Filhos da esperança
Em sua epístola aos Romanos, São Paulo nos ensina que “a esperança não decepciona”. Se andamos tão decepcionados, pode ser porque nos falta exatamente isso, a esperança!
Redação (15/08/2025 10:21, Gaudium Press) Quando as coisas estão ruins, lutamos com a esperança de que melhorarão. Quando estamos doentes, tomamos os remédios e fazemos o tratamento prescrito pelo médico, com a esperança de que ficaremos curados. Enfrentamos os bancos escolares, muitas vezes depois de um dia exaustivo de trabalho, na esperança de conseguir uma formação e melhorar as condições de vida. Casamo-nos na esperança de ter filhos, constituir uma família e sermos felizes…
Enfim, desde a infância, agimos na esperança de que algo bom advenha daquilo. A esperança é um dos pilares de nossa vida, e tão importante que a sabedoria popular costuma dizer que ela é a “última que morre”.
Sem a esperança, ninguém lutaria, ninguém persistiria, ninguém suportaria as adversidades. E, no entanto, muitas vezes, ela vai embora…
Quando se perde a esperança
Se o paciente perde a esperança da cura, ele morrerá mais rápido. Se o atleta perde a esperança da vitória, ele perderá a competição. Se o pecador perde a esperança de que será perdoado, só terá diante de si a condenação.
Se o endividado perde a esperança da solvência, só lhe restará a miséria. Se o réu inocente perde a esperança na justiça, só o acolherá a perda da liberdade. Se os que vivem perdem a esperança no futuro, só lhes acolherá a morte.
E se os que creem perdem a esperança de que serão salvos e se deixam levar pelo pecado, só terão diante de si a perspectiva da condenação eterna.
É triste, muito triste, a condição do homem sem esperança. A esperança é o lado iluminado da fé, assim como “a fé é o fundamento da esperança; é uma certeza a respeito do que não se vê”, como ensinou o mesmo Apóstolo ao se dirigir aos Hebreus.
A fé e a esperança andam juntas, como gêmeas siamesas, perdida uma, perdida está também a outra e, consequentemente, os efeitos se fazem sentir na perda do sentido da vida.
Uma multidão de desesperançados
A realidade atual do mundo tem contribuído para a perda da esperança e, rapidamente, vai se formando uma multidão de desesperançados. Muitos entregam os pontos e se deixam vencer pela tristeza e pelo desânimo, e outros tantos nem se dão conta do que lhes vai na alma e caminham a esmo, de pecado em pecado, de ilusão em ilusão, seguindo as modas e as tendências do momento, como mariposas que se deixam consumir pelo brilho da lâmpada.
Estamos diante de um mundo no qual o enriquecimento honesto, fruto do resultado do trabalho ou dos negócios sólidos e sustentados pela ética, não é estimulado. Um mundo no qual os irmãos se digladiam e os cidadãos se dividem em lados opostos, estimulados pelo ódio, em detrimento do bem comum.
Um mundo no qual se forjam heróis de péssimo caráter e se banaliza a verdadeira heroicidade.
Mas, diante de tudo isso, torna-se ainda mais importante não se perder a esperança, que é a grande porta de saída de todos os males e a alternativa inigualável para vencer todas as desilusões.
A esperança não decepciona
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo foi traído, preso, humilhado, injustamente condenado e morto, boa parte dos que O seguiam se deixaram vencer pela descrença e pelo desânimo, e o Cristianismo sobreviveu graças àqueles que souberam manter viva a chama da esperança.
E, como a esperança não decepciona, hoje, dois mil anos depois, a mensagem do Evangelho continua viva e atual, e o Filho de Deus, que esteve na terra como homem, continua ao nosso lado, em espírito e também em Corpo, Sangue, Alma e Divindade na Sagrada Eucaristia.
E a mesma esperança que animou os primeiros discípulos, as santas mulheres e os Padres da Igreja permeou o caminhar nem sempre fácil da Igreja, e chegou até nós, renovada, hoje, com um Papa que traz em si – e compartilha conosco – a mesma chama viva da esperança, que passou de mão em mão, de santo a santo, até chegar aqui.
Paciência nas tribulações
Tribulação é algo que ninguém gosta de ter, mas, ainda de acordo com as explicações de São Paulo, e também por nossa experiência de vida, não podemos duvidar que ela “produz a paciência; a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana” (Rm 5, 3-5).
Muitas vezes, as provas, os desafios e as tribulações exigem de nós meses, anos e até décadas de paciência. O segredo está em não desanimarmos, por pior que as situações pareçam, pois, mesmo em meio aos piores sofrimentos, sempre haverá intervalos de refrigério para reabastecermos nossas forças, e nosso combustível será sempre a esperança.
Desistir nunca deve ser a nossa escolha, pois Deus pode estar querendo de nós apenas um pouco mais, alguns metros de caminhada para o destino, poucas braçadas para atingir a praia, os últimos degraus para que se dissipe a neblina e possamos ver que chegamos ao topo.
Não ao topo das glórias humanas, efêmeras e passageiras, mas ao topo da fé ao qual nos levou a persistência, alimentada pela esperança.
Somos filhos da esperança
E não podemos perder de vista que há uma esperança que está acima de toda a esperança: é aquela que Jesus Cristo e a Virgem Santíssima depositam em cada um de nós, fazendo-nos, portanto, filhos da divina esperança.
Jesus não resolverá nossos problemas, e Nossa Senhora não impedirá as nossas aflições, mas Eles nunca deixarão de pôr em nós toda a sua esperança, confiando que conseguiremos nos fazer favoráveis ao recebimento da graça de Deus, que alimentará a nossa esperança.
Somos filhos da esperança e, como tais, devemos nos comportar, assim como numa horta o agricultor lança as sementes e espera com paciência que elas germinem para que as hortaliças cresçam, fiquem viçosas e cumpram o seu papel na cadeia alimentar.
Às vezes, nem todas as sementes brotam e, entre as que brotam, as mudas precisam de cuidados, requerem ser aguadas, adubadas e, em alguns casos, podadas para cumprir o seu papel de alimento.
E, assim, ainda que sendo criticados e mal compreendidos, ainda que sendo julgados ultrapassados e fora de sintonia com a “evolução” do mundo, guardaremos o tesouro da fé e poderemos dizer com São Paulo:
“Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus”.
Somos filhos da esperança, e a esperança não engana, não decepciona. Sejamos persistentes, continuemos um pouco mais, até a vitória final que não tardará.
Por Afonso Pessoa
Deixe seu comentário