Faltou o amor na bandeira
A ideia primitiva era inscrever as seguintes palavras na bandeira: amor, ordem e progresso. Infelizmente, por falta de espaço, ficaram somente ordem e progresso.
Redação (19/11/2022 09:24, Gaudium Press) Dezenove de novembro é o dia da bandeira. Pouco tempo antes da proclamação da república, 15 de novembro de 1889, as filhas de Benjamin Constant, às pressas, coseram o pavilhão nacional. A ideia primitiva era inscrever as seguintes palavras: amor, ordem e progresso. Infelizmente, por falta de espaço, ficaram somente ordem e progresso. Faltou o amor.
Deus caritas est, Deus é amor, afirma o evangelista São João (1Jo 4, 16). De fato, a essência de Deus é o amor. O homem, feito à imagem e semelhança de Deus, também possui o amor como vocação. Na constituição federal está dito que os representantes do povo brasileiro se reuniram sob a proteção de Deus (preâmbulo), vale dizer, sob o influxo do amor divino. Por este motivo, por exemplo, um dos objetivos do Brasil é a erradicação da pobreza (constituição federal, artigo 3.º, III). Socorrer os pobres nas suas tribulações constitui uma das características do amor (Mt 25, 31-46).
Não podemos confundir os verbos amar e gostar. Este implica apenas sentimento. Aquele, por seu turno, denota a disposição íntima de praticar o bem e a justiça. Com efeito, Deus faz o sol nascer para todos, ímpios e justos. O homem tem de se comportar divinamente em relação ao seu semelhante. Destarte, dar copiosamente é outra característica importante do amor. O papa Bento XVI afirmou que em Deus tudo é fartura; um amor transbordante. Inspirado pelo Evangelho do amor, São Francisco de Assis cunhou a conhecida máxima: é dando que se recebe.
Se o vocábulo amor estivesse grafado no pendão nacional, juntamente com ordem e progresso, o amor divino seria o princípio medular de nossa nação. A ordem, isto é, as instituições jurídicas e civis, mergulharia no amor e, consequentemente, tenderia cada vez mais à edificação de uma sociedade realmente fraterna. O progresso não estaria limitado a poucos privilegiados, mas seria dom precioso repartido entre o povo brasileiro; cuidar-se-ia, ainda, de um progresso não somente no sentido material, mas moral, em que o respeito ao ser humano surgiria como o valor máximo da pátria.
Nutro a esperança de que um dia ainda escrevamos a palavra amor na bandeira do Brasil. A Terra de Santa Cruz foi fundada numa missa celebrada em 1500. Daquele ditoso momento em diante, o Brasil nunca mais deixou de ser impelido pelo amor, malgrado o pecado (injustiça social, crimes etc) que medra entre nós. Acrescentar a palavra amor a este eminente símbolo nacional, a bandeira, não é de somenos relevância, pois importará na assunção de novo projeto de vida para todos os brasileiros, tendo o amor como a lei básica.
Edson Luiz Sampel
Presidente da Comissão Especial de Direito Canônico da 116ª Subseção da OAB-SP
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