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Façamos parte deste reino

Todos nós, quando somos batizados, recebemos como herança um trono no Reino dos Céus, entretanto, nossas faltas podem nos fazer perder esse tesouro.

Cristo Rei - Igreja de Santo Domingo, Cuenca (Equador) - Foto: Juan Carlos Villagomez

Cristo Rei – Igreja de Santo Domingo, Cuenca (Equador) – Foto: Juan Carlos Villagomez

Redação (22/11/2025 19:50, Gaudium Press) Hoje a Santa Igreja celebra a Solenidade de Cristo Rei. Como se explica essa realeza? Por que Nosso Senhor é Rei, e como é o seu reinado? Vejamos o que a liturgia nos diz.

Rei por excelência

Nosso Senhor é verdadeiramente Rei, no entanto, não da forma distorcida tantas vezes propagada pelo mundo.

Com efeito, o governo humano, quando separado da fé, baseia sua autoridade na força das armas, nas riquezas e nos homens, tendo por objetivo conquistas territoriais, a perpetuação no poder e todo tipo de felicidades terrenas. Com o tempo, entretanto, vemos que tanto suas bases quanto seus fins são ilusórios: as armas, muitas vezes se voltam contra o próprio governante; o dinheiro facilmente passa de um bom servo a um mal senhor e os homens, quando afastados da graça de Deus, não há mal que não possam cometer. Em suma, a felicidade de um governo puramente humano é uma utopia irrealizável.

A Realeza de Cristo é totalmente diversa. É o Senhor do Universo que recebeu do Pai Eterno a autoridade sobre todas as criaturas. Além disso, o título de Rei lhe é devido por vários motivos.

Rei por herança

Com efeito, diz o salmista: “Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo” (Sl 2,7-8). Cristo é o Filho Unigênito de Deus, sendo assim, herdeiro universal (cf. Hb 1,2).

Rei por ser Homem-Deus

Sendo Deus, é também Criador de todas as coisas e, portanto, por um simples ato de vontade, pode fazer acalmar uma tempestade, ressuscitar um morto ou qualquer outro fenômeno de ordem natural ou sobrenatural.

Porém, por ser homem, o título de Rei é mais apropriado ao Filho do que às outras duas Pessoas da Santíssima Trindade, pois, para ser rei dos homens é indispensável ter a mesma natureza dos homens. Assim, como afirma Mons. João, “Deus não encarnado é Senhor, Deus feito homem é o Rei”.[1]

Rei por conquista

Ao compramos algum bem temos sobre ele pleno direito, ainda mais quando custou nossos esforços. Pois bem, Cristo nos resgatou das garras do demônio derramando todo o Seu Preciosíssimo Sangue durante a Paixão.

Rei por aclamação

Quando somos batizados, escolhemos Jesus como Rei de nossos corações e nossas almas, e anualmente, por ocasião da Páscoa, renovamos essa eleição.

Somos chamados a fazer parte do Seu reino

Em sua infinita misericórdia, Deus nos transforma, pelo Batismo, de criaturas em filhos d’Ele, irmãos e coerdeiros de Cristo. É nos prometido um lugar no Seu Reinado nos Céus, desde que permaneçamos unidos a Ele pela santidade.

Entretanto, pelo desregramento interior causado pelo pecado original somado às nossas faltas, resulta impossível à nossa natureza cumprir a Lei e os Mandamentos sem um auxílio sobrenatural da graça, que é concedido por Deus a cada momento.

Contudo, há um obstáculo que nos torna incapazes de recebê-lo: o pecado. O pecado nos deixa insensíveis à graça. É o que vemos no Evangelho de hoje.

“Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: ‘Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!’ Mas o outro o repreendeu” (Lc 23, 39-40a)

Podemos entrever nessas palavras a atitude de alma de alguém cego ao sobrenatural, pois o mau ladrão não consegue enxergar a realidade que está por detrás daquela aparente derrota, e, assim, recusa qualquer influxo da graça dado por nosso Senhor naqueles últimos momentos.

Quão contrária é a reação do bom ladrão. Por ter se deixado penetrar pela graça, teve a capacidade de reconhecer suas faltas e debilidades, de arrepender-se verdadeiramente e aceitar a pena que lhe era devida. Assim, pôde escutar as maravilhosas palavras do Mestre: “Em verdade vos digo: Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).

Assim, peçamos hoje, por meio de Nossa Senhora esta graça: nunca ficarmos insensíveis à Voz de Deus, que nos é dirigida todos os dias. Dessa forma, também poderemos ouvir essa promessa que o Salvador fez ao bom ladrão.

Por Artur Morais


[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 6, p. 490.

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