“Há uma conversão para cada estágio da vida”, afirma o Cardeal Raniero Cantalamessa
Seguindo o tema “Convertei-vos e crede no Evangelho!”, o pregador da Casa Pontifícia iniciou as pregações da Quaresma aos membros da Cúria Romana.
Redação (26/02/2021 09:30, Gaudium Press) Na manhã desta sexta-feira, 26 de fevereiro, o pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, realizou a primeira pregação da Quaresma aos membros da Cúria Romana. O tema seguido foi “Convertei-vos e crede no Evangelho!”.
Segundo o purpurado, existem três momentos distintos no Novo Testamento no qual se fala de conversão. “Juntas, as três passagens nos dão uma ideia completa sobre o que é a metanóia evangélica. Há uma conversão para cada estágio da vida. O importante é que cada um de nós descubra a que serve para si neste momento”, comentou.
Primeira conversão: “Convertei-vos e crede no Evangelho”
O religioso indicou que a primeira conversão está presente no seguinte chamado feito por Nosso Senhor Jesus Cristo no início de sua pregação: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
“Antes de Jesus, converter-se significava sempre um ‘voltar atrás’. Indicava o ato de quem, a um certo ponto da vida, percebe estar ‘fora do rumo’. Então se detém, reconsidera; decide voltar à observância da lei e retornar à aliança com Deus. A conversão, neste caso, tem um significado fundamentalmente moral e sugere a ideia de algo penoso a se cumprir: mudar costumes, deixar de fazer isso ou aquilo”, explicou o frei capuchinho.
O Cardeal ensinou ainda que este significado muda nos lábios de Jesus, pois com a sua vinda as coisas mudaram. ‘Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus!’. “Converter-se não significa mais voltar atrás, à antiga aliança e à observância da lei, mas significa dar um salto adiante e entrar no Reino, agarrar a salvação que veio aos homens gratuitamente, por livre e soberana iniciativa de Deus”, ressaltou.
Segunda conversão: “Se não vos converterdes e não vos tornares como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”
O segundo trecho do Evangelho que trata sobre a conversão é quando os discípulos perguntam para Nosso Senhor Jesus Cristo quem seria o maior no Reino dos Céus. Jesus responde dizendo que “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornares como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,1-3).
“Esta é a conversão de quem já entrou no Reino, acreditou no Evangelho, já está há tempos no serviço de Cristo. É a nossa conversão! O que supõe a discussão sobre quem é o maior? Que a preocupação maior não é mais o reino, mas o próprio lugar nele, o próprio eu”, comentou.
“Cada um deles tinha algum título para aspirar a ser o maior. Os frutos desta situação são evidentes: rivalidades, suspeitas, confrontos, frustração. Jesus, de imediato, tira o véu. Nem como primeiros, deste modo nem se entra no reino! O remédio? Converter-se, mudar completamente de perspectiva e direção. É preciso “descentralizar-se de si mesmo e recentralizar-se em Cristo”, frisou o Cardeal.
Tornar-se criança significa voltar ao momento em que descobrimos sermos chamados
O pregador da Casa Pontifícia explicou ainda que “tornar-se criança, para os apóstolos, significava voltar a como eram no momento do chamado às margens do lago ou no posto de arrecadação: sem pretensões, sem títulos, sem confrontos entre si, sem invejas, sem rivalidades. Ricos apenas de uma promessa (“Farei de vós pescadores de homens”) e de uma presença, a de Jesus; a quando eram ainda companheiros de aventura, não concorrentes pelo primeiro lugar”.
Fazendo uma aplicação prática, o religioso revelou que “também para nós, tornar-se criança significa voltar ao momento em que descobrimos sermos chamados, ao momento da ordenação sacerdotal, da profissão religiosa, ou do primeiro verdadeiro encontro pessoal com Jesus. Quando dizíamos: ‘Só Deus basta!’, e acreditávamos”.
Terceira conversão: A conversão da mediocridade e da tibieza
Por fim, o Cardeal Cantalamessa revela que o terceiro momento em que surge o convite À conversão no Evangelho está presente em uma das sete cartas às Igrejas do Apocalipse, dirigidas a pessoas e comunidades que viviam há tempos a vida cristã.
“Das sete cartas do Apocalipse, a que deve nos fazer refletir mais do que as outras é a carta à Igreja de Laodiceia. Conhecemos seu tom severo: “Conheço as tuas obras. Não és frio, nem quente… porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca… Sê zeloso, pois, e arrepende-te” (Ap 3,15ss). Aqui, trata-se da conversão da mediocridade e da tibieza”, sublinhou.
Concluindo sua pregação, o purpurado exorta para que se peça à Nossa Senhora que nos conceda a mesma graça que concedeu ao seu Filho em Caná da Galiléia. “Por sua oração, naquela ocasião, a água se converteu em vinho. Peçamos que, por sua intercessão, a água da nossa tibieza se converta no vinho de um renovado fervor. O vinho que em Pentecostes provocou nos apóstolos a embriaguez do Espírito e os tornou ‘fervorosos no Espírito’”. (EPC)
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