EUA: Senador Durbin recusou o prêmio da Arquidiocese de Chicago
A forte reação negativa dos bispos norte-americanos e o alcance global da polêmica acabaram levando o político a declinar da homenagem.
Redação (02/10/2025 17:51, Gaudium Press) A decisão do Cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, de conceder o prêmio “Lifetime Achievement” (uma honraria pelos êxitos alcançados durante a vida pública de um cidadão) ao senador democrata Dick Durbin, em reconhecimento ao seu trabalho em prol dos imigrantes, provocou uma reação intensa e polarizada entre bispos, teólogos e grupos pró-vida.
O senador Durbin possui uma longa trajetória de defesa pública do aborto, razão pela qual muitos prelados, entre eles Dom Thomas Paprocki, de Springfield — onde Durbin reside oficialmente —, o consideram “inapto para receber qualquer honra católica”. Dom Paprocki recordou que Durbin está impedido de receber a Eucaristia nessa diocese desde 2004, justamente por causa de seu apoio consistente ao aborto. E argumentou que a concessão de um prêmio a alguém com esse histórico fere a coerência da doutrina católica e pode escandalizar os fiéis.
Por outro lado, o Arcebispo Salvatore Cordileone, de São Francisco, manifestou solidariedade a Paprocki e alertou que a clareza e a unidade da Igreja estão em risco, pois tal condecoração dilui a mensagem central da fé acerca da dignidade humana e da vida desde a sua concepção.
Segundo o site The Pillar, aplaudir publicamente alguém que defende uma legislação contrária à doutrina católica sobre a vida suscita uma crise de credibilidade e confusão para os fiéis.
No entanto, o Cardeal Cupich justificou que sua ação está em conformidade com as diretrizes da Congregação para a Doutrina da Fé de maio de 2021, que recomendam que os bispos “se aproximem e dialoguem” com políticos católicos em sua jurisdição para compreender suas posições e assinalar o ensinamento da Igreja. Ele destacou que Durbin registrou-se em uma paróquia de Chicago e considera-o sob sua responsabilidade pastoral. Cupich defendeu que o prêmio não é um aval irrestrito ao parlamentar, mas um reconhecimento específico à atuação de Durbin em defesa dos imigrantes, de cuidado com os pobres e de promoção da justiça social, dimensões também contempladas pela doutrina católica.
Cupich insistiu que não se tratava de relativizar a questão do aborto, mas de valorizar aquilo que o senador fez de positivo. Para o purpurado, a condenação total apenas fecha portas ao diálogo, ao passo que o estímulo pode abrir horizontes e até favorecer futuras conversões.
Ademais, as críticas não se limitaram ao território norte-americano: Roma também foi questionada sobre o caso, e o próprio Papa Leão XIV, em resposta a jornalistas, ofereceu declarações interpretadas como um convite a considerar a totalidade da vida pública de um político. O Santo Padre recordou que há muitas áreas em que a doutrina católica deve ser defendida, sem excluir a centralidade da vida nascitura, mas sugerindo que a análise não se reduza a um único tema.
A polêmica, entretanto, não arrefeceu. Diversos bispos continuaram a manifestar preocupação com a confusão que tal gesto poderia gerar entre os fiéis, ao transmitir a ideia de que a defesa da vida pode ser relativizada diante de outros compromissos políticos. A tensão interna cresceu a tal ponto que a própria Arquidiocese corria o risco de ver a homenagem transformar-se em um escândalo público, colocando em xeque a clareza do testemunho católico na esfera social.
Foi então que o próprio Durbin, talvez para evitar um constrangimento maior, comunicou ao Cardeal Cupich sua decisão de recusar o prêmio. Assim, o que começou como uma tentativa de destacar a solidariedade aos imigrantes terminou como um episódio de desgaste e divisão. A recusa do senador encerra, ao menos por ora, uma controvérsia que colocou bispos, fiéis e até o Papa no centro de um debate acalorado.
O episódio deixa clara a dificuldade de conciliar, no cenário político atual, a coerência integral da doutrina católica com as alianças pragmáticas que se estabelecem em torno de outros temas sociais. Enquanto alguns defendem que a vida nascitura é o critério absoluto para a participação política, outros insistem na necessidade de uma visão mais ampla. No entanto, a realidade é que, depois de tantas palavras, comunicados e declarações, quem pôs fim à disputa não foi um sínodo de bispos nem uma decisão colegiada da Igreja, mas um simples gesto de um leigo.
Por Rafael Tavares
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