Gaudium news > Estou cuidando do Templo?

Estou cuidando do Templo?

Qual é o estado do meu templo? Se Nosso Senhor nele entrasse, encontraria também vendilhões e cambistas impedindo a comunicação com Deus?

Basílica São João de Latrão, Roma Foto: Gustavo Kralj

Basílica São João de Latrão, Roma Foto: Gustavo Kralj

Redação (08/11/2025 14:33, Gaudium Press) Na festa da dedicação da Basílica de São João de Latrão, a Igreja nos mostra a atenção e o cuidado que Deus tem para com os templos, não só os físicos, mas também, e sobretudo, para com os espirituais, as nossas almas.

Mãe e cabeça de todas as Igrejas

A Basílica de São João de Latrão recebe o título de “Omnibus urbis et orbis ecclesiarum mater et caput”, isto é, “Mãe e cabeça de todas as igrejas de Roma e do mundo”. Isto se dá por dois motivos: por ser ela a Catedral do Papa — ao contrário do que normalmente se pensa devido à projeção que a Basílica de São Pedro possui — e por ser a primeira Basílica da Igreja Católica.

Nos anos do Imperador Nero, responsável por uma cruel perseguição aos cristãos, um cônsul romano chamado Pláucio Laterano foi indiciado como suspeito de conspirar contra o Império e, por isso, teve seus bens confiscados — entre eles o antigo palácio de Latrão —, e foi condenado à morte.

Anos mais tarde, o Imperador Constantino doou a propriedade ao Papa São Melquíades, que foi reformada, decorada e consagrada como a primeira Basílica da Cristandade e sede dos sucessores de São Pedro no ano de 324, pelo Sumo Pontífice São Silvestre.

A importância do templo

Para entendermos melhor a importância do fato que comemoramos hoje, é necessário que recordemos o contexto no qual ele se passou. A Igreja Católica passava por inúmeras e crudelíssimas perseguições, sendo os fiéis obrigados a celebrarem os Sacramentos nas catacumbas (os cemitérios cristãos) sob grande risco de serem descobertos e executados.

Quando Constantino promulgou o Edito de Milão, em 313, concedendo a liberdade de culto aos católicos, diversas Igrejas começaram a ser construídas por todo o império, dando início a uma nova fase do Catolicismo, na qual ele não mais se esconderia nos subterrâneos das catacumbas, mas ostentaria o símbolo do Redentor no alto de edifícios.

O cuidado com o templo

Nesta festa, a Igreja nos separa leituras que mostram a importância que deve ser dada aos locais de culto.

“Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados” (Jo 2,13-14).

Segundo a Lei, os judeus deviam oferecer em holocausto alguma vítima — bois, cordeiros, pombos ou rolas — e pagar o imposto anual em moeda judaica. Como é de se entender, aqueles que vinham de um local distante não traziam a oferenda e possuíam o valor em moedas diferentes, sendo necessário fazer o câmbio para pagar o imposto.[1]

Todas essas necessidades motivaram o estabelecimento de cambistas e vendedores de animais no Pátio dos Gentios, junto ao Templo; entretanto, aquilo gerava uma atmosfera imprópria ao recolhimento requerido pelo lugar sagrado. Quando Jesus entrou e viu o Templo numa tal profanação, inflamou-se de santa cólera e agiu com força.

“Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas” (Jo 2,15).

Uma cena impressionante, na qual vemos que aquelas mãos que abençoam, que fazem os cegos verem, os surdos ouvirem, os mudos falarem, os paralíticos andarem, os mortos ressuscitarem, aquelas mãos também castigam. E castigam por qual motivo? Por profanar um lugar sagrado, por “fazer da casa do Pai uma casa de comércio” (Cf. Jo 2,16). Vemos o quanto Deus zela pelo Templo.

Também nós somos templos

A segunda leitura nos dá o ensinamento central da liturgia de hoje: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3,16). Nós também somos templos a partir do momento em que recebemos o Sacramento do Batismo. Se Jesus tinha tanto cuidado com o templo material, quanto não devemos nós velar por esse templo vivo de nossa alma?

Portanto, peçamos à Nossa Senhora que Ela tome conta de nosso templo, que nunca permita que o profanemos, que deixemos o demônio montar nele sua mesa de comércio e que a preocupação com o dinheiro e as coisas materiais nos torne surdos à voz de Deus e nos faça merecedores do terrível destino que o Apóstolo nos fala: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário” (1Cor 3,17).

Por Artur Morais


[1] Cf. TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. V, p. 1015-1016.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas