Grandes santos da Espanha
No século VI, o arianismo dominava na Espanha, e o Rei Leovigildo, pai de Hermenegildo e Recaredo, professava essa heresia e odiava os católicos.
Redação (20/01/2022 11:33, Gaudium Press) No século VI, o arianismo dominava na Espanha, e o Rei Leovigildo, pai de Hermenegildo e Recaredo, professava essa heresia e odiava os católicos. Quando eles atingiram a maioridade, Leovigildo elevou Hermenegildo ao trono de Sevilha e Recaredo ao de Toledo.
Hermenegildo abjura o arianismo
Algum tempo depois, Hermenegildo casou-se com Ingunda, filha do Rei da Austrásia – Nordeste da atual França – e católica fervorosíssima.
Tendo Leovigildo enviuvado, casou-se em segundas núpcias com Gosvinta, a qual parecia ter feito voto de perverter Ingunda à heresia ariana. Fortalecida pela graça divina, Ingunda princesa não só permaneceu fiel à sua religião, mas ainda conseguiu converter o antigo defensor do arianismo: o seu próprio marido. Este, com grande pompa, abjurou o erro, e foi admitido na Igreja Católica por São Leandro, Bispo de Sevilha.
A conversão do Rei de Sevilha de tal modo encolerizou Leovigildo que este o ameaçou com a destronização, caso não voltasse ao arianismo. Respondeu Hermenegildo respeitosamente ao pai que ele preferia antes lhe desobedecer do que a Deus, estando disposto a perder a coroa para satisfazê-lo.
Pressentindo que seu pai queria matá-lo, Hermenegildo enviou São Leandro – que era seu tio – a Constantinopla a fim de pedir auxílio militar ao Imperador Maurício I.
Lá chegando, São Leandro se encontrou com o legado pontifício Gregório, que depois se tornou Papa – São Gregório Magno –, e uma grande amizade se estabeleceu entre ambos. Foi recebido por Maurício que enviou tropas gregas em socorro de Hermenegildo.
De fato, Leovigildo partiu com grande exército para atacar Sevilha. Mas os soldados gregos, enviados pelos bizantinos, venderam-se a preço de ouro e passaram a lutar a favor de Leovigildo.
Primeiro passo para a conversão de toda a Espanha
Sevilha é cercada e, depois de um ano de lutas, Hermenegildo foi obrigado a fugir, mas seu pai conseguiu capturá-lo e deu ordem para que o despojassem de todos os emblemas reais, e o prendessem com correntes no fundo de uma masmorra.
Ingunda, esposa de Hermenegildo, fugiu para a África onde, não encontrando nenhuma proteção, morreu de fome.
Hermenegildo recebeu esses sofrimentos com firmeza e confiança em Deus. A todas as propostas de apostasia, respondia sempre que tudo preferia perder a renunciar a Fé católica.
Certo dia, um bispo ariano veio lhe trazer a comunhão pascal, por ordem do rei, mas Hermenegildo o rejeitou. Quando Leovigildo soube disso, ficou tomado de tanto ódio que resolveu a morte do filho. Essa sentença foi comunicada, para maior efeito, ao prisioneiro, pelos próprios algozes. Hermenegildo, com toda serenidade, ajoelhou-se, deu graças a Deus e o decapitaram.
Uma vez praticado o crime, o velho rei sentiu-se perseguido por remorsos terríveis e arrependeu-se de seus pecados. Ficando gravemente enfermo, chamou São Leandro e pediu-lhe que instruísse na Fé católica seu filho Recaredo.
O martírio de Hermenegildo foi o primeiro passo para a conversão de toda a Espanha.
A prisão onde seu corpo jazia ficou iluminada por uma luz sobrenatural, e o túmulo em que foi sepultado tornou-se lugar de culto público. A Igreja o canonizou e sua memória é celebrada em 13 de abril.
Recaredo tornou-se Rei de Espanha após a morte de seu pai, em 586, renunciou à heresia ariana e converteu-se ao Catolicismo. Recebeu a unção real das mãos de São Leandro, em 589.
Santo Isidoro ressuscita uma mulher
Com o falecimento de São Leandro, em 601, seu irmão Santo Isidoro o sucedeu como Bispo de Sevilha; tiveram outros dois irmãos canonizados: São Fulgêncio, Bispo de Cartagena, e Santa Florentina, abadessa de 40 conventos. Provinham de uma família de alta nobreza: eram tios maternos dos reis Santo Hermenegildo e Recaredo.
Isidoro era bem mais novo que Leandro, e este o educou desde a mais tenra infância. Depois foi confiado a um mosteiro de Sevilha, onde causou admiração pela sua piedade e grande capacidade intelectual.
Além do apostolado, dedicou-se intensamente aos estudos, adquirindo conhecimentos sobre os mais variados ramos da ciência.
“Mas ele não estudou unicamente pelo vão prazer de saber; visava um duplo fim: ser útil a seu país para subtraí-lo da barbárie e fazer triunfar a Fé católica contra a heresia ariana.”
Fundou em Sevilha um colégio para jovens clérigos que, posteriormente, teve alunos célebres, entre os quais Santo Ildefonso, Arcebispo de Toledo, a quem, em 665, a Santíssima Virgem apareceu e nele colocou uma casula feita pelo próprio Nosso Senhor.
Santo Isidoro fez profícuo apostolado em várias regiões, escreveu importantes obras e se tornou muito conhecido. Em 619, viajou para Roma e foi recebido pelo Papa Bonifácio V. Quando voltou para a Espanha, multidões o acolheram com entusiasmo; tendo uma mulher grávida caído no meio das manifestações e falecido, ele a ressuscitou.
Penitência pública
Prevendo que sua morte se aproximava, Santo Isidoro quis fazer uma penitência pública. Pediu a dois bispos que o acompanhassem até à catedral; formou-se, então, um cortejo do qual participaram o clero e grande número de fiéis. No interior da igreja, um dos bispos colocou sobre ele um cilício, e o outro, cinza. Então, o Santo, elevando as mãos ao céu, rogou em alta voz perdão de seus pecados, recebeu a Eucaristia, recomendou-se às orações dos presentes, e fez que se distribuíssem aos pobres o resto de dinheiro que ainda possuía.
Voltou a seu palácio e, quatro dias depois, entregou sua bela alma a Deus, em 4 de abril de 636.
Que os santos espanhóis acima citados nos obtenham de Nossa Senhora a graça de aumentarmos nossa devoção a Ela, lutando sempre pela exaltação da Igreja e esmagamento de seus adversários internos e externos.
Por Paulo Francisco Martos
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