Giotto e Dante Alighieri
No fim da Idade Média, houve dois artistas nascidos em Florença, Itália, que marcaram a História: Giotto e Dante Alighieri.
Redação (19/04/2024 16:00, Gaudium Press) Filho de pequenos proprietários rurais, Giotto veio à luz em 1266 e, desde menino, exerceu o pastoreio. Tendo desenhado com carvão numa pedra algumas cabras, certo dia, o pintor Cimabue passou por ali e admirou seu talento. Pouco depois, tornou-se seu mestre.
De tal modo Giotto progrediu que muitos o procuravam para elaborar afrescos. Suas obras nas Basílicas de Florença e Assis, bem como na capela Scrovegni, em Pádua, colocam-no – num grau inferior ao alcançado por Beato Angélico – entre os melhores pintores que existiram.
Efetuou obras também em Roma, Milão, Bolonha. E, em janeiro de 1337, faleceu na cidade de Florença.
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou:
“Há um silêncio sobre sua pessoa. Ou porque ele foi muito bom, e os maus querem esconder; ou foi muito ruim, e os bons desejam ocultar. Mas há qualquer coisa que não está clara. Enfim, Giotto pintou muitos quadros, a meu ver intensamente impregnados de sobrenatural”.
O banqueiro Enrico Scrovegni construiu uma capela perto de Pádua e pediu a Giotto que a decorasse. Ele pintou 53 afrescos em suas paredes, que são considerados sua obra-prima.
Na capela Scrovegni, “aparecem cenas caracterizadas por uma inocência ainda toda medieval, numa atmosfera sobrenatural magnífica”.[1]
Dante tornou-se inimigo de Bonifácio VIII
Dante Alighieri nasceu em 1265 e procedia de uma importante família. Estudou artes, ciências, Filosofia, Teologia e autores da Antiguidade Clássica latina, de modo especial Virgílio (70-19 a. C).
Em 1300, foi eleito membro do Conselho de Florença e tornou-se um dos seis que administravam a cidade.
Quando a Idade Média estava em seu esplendor, “a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, era florescente em toda parte, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados.
“Então o sacerdócio e o império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios”.[2]
Mas na época de Dante, a Europa se encontrava dilacerada pelas agressões violentas dos imperadores sediados na Alemanha contra o Papado, ou seja, rompeu-se a união entre “o sacerdócio e o império”.
E a Itália estava dividida politicamente entre dois partidos que guerreavam entre si: os guelfos defensores do Papa, e os gibelinos aliados ao imperador. Dante aderiu aos inimigos de Bonifácio VIII e acabou sendo exilado, em 1302.
Precursor da Renascença
Percorreu diversas cidades da Itália entre as quais Pádua, onde conheceu Giotto ao qual ele pediu dar-lhe algumas aulas sobre pintura, pois Dante possuía alma de artista.[3] Morreu na cidade de Ravena, em 1321, aos 56 anos de idade.
Dante adquiriu fama mundial pela sua obra “Divina Comédia”, onde descreve uma viagem que fez ao Inferno, Purgatório e Céu, auxiliado por Virgílio e Beatriz, nomes simbólicos para significar a razão e o conhecimento místico.
Daniel Rops, após fazer elogios grandiloquentes a esse livro, escreve:
“A Divina Comédia é uma obra bastante difícil” de se compreender. Nela há “dissertações áridas sobre botânica, alquimia, mineralogia e fisiologia (…) e discussões abstratas sobre escolástica e Teologia.” Difícil também “por causa do uso constante de alegorias, do propósito de dissimular o seu verdadeiro pensamento por meio de uma preocupação esotérica”.[4]
De fato, Dante foi um precursor do movimento cultural e artístico revolucionário chamado Renascença. Afirma Ockam (1285-1347): Numa passagem da Divina Comédia, o poeta diz que o governo do mundo é exercido pelo deus fortuna, contrariando a sabedoria e bondade de Deus, que recompensa e castiga os homens, segundo seus merecimentos e suas culpas.[5]
Luzes da Fé cheias de amor
Mas nessa obra há muitas palavras e cenas que exprimem importantes verdades.
“Dante, na sua Divina Comédia, imagina o Inferno como um imenso cone, com a base no alto e o vértice em baixo. Este cone é formado por diversos círculos superpostos que, à medida que se tornam mais profundos, se vão também tornando mais estreitos. No vértice do cone, está Satanás.
“Não podia o genial poeta florentino descrever de modo mais eloquente as relações íntimas que ligam entre si todas as heresias. Aparentemente muito diversas umas das outras, têm elas todas, no entanto, caracteres que lhes são comuns, e que são como que o eixo central em torno do qual todas giram. E além disto tendem todas para o mesmo abismo, tendo no fundo o próprio Satanás.
“A parte de verdade que muitas doutrinas heréticas ainda admitem são sempre elementos estranhos a seus princípios gerais, que destes se vão desligando gradualmente até desaparecerem por completo.”[6]
“A Fé pode ser chamada, segundo a bela expressão de Dante, luz intelectual cheia de amor, amor cheio de todo bem. O verdadeiro amor nasce, na Igreja, da consideração atenta e inteligente da Verdade, por meio do qual a vontade se orienta para o Bem, e nele se firma, e não na exaltação artificial e desordenada da sensibilidade. As luzes da Fé são cheias de amor. E esse amor é cheio de todo o bem”.[7]
Nos olhos de Nossa Senhora o reflexo de Deus
“Após ter passado pelo Inferno e pelo Purgatório, ele percorre os vários círculos dos bem-aventurados, até chegar no mais alto coro angélico, ou seja, no píncaro da Mansão celeste, onde começa a divisar a glória de Deus.
“É uma luz difusa, que seus olhos não conseguem sustentar. Ele repara então num outro ser que está acima dos Anjos: Nossa Senhora. A Virgem Santíssima lhe sorri, e Dante contempla nos olhos d’Ela o reflexo da luz incriada da eterna Majestade.
“Acabou-se a Divina Comédia. Depois de a pessoa ter posto os olhos nos olhos virginais de Nossa Senhora, não tem mais nada que contemplar, senão a Deus, face a face. Pois o olhar humano fitou o olhar puríssimo, o olhar sacralíssimo, o olhar sumamente régio, o olhar indizivelmente materno de Nossa Senhora.
“Tudo está consumado: a Divina Comédia termina na mais alta das cogitações que pode alcançar um filho de Eva. Nossa Senhora é o grampo de ouro — ou de um metal ainda mais precioso — que une a Nosso Senhor Jesus Cristo toda a criação, da qual Ela é o ápice e a suprema beleza”.[8]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Quadros impregnados de sobrenatural. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano 20, n. 226 (janeiro 2017), p. 30.
[2] LEÃO XIII. Immortale Dei, 1/11/1885.
[3] Cf. PICCAROLO, A. A Divina Comédia. São Paulo: Folco Masucci. 1965, p. 7.
[4] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 1993, v. III, p. 672.
[5] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A Renascença: golpe desfechado contra a Cristandade. In Dr. Plinio. Ano II, n. 20 (novembro 1999), p. 32.
[6] Idem. O Legionário, São Paulo, 22-11-1931.
[7] Idem. O Legionário, 7-12-1944.
[8] Idem. O ápice de ouro da Criação. In Dr. Plinio. Ano IV, n. 43 (outubro 2001), p. 16.
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