Fátima, Bento XVI e o porvir
A iminente Consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria sugere-nos considerações sobre a Igreja e Bento XVI.
Redação (18/03/2022 10:42, Gaudium Press) Após os inúmeros pedidos do povo católico e das recentes súplicas de bispos do rito latino da Ucrânia, causou surpresa o anúncio feito no dia 15, pela Santa Sé, a respeito da consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, a ser realizada no próximo dia 25 deste mês.
A envergadura da efetivação de um pedido feito há mais de cem anos pela Virgem de Fátima é tal que nos é difícil traçar algumas linhas a respeito; ousando imaginar as razões profundas que levaram a Santa Sé a tomar tal atitude agora.
A contrario sensu, parece arquitetônico não fundamentar essa tomada de posição no atual conflito russo-ucraniano, simples ponta do iceberg formado no oceano convulsionado no qual vivemos, onde o único farol capaz de apontar o norte é a Igreja.
Logo, na Igreja estão fundadas as causas mais profundas dos acontecimentos, visto que ela é a única capaz de deitar-lhes luz; e dentre seus membros, é claro, na figura do Papa, detentor do múnus de vicário de Cristo.
Com efeito, guerras, houve muitas, desde quando a Virgem de Fátima pediu que a Rússia fosse consagrada ao seu Imaculado Coração: nada menos que duas a nível mundial… Isso prova, portanto, não ser a guerra o estopim do anelo de consagrar a Rússia, mas bem outra coisa: não será esta guerra o despontar dos acontecimentos preditos por Fátima? E não será esta a razão pela qual os remorsos se reavivam e o anseio de afastar da Igreja as perseguições, os martírios e os sofrimentos do Santo Padre reclama, agora, tal consagração?
Neste caliginoso panorama, apesar da Missa ser presidida por Francisco, na qual se consagrará a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração, emerge outra vez a figura de Bento XVI, e por dois motivos:
Primeiro: Como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger teve acesso às profecias e aos arquivos secretos do Vaticano; mais do que ninguém, é testemunha do passado e conhecedor do futuro.
Segundo: Embora com notável fluxo vital, em se tratando de sua venerável idade, os 95 anos se aproximam. Haveria ainda muito tempo para atender ao pedido de Nossa Senhora, medindo e calculando muito bem todos os desdobramentos de tal ato?
Nesta esteira, recorde-se o leitor, fiel católico, o que afirmou Bento XVI a respeito da mensagem de Fátima, quando visitou em maio de 2010 o seu santuário: “Equivoca-se quem pensa que a missão profética de Fátima está acabada”.[1]
Tão cônscio de sua missão de pastor, guia e pontífice, Bento XVI passará para a história por ser um homem de quilate teológico-doutrinário ímpar; por ser um homem de ação, cuja obra é dificilmente mensurável; por ser, ainda, alguém que faz muito pela Igreja. Mas não será que, por força dos acontecimentos, a História o consignará como sendo um homem que, tendo feito tanto pela Igreja, muito deixou de fazer por ela?
Quando as promessas de Fátima forem realmente desveladas e dadas a conhecer em sua íntegra, por certo teremos surpresas em verificar que elas se cumpriam na pessoa desse homem chamado a ser o cooperador da verdade.
Entre Fátima e o porvir, Bento XVI é o centro: o elo entre o pedido e a realização.
Rezemos, pois, pela concretização desse seu desejo que é, antes, o de Nossa Senhora; mas estejamos atentos também ao porvir, pois receamos que somente venha a ser satisfeito esse anelo marial no momento em que as primeiras nações já começam a ser aniquiladas.
Por Bonifácio Silvestre
[1] BENTO XVI. Homilia no Santuário de Fátima. 13 de maio 2010. In: Insegnamenti. Vaticano: LEV, 2010, v. 6.
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