Gaudium news > História da Igreja – A Legião Fulminante

História da Igreja – A Legião Fulminante

No pontificado de São Sotero (166-175), o Imperador Marco Aurélio e seus soldados, cercados pelos bárbaros, morriam de sede. Invocaram em alta voz a Nosso Senhor Jesus Cristo e, de repente, começou a cair sobre os bárbaros uma saraivada de raios que os dizimou. Ao mesmo tempo, uma chuva amena e vivificante descia sobre os romanos reanimando-os.

 

História da Igreja legião fulminante

 

Redação (22/09/2020, 15:30, Gaudium Press) O Imperador Marco Aurélio, à frente de seu exército, combatia alguns povos bárbaros na Boêmia – atual República Checa. Estando os soldados padecendo fome e sede, todo o exército ficou cercado num desfiladeiro. Tal era a sede que os militares chegavam a abrir as veias e beber o próprio sangue.

Raios mortíferos e chuva vivificante

Marco Aurélio, que fora beneficiado por Santo Abércio, o qual exorcizara o demônio que possuía sua filha, teve a ideia de recorrer ao verdadeiro Deus. Começou a procurar entre os soldados aqueles que eram cristãos, verificou serem muito numerosos, principalmente porque ali havia toda uma legião cristã, chamada Melitene, e pediu-lhes que fizessem algo para salvar a todos.

Eles, então, invocaram em alta voz a Nosso Senhor Jesus Cristo e, de repente, começou a cair sobre os bárbaros uma saraivada de raios que os dizimou. Ao mesmo tempo, uma chuva amena e vivificante descia sobre os romanos reanimando-os.

Após essa vitória, Marco Aurélio deu àquele corpo de exército o nome de “Legião Fulminante”. E o Senado romano mandou erigir uma coluna em homenagem a essa Legião, atribuindo o milagre a … Júpiter.

Vemos assim “a maldade do paganismo: para a legião que ia morrer miseravelmente como um bando de ratos, se não fosse o [auxílio de Deus], eles levantam uma coluna no Fórum romano em louvor de Júpiter”.

História da Igreja Legião Fulminante

Converteu mais da metade da população de Lyon

Nessa época a Providência suscitou Santo Irineu, nascido em Esmirna – atual Turquia –, que desde criança foi discípulo do bispo dessa cidade, São Policarpo, o qual lhe narrava os colóquios que tivera com São João Evangelista.

Posteriormente ele mudou-se para Lyon, na França, onde se tornou sacerdote e logo depois foi escolhido como bispo dessa localidade, sucedendo o mártir São Potino que, na perseguição promovida por Marco Aurélio, morrera na prisão com 90 anos de idade, vítima de maus-tratos.

Além dos ingentes trabalhos de sua diocese, Santo Irineu dedicou-se ao estudo para a instrução e santificação dos fiéis, e escreveu o famoso tratado intitulado Contra as heresias, no qual combate a gnose e explica importantes pontos da Doutrina Católica.

Exerceu intensa ação apostólica e converteu mais da metade da população de Lyon, adepta do druidismo e que praticava, entre outros horrores, sacrifícios humanos e pregava a metempsicose, ou seja, a doutrina segundo a qual uma mesma alma pode animar sucessivamente corpos diversos, homens, animais ou vegetais.

O Imperador Septímio Severo, nos primeiros anos de seu governo, deixou a Igreja em paz devido à enorme repercussão ocasionada pelo milagre da Legião Fulminante.
Em certa ocasião, acompanhado de seu exército, ele dirigiu-se à Gália, atual França, para lutar contra um opositor ao seu governo que reunira grande número de adeptos. Após vencer o inimigo, Septímio Severo foi a Lyon.

 

Mais de vinte mil mártires

Alguns dias antes de sua chegada, um Anjo aparecera a Santo Irineu e lhe informara que muitos fiéis à Igreja seriam martirizados. Ele se pôs em oração e pediu a Deus que os cristãos não apostatassem, mas perseverassem firmes na Fé.

Depois dessa prece, reuniu os fiéis e “começou a prepará-los para o combate” ; eles passavam dias e noites em orações.
Ao entrar em Lyon, vendo que seus habitantes, convertidos por Santo Irineu, se recusavam a adorar os ídolos, o ímpio imperador ficou ébrio de ódio.

Por suas ordens as portas da cidade foram fechadas e os soldados, portando espadas nas mãos, entraram em todas as casas degolando quem se declarasse cristão.
“O sangue corria como córregos pelas ruas, e os dois rios que banham a cidade – Ródano e Saône – ficaram com suas águas avermelhadas.” “Uma inscrição antiga, que ainda existe em Lyon, diz que o número dos mártires subiu aos dezenove mil, sem contar as mulheres e as crianças.”

Terminado o morticínio, Santo Irineu foi levado até Severo, que o fez passar por terríveis suplícios em consequência dos quais ele morreu. Era o dia 28 de junho de 202.
Suas relíquias foram guardadas numa igreja a ele dedicada, e ali permaneceram até 1562, quando os huguenotes – protestantes – profanaram o augusto túmulo e dispersaram as relíquias. O crânio foi jogado numa rua, mas um católico fiel o recolheu e depois o colocaram na Igreja de São João Evangelista, em Lyon.

História da Igreja-Legião Fulminante

Um gesto que indica sublime pureza

Pouco tempo depois, numa perseguição também promovida por Septímio Severo contra os cristãos em Cartago, na atual Tunísia (Norte da África), foram martirizadas Santa Perpétua e Santa Felicidade. A primeira era de nobre família e a segunda, escrava.

O pai de Perpétua, ao saber que sua filha fora condenada, veio lhe pedir, aos prantos, que ela abandonasse a Igreja para não ser morta. Mas ela se manteve firme, inabalável.

“Na ata do martírio de Santa Perpétua, no ano 203 da Era Cristã, narra-se um detalhe comovedor.

“Expuseram a jovem junto com Santa Felicidade no anfiteatro de Cartago, a fim de serem justiçadas no decurso dos jogos e das diversões, segundo o primitivo e brutal costume. Uma vaca selvagem muito agressiva deveria dar cabo à vida de ambas.

“A primeira a ser lançada ao alto pela investida da besta foi Perpétua e, narra o cronista, ela ‘caiu de costas, mas em seguida pôs-se sentada e, arranjando sua túnica levantada, cobriu a perna, lembrando-se do pudor antes da dor’”.

O mundo atual está chafurdado na luxúria. Peçamos a Santa Perpétua que nos obtenha a graça de uma pureza ilibada, meticulosa e vigilante, tendo sempre presente que nosso corpo é templo do Espírito Santo.

Por Paulo Francisco Martos

( in “Noções de História da Igreja” – 27)

…………………………………………………………………………………………………………………………………………

1- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santo Abércio, o fulminante. In Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVI. N. 187 (outubro 2013), p. 31.

2- DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1889, v. VII, p. 529.
Idem, ibidem, p. 529.
3- SÃO JOÃO BOSCO. História Eclesiástica. 6 ed. São Paulo: Salesiana, 1960, p. 56.
4- RUIZ BUENO, Daniel (Org.). Actas de los mártires. 5.ed. Madrid: BAC, 2003, p.437.

5- BENJUMEA, Carlos Javier Werner, EP. O casto brilho do pudor cristão. In Arautos do Evangelho. São Paulo. Ano XVIII, n. 209 (maio 2019), p. 18.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas