Eu sou a Imaculada Conceição
Imaculada Conceição é o nome d’Aquela em quem o Espírito Santo vive de um amor que é fecundo.
Redação (08/12/2023 10:14, Gaudium Press) Eu sou a Imaculada Conceição”. Tão singelas palavras, com que Nossa Senhora Se identificou a Santa Bernadette Soubirous em Lourdes, foram objeto da constante meditação do Mártir da Caridade, São Maximiliano Maria Kolbe. Religioso franciscano, teólogo competente e grande devoto da Santíssima Virgem, teceu ele várias considerações sobre esse título, o qual julgava ocultar um sublime mistério a ser desvendado: “Estas palavras saíram da boca da própria Imaculada; por isso devem indicar com a máxima precisão e no modo mais essencial quem Ela é”; “Este nome contém muitos mistérios que com o tempo serão revelados”.
E a esse respeito, concluía: “Deus disse a Moisés: ‘Eu sou Aquele que sou’ (Ex 3, 14): Eu sou a própria existência, por isso não tenho princípio; a Imaculada, ao contrário, disse de Si mesma: ‘Eu sou a Conceição’, mas, ao contrário de todos os seres humanos, a ‘Conceição Imaculada’”.
A Imaculada Conceição define a pessoa da Mãe de Deus
A partir desses pressupostos, o Santo começa a construir suas elevadas considerações: “Meditemos nessas palavras. Ela não respondeu: ‘Eu sou Aquela que foi concebida sem pecado’, ou ‘Aquela que foi preservada do pecado original’, ou outras formulações semelhantes. Ela disse: ‘Eu sou a Imaculada Conceição’, como se isso significasse não somente um fato, não somente uma dignidade ou qualidade, mas designasse sua própria pessoa: ‘Eu sou’ (cf. Ex 3, 14; Jo 8, 58; Ap 1, 8). A imaculabilidade se identifica com Nossa Senhora e Nossa Senhora com a imaculabilidade personificada”.
Segundo São Maximiliano a Imaculada Conceição é, portanto, a própria definição da pessoa da Mãe de Deus.
Espírito Santo: a infinita e incriada Imaculada Conceição
Enquanto o Verbo é a “Imagem do Deus invisível” (Col 1, 15), o conhecimento que o Pai tem de Si mesmo, o Espírito Santo é o Amor entre o Pai e o Filho, Amor pessoal no seio da Trindade, Amor “que vem de Deus, e é Deus, […] pelo qual se derrama a caridade de Deus em nossos corações, fazendo com que a Trindade habite em nós”, segundo o belíssimo voo de Santo Agostinho.
Aqui chegamos ao cerne do pensamento marial de São Maximiliano, e à razão do nome Imaculada Conceição. Tomando a palavra conceição – recepção da vida pela união conjugal – como análoga ao fruto do amor entre esposos, São Maximiliano começa por tecer considerações surpreendentes sobre a vida interna da Trindade. Poucas horas antes de ser levado preso pela Gestapo, ele ditou este breve resumo de seu pensamento a respeito:
“Quem é o Pai? O que constitui o seu Ser? A geração, já que Ele gera o Filho, da eternidade e para a eternidade gera sempre o Filho. Quem é o Filho? É aquele que é gerado, já que sempre e desde a eternidade é gerado pelo Pai. E quem é o Espírito Santo? É o fruto do amor do Pai e do Filho. Fruto do amor criado é uma conceição criada. Portanto, o fruto do amor, do protótipo deste amor criado, não é senão uma conceição. Em consequência o Espírito é uma conceição incriada, eterna, é o protótipo de qualquer conceição de vida no universo. […] O Espírito, por conseguinte, é uma conceição santíssima, infinitamente santa, imaculada”.
Para o Santo, portanto, Imaculada Conceição – considerando o termo conceição como analogia do amor – é o nome com que podemos nos dirigir ao Espírito Santo, Amor pessoal no seio da Trindade. Se o Espírito Santo é a infinita e incriada Imaculada Conceição, Maria é a Imaculada Conceição criada e finita. Eis o sentido mais profundo do nome com o qual a Santíssima Virgem Se deu a conhecer em Lourdes. Donde São Maximiliano infere: “Se entre as criaturas uma esposa recebe o nome do esposo, pelo fato de pertencer a ele, une-se a ele, torna-se semelhante a ele e, na união com ele, converte-se em fator criador de vida, com mais motivo o nome de Espírito Santo, ‘Imaculada Conceição’, é o nome d’Aquela em quem Ele vive de um amor que é fecundo em toda a economia sobrenatural”.
Desse modo, o amor entre esposos na terra é uma pálida imagem do vínculo entre o Espírito Santo e Maria: “Nas semelhanças criadas a união do amor é a mais íntima. A Sagrada Escritura afirma que serão dois numa só carne (cf. Gn 2, 24) e Jesus sublinha: ‘Assim já não são dois, mas uma só carne’ (Mt 19, 6). De uma maneira sem comparação mais rigorosa, mais interior, mais essencial, o Espírito Santo vive na alma da Imaculada, no seu ser e a fecunda, e isso desde o primeiro instante da sua existência, por toda a vida, quer dizer, para sempre”.
O complemento da Santíssima Trindade
São Maximiliano não considera a Imaculada Conceição somente no seu aspecto negativo, ou seja, a preservação completa da mancha de pecado, pelos méritos da Redenção operada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Para ele, a palavra imaculada, aplicada a Maria, significa sobretudo uma união perfeita de vontade com o Espírito Santo.
Por isso, São Maximiliano chega a afirmar que a Santíssima Virgem não só foi concebida sem pecado, mas é “a própria imaculabilidade” ou a “imaculabilidade personificada”, pois, “assim como uma coisa é um objeto branco e outra coisa a sua brancura, uma coisa é um objeto perfeito e outra a sua perfeição”. Ou seja, Ela é Imaculada não apenas por ser isenta do pecado, mas sobretudo por estar unida plenamente à vontade divina sem mácula alguma.
Em outras palavras, Nossa Senhora é como que a “personificação do Espírito Santo”, segundo explica o Pe. Peter Damian Fehlner, teólogo contemporâneo e grande autoridade na Mariologia de São Maximiliano.
Com verdadeira ousadia o santo franciscano chega a fazer uma analogia entre a Encarnação do Verbo e a união entre Maria e o Espírito Santo: “[O Espírito Santo] está na Imaculada, como a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho de Deus, está em Jesus, mas com esta diferença: que em Jesus há duas naturezas, a divina e a humana, e uma única Pessoa, a divina. A natureza e a pessoa da Imaculada, ao contrário, são distintas da natureza e da Pessoa do Espírito Santo. Esta união, porém, é tão inefável e perfeita que o Espírito Santo atua através da Imaculada, sua Esposa… Assim, pois, venerando a Imaculada, veneramos de maneira muito especial o Espírito Santo”.
Como o Filho foi enviado pelo Pai para Se encarnar e, sobretudo, unir Deus à criação, o Espírito Santo foi enviado pelo Pai e pelo Filho para deificar Maria e, desse modo, unir a criação a Deus. N’Ela se realiza o milagre do retorno da obra dos seis dias ao Padre Eterno. A esse respeito, comenta São Maximiliano: “O retorno a Deus, a reação igual e contrária procede pelo caminho contrário ao da criação. No que se refere à criação [este caminho vem] do Pai através do Filho e do Espírito, enquanto aqui, por meio do Espírito, o Filho encarna-Se no seio d’Ela e, através d’Ele, o amor retorna ao Pai. Ela, integrada no amor da Santíssima Trindade, converte-Se desde o primeiro instante de sua existência, para sempre, eternamente, no complemento da Santíssima Trindade”.
Com efeito, “na união do Espírito Santo com Ela, não só o amor une estes dois seres, mas o primeiro deles é todo o Amor da Santíssima Trindade, enquanto o segundo é todo o amor da criação, e assim nesta união o Céu se une com a terra, todo o Céu com toda a terra, todo o Amor Incriado com todo o amor criado”.
São Maximiliano nos convida a confiar em Maria Santíssima de todo o coração, recorrendo a Ela em tudo e para sempre.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 264, dezembro 2023. Por Plinio Bosco.
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