o Delegado Pontifício Vasil chegou, seu tom era conciliatório, mas isso durou pouco. Em duas semanas, o Arcebispo Vasil emitiu uma dura advertência aos clérigos e leigos resistentes: eles deveriam escolher entre “estar com o Papa, ou contra ele” e que “o único fruto da contínua rejeição e protestos será um grande dano à Igreja, grande escândalo diante daqueles que nos observam e dano espiritual, resultado da desobediência à vontade de Deus”.
Desta forma, o arcebispo elevou a aposta: não era mais um conflito em uma diocese, ou em uma Igreja sui iuris, mas um problema com o Bispo de Roma. Ele também deu um prazo: se, até 20 de agosto, todos os padres daquela diocese não celebrassem o rito unificado, viriam as consequências canônicas, o que muitos entenderam como uma declaração de cisma.
Mas chegou o domingo 20 e, em apenas 6 das 325 paróquias, foi celebrado o rito unificado. E, dessas 6, alguns fiéis saíram da missa assim que viram que estava sendo celebrado o rito unificado. Uma centena de fiéis bloquearam a Catedral de Santa Maria para que ali não se celebrasse missa. Agora, informaram de que há padres em greve de fome, em repúdio ao rito unificado e à intervenção de Vasil.
Aparentemente, perdeu-se a aposta da ameaça, e as opções agora – que não resolvem os problemas – ou são medidas drásticas que poderiam retirar mais de 500 mil pessoas da comunhão católica, ou o descrédito de uma autoridade papal desobedecida, que foi expressa sob a forma de ukaz por um arcebispo que queria fazer em quinze dias o que não se consegue há vários anos.
Quando se pensa em todos os esforços feitos por um Bento XVI para que os anglicanos voltassem à comunhão, não se pode deixar de lamentar que estejamos agora a falar da perda de meio milhão de fiéis no segundo país mais populoso do mundo. (SCM)
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