Filhos de famílias numerosas são bem-vindos
Quanto mais irmãos e irmãs, mais honestos, modestos e sociáveis são: os filhos de famílias numerosas são úteis à sociedade, como demonstra um novo estudo psicológico.
Redação (29/01/2025 11:52, Gaudium Press) O que a experiência pessoal tem sugerido há muito tempo foi recentemente demonstrado por um estudo publicado na área de psicologia: a presença de irmãos e irmãs, seu número e a posição de cada um na ordem dos irmãos desempenham um papel no desenvolvimento da personalidade. Isso foi descoberto pelos professores canadenses de psicologia Michael C. Ashton e Kibeom Lee, com base no modelo HEXACO de estrutura da personalidade que eles desenvolveram. O modelo HEXACO descreve a personalidade humana em seis dimensões principais: Honestidade-Modéstia, Emocionalidade, Extroversão, Tolerância/Acessibilidade, Consciência e Abertura à Experiência. Ele difere de outros modelos, como o Big Five, principalmente pela dimensão honestidade-modéstia, que enfatiza as tendências altruístas e cooperativas.
Filhos de famílias numerosas são, em média, mais honestos
A análise de mais de 700.000 conjuntos de dados indica que adultos provenientes de famílias numerosas tendem a obter pontuações mais elevadas nas dimensões honestidade-modéstia e tolerância. Pessoas de famílias com seis ou mais filhos apresentaram pontuações significativamente mais elevadas em comparação aos filhos únicos. O efeito foi parcialmente reduzido quando as influências religiosas foram controladas, sugerindo que estas também podem desempenhar um papel relevante.
Em uma família com vários filhos, os irmãos do meio e os mais novos apresentam valores ligeiramente mais elevados em matéria de honestidade, modéstia e tolerância do que os mais velhos. Por outro lado, os filhos únicos e os primogênitos apresentam valores mais elevados na dimensão “abertura às experiências”, que está associada à engenhosidade, inventividade e curiosidade intelectual.
Estudos anteriores geralmente encontravam pouca ou nenhuma relação entre a ordem de nascimento e a personalidade. Ashton e Lee explicam isso em parte pelo fato de que os questionários utilizados anteriormente com base no modelo Big Five não eram suficientemente pormenorizados. Ashton e Lee também usaram um banco de dados muito maior do que os estudos anteriores.
A cooperação cede lugar à preferência pessoal
Os resultados levantam a questão de até que ponto as interações sociais na infância incentivam um comportamento cooperativo. Os autores do estudo supõem que “quando se tem mais irmãos e irmãs, é preciso cooperar com mais frequência em vez de seguir preferências egoístas”. Isso poderia “favorecer o desenvolvimento de tendências cooperativas em geral”. Considerando que a honestidade e a modéstia, bem como a sociabilidade, estão positivamente relacionadas ao número dos irmãos, esse desenvolvimento de tendências cooperativas aparentemente envolve tanto a tendência de não explorar os demais (honestidade-modéstia) quanto a tendência de não reagir exageradamente à exploração percebida pelos outros (sociabilidade)”.
Ashton e Lee também citam dois outros motivos menos importantes, mas totalmente plausíveis, para explicar os resultados do estudo. Em primeiro lugar, o fato de crianças de famílias numerosas serem mais honestas e sociáveis pode estar ligado ao fato de que pessoas com essas características tendem a ter vários filhos. Em segundo lugar, convém observar que os pais estão mais inclinados a ter outros filhos se o primeiro filho for honesto, modesto e cooperativo.
A sociedade necessita deles
Os resultados do estudo favorecem à Associação Alemã de Famílias Numerosas, que dá aconselhamento e apoio a famílias numerosas, e está comprometida com seus interesses. “As famílias numerosas produzem personalidades cujas qualidades são indispensáveis no mercado de trabalho”, declarou a presidente da associação, Elisabeth Müller, ao interpretar o estudo. “Os filhos sanduíche – aqueles que têm irmãos mais velhos e mais novos – são particularmente honestos, modestos e cooperativos. Essas qualidades excepcionais fazem deles um elemento central em suas famílias e figuras valiosas em nossa sociedade”, afirmou Müller, que tem seis filhos e possui doutorado em Farmácia. De acordo com Müller, um grande número de irmãos significa “mais experiências compartilhadas e a necessidade de se adaptar uns aos outros. Esses são precisamente os fundamentos de uma sociedade forte e solidária. Famílias grandes são uma democracia vivida em pequena escala. Seus membros aprendem a importância de se envolver, encontrar compromissos e assumir responsabilidades uns pelos outros. Isso os torna modelos – tanto para a família quanto para a sociedade como um todo”. Portanto, é evidente que essas famílias são indispensáveis à perenidade do país, porque as habilidades adquiridas nas famílias numerosas – como honestidade, capacidade de adaptação, equidade e aptidão para cooperar – contribuem de maneira decisiva no fortalecimento do tecido social.
De acordo com Müller, incentivar as pessoas a terem vários filhos hoje em dia requer uma abordagem abrangente apoiada pela política, pela sociedade, pela economia e pela mídia. “Um emprego seguro, modelos de trabalho flexíveis, licença paternidade e recursos financeiros suficientes (salário-família, benefícios sociais etc.), bem como moradias suficientemente acessíveis, aumentam a disposição das pessoas de formar uma família”, explica. Ela acredita que, acima de tudo, cabe à política “priorizar as famílias por meio de investimentos direcionados a famílias numerosas, condições estruturais inteligentes e um desejo claro de colocar as famílias no centro da vida social e do nosso futuro”.
A família antes da carreira
Além das questões materiais, a família deve ser novamente reconhecida como uma fonte de alegria e realização: “É necessário uma mudança na sociedade que mostre que ambos são possíveis – carreira e família – e que, a longo prazo, a família geralmente oferece uma qualidade de vida melhor do que o mero sucesso profissional”, ressalta essa mãe de seis filhos. “Meu desejo é que a família seja vista como uma escolha de vida atraente. Os pais contribuem de forma significativa para a sociedade, e os pais de muitos filhos são os verdadeiros ‘prestadores de serviço’ de nossa nação”, conclui.
Tradução, com pequenas adaptações, do artigo Mit Sandwichkindern ist gut Kirschen essen, de autoria de Franziska Harter no Tagespost, 28/01/2025.
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