Francisco no Canadá, intervenção no Opus Dei e suposto sectarismo
Uma intervenção vaticana numa prelazia influente, em torno da qual gira a suspeita de sectarismo, poderia servir de pretexto para novos mexericos.
Redação (02/08/2022 14:53, Gaudium Press) O Papa Francisco, missionário da misericórdia e do diálogo, empreendeu, como sabemos, uma “viagem penitencial” – como a quis chamar –, ao Canadá, para pedir vênia a quantos indígenas locais pelos supostos abusos por parte da Igreja nos tempos do colonialismo.
Aliás, o Papa já teve ocasião de dirigir seus pedidos de perdão a diversos líderes índigenas na última segunda-feira (26), num encontro acompanhado por rituais de “purificação”, cantos típicos e até invocações à “Mãe terra”.
Na primeira Missa pública de sua “viagem penitencial”, Francisco quis advertir contra as “caricaturas da tradição”, que, segundo ele, não fazem mais do que “preservar o presente na lógica do ‘sempre se fez assim’”… De fato, neste ponto o Papa argentino se mostra assaz coerente com seu próprio pensamento: se houve algum pontífice que logrou inovar, foi Francisco. No dia 28, mais uma vez o vemos pregando a paz e a concórdia: “Necessitamos novamente acalmar os extremismos da contraposição e curar as feridas do ódio. Não necessitamos dividir o mundo em amigos e inimigos”.
Será que Francisco, com sua beneficência, somente granjeia simpatias?
Ainda suscita perplexidades e estranheza a atitude do Papa com seu motu proprio “Ad charisma tuendum”, da semana passada, com o qual declara a “natureza carismática, e não hierárquica”, do Opus Dei. É simples: o prelado da Obra não será mais bispo, e seus estatutos deverão ser reformados.
Opus Dei é uma seita?
Além de transferir a Prelazia à custódia da Congregação para o Clero, o motu proprio “Ad Charisma tuendum” prevê que um exame anual do desenvolvimento das atividades da Obra em todo o mundo deva ser entregue à Santa Sé (art. 2). Ademais, o prelado já não mais será investido do episcopado (art. 4). Alguns interpretam isso como sintoma de Comissariado próximo.
E não espantaria que o Opus Dei fosse comissariado no presente momento: tal tem sido a atitude de Roma sobre diversos organismos de vida consagrada nos últimos anos. Aliás, na prática, a prelazia passa a ser mais regida à maneira de um instituto de vida consagrada.
Um comissariamento poderia reavivar, por sua vez, a pecha de “seita” empregada contra o Opus Dei, assunto muito ventilado anos atrás por ocasião do lançamento de “O Código Da Vinci”, best-seller de Dan Brown.
Como de costume, os pouco informados e amantes de sensacionalismo não se importam com a verdade tanto quanto se aprazem com notícias fantásticas. E uma intervenção vaticana na única prelazia da Igreja Católica, em torno da qual gira a suspeita infundada de sectarismo, seria bom pretexto para que máfias voltassem à tona.
Define-se seita, habitualmente, como “grupo de dissidentes de uma religião ou de uma comunhão principal”. Ora, como poderia uma Instituição aprovada e reconhecida pelo Papa, regida por estatutos próprios e aprovados pela própria Igreja, ser considerada seita?
O Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena, é autor de “Reflexões sobre o conceito de seita e resposta a algumas acusações dirigidas a grupos católicos”. Nesta obra, indica que: “As comunidades eclesiais reconhecidas se mantêm em contato contínuo com os responsáveis na Igreja. Seus estatutos e seu estilo de vida são examinados”, e continua: “Não é justo que certas Instituições, pessoas ou meios de comunicação tachem de seitas a comunidades reconhecidas pela Igreja, ou inclusive que chamem ‘práticas sectárias’, ao estilo de vida que lhes é próprio”.
Assim, nem o Opus Dei, nem qualquer tipo de Instituição Religiosa que vive em comunhão com a Igreja – que, por assim dizer, são Igreja – pode ser considerada seita. A contrario sensu, seria como um organismo autofágico…
Quarenta anos depois…
Enfim, com Comissariado ou sem Comissariado, a intervenção está feita. Resta saber se Francisco prosseguirá com uma ingerência mais coercitiva na vida da Prelazia.
Seja como for, aos membros do Opus Dei, este ano – que marca o 40º aniversário daquele importante momento no qual S.S. João Paulo II erigiu a referida Prelazia Pessoal com a Constituição Apostólica “Ut sit” – terá um sabor diferenciado.
Vejamos como, de agora em diante, a Obra prosseguirá seu apostolado e ação dentro da Igreja, na esperança de que os comandos ditados pelo “sistema nervoso central” – que, afinal, são os que coordenam todo organismo – não dessirvam as células que compõem os diversos membros e tecidos com os quais é composto o Corpo Místico de Cristo.
Por Afonso Costa
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