Fé e confiança: virtudes unidas por estreitos laços
Manter um laço de estreita afinidade entre a fé e a confiança em Deus constitui um dos cernes da vida de todo cristão.
Redação (02/10/2022 15:43, Gaudium Press) Quantas vezes não teremos ouvido de um amigo ou conhecido palavras de conforto e de ânimo diante das dificuldades da vida. Quiçá, uma palavra que expresse bem estas formas de encorajamento seja confiança.
O que vem ela a significar?
Acerca dela, afirmou Santo Tomás de Aquino: “Uma esperança fortalecida por sólida convicção”.[1] Todavia, esta esperança, de nenhuma maneira é ordinária e comum, pois está fortificada e fundamentada em outra virtude: a fé.[2] É ela quem torna a esperança inabalável aos assaltos das adversidades e contrariedades.
É a este respeito que tratará o Evangelho deste 27º Domingo do Tempo Comum.
Aumenta a nossa fé
O Evangelho de São Lucas relata um episódio da vida de nosso Senhor, no qual os Apóstolos, em determinada circunstância, suplicam-Lhe que lhes aumente a fé (cf. Lc 17,5). Ao que o nosso Senhor lhes responde:
“Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: Arranca-te daqui e planta-te no mar, e ela vos obedeceria” (Lc 17,6).
Vemos que nem mesmo os Apóstolos – agraciados com a presença, milagres e ensinamentos de Jesus – possuíam uma fé capaz de superar o tamanho de uma semente tão pequenina, como a de mostarda. Esta afirmação não é um exagero didático da parte de nosso Senhor, mas sim de uma realidade.
Entretanto, os Apóstolos sentiam-se na contingência e na necessidade de crescerem nesta virtude. Por isso, aproximaram-se de seu Senhor, e pediram-Lhe com sinceridade o aumento da fé, porquanto bem sabem que se puserem seus olhos e suas esperanças no mundo e na carne, caminharão errantes e inseguros.
Os santos e doutores da Igreja, como Santo Agostinho, confirmarão esta realidade, na qual os Apóstolos foram provados: “Que nenhum de vós pretenda colocar sua esperança no homem. O homem só é alguma coisa enquanto se une Àquele por quem foi feito. Porque, se d’Ele se afastar, nada mais é o homem, ainda quando se una a outros”.[3]
A veracidade destas palavras confirma-se diante da seguinte realidade: o futuro na vida de alguém – sobretudo do homem hodierno –, apresenta-se cheio de promessas, de realizações, de prosperidade e de sucesso na extensa jornada que se percorrerá. Estas “promessas”, por sua vez, parecem lhe garantir segurança e estabilidade… Contudo, basta acontecer um desastre, pequeno ou grande, para então se desencadear um processo de tristezas, de abatimentos e de revoltas interiores que facilmente levam à depressão.
Então, a pergunta se apresenta: como sanar esta enfermidade tão presente em nossa sociedade?
O remédio encontra-se na confiança absoluta em Deus. Como adquiri-la? Crescendo na fé! Manter um laço de estreita afinidade entre a fé e a confiança em Deus, constitui um dos cernes da vida de todo cristão.
O Padre Thomas Saint Laurent, em sua obra O livro da confiança, tece belos elogios àqueles que se lançam ao encontro desta virtude: “Poucos cristãos, mesmo entre os fervorosos, possuem essa confiança que exclui toda ansiedade e toda hesitação […] Não são dominadas pela convicção irresistível de que Deus, atento às suas provações, para elas Se volte a fim de socorrê-las”.[4]
E continua: “A provação nos assalta de mil maneiras. Ora os negócios temporais periclitam, o futuro material nos inquieta. Ora a maldade ataca-nos a reputação. A morte quebra os laços de afeições das mais legítimas e carinhosas. Esquecemos, então, o cuidado maternal que tem por nós a Providência… Murmuramos, revoltamo-nos, aumentamos assim as dificuldades e o travo doloroso do nosso infortúnio […] Se nos tivéssemos apegado ao Divino Mestre com uma confiança tanto maior quanto mais desesperada parecesse a situação, nenhum mal desta nos adviria”.[5]
Por que “nenhum mal nos adviria”? Porque conformaríamos nossa vontade com a de Deus, e estaríamos convictos de que Ele permite estas provações, mas nos reserva inefáveis alegrias na outra vida.
Peçamos a Deus, a exemplo dos Apóstolos, que pelos rogos da Bem-aventurada Virgem Maria, possamos crescer na virtude da fé, a fim de vivermos inteiramente confiantes no auxílio de sua Divina Providência.
Por Guilherme Motta
[1] S. Th., II-II, q. 129, art. 6, ad. 3.
[2] Cf. DE SAINT LAURENT, Thomas. O livro da confiança. Assumpção Teixeira: Campos, 1960, p. 15-16.
[3] SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LXXV, n.8. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v. XX, p. 992-993.
[4] DE SAINT LAURENT, Thomas. Op. cit., p. 8 e 9.
[5] Ibid., p. 11.
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