Estamos menos inteligentes?
Como serão as próximas gerações? Apáticos? Colados em monitores? Sem emoções nem relações humanas? Menos inteligentes?
Redação (10/05/2021 09:23, Gaudium Press) É expressiva e até pitoresca a identificação das gerações que nasceram a partir do final da Segunda Guerra Mundial com o mundo digitalizado no qual nos encontramos .
Os nativos digitais
Uma das denominações mais difundidas é de “nativos digitais”, aqueles nascidos após o início desta “era”, e “imigrantes digitais”, cunhadas pelo escritor norte-americano Marc Prensky em 2001. Qualificação muito discutida pois argumentam que foram os “imigrantes” que tornaram possível a revolução digital e não precisamente os “nativos”. Se defendem os “velhos imigrantes” afirmando que: uma coisa é ser experiente no uso das mídias digitais, outra é, o conhecimento dela, então, não é por ser “velho” que está ancorado no passado e por ser “jovem” que é versado e inteligente.
Ao longo das décadas, as gerações foram catalogadas como: os “baby boomers” (1949 e 1968), perante os quais – na sua tranquilidade social e familiar – irrompe a televisão. O rádio tinha uma presença que exigia deles imaginação e desenvolvimento do pensamento daquilo que foi relatado. Passaram da máquina de escrever ao teclado, seguidos pelas novas gerações.
Viveram fortes transformações, testemunhando, uns como ativistas, outros como espectadores, a “revolução de maio de 68” em Paris, com seus slogans repercutindo no âmbito cultural e religioso.
Os ‘nets’
Com o surgimento da Internet, surgiram os “nets” ou “geração net”. Dentro desta qualificação geral, aparece primeiramente a chamada “geração X” (1969-1980). Conviviam com a televisão em uma comunicação unilateral, não tinham possibilidade alguma de participação. Ao surgirem os computadores, começa uma comunicação recíproca. Eles cresceram no meio digital e os consideram como uma ponte geracional entre os anos 1960 e 1993, aproximadamente. Eles são filhos de “baby boomers” e pais dos “millennials” ou “geração Y” (1981-1993).
As gerações seguintes receberam vários títulos: “Y” ou “centennials” (1994-2010) e “Z” ou “decennials” (2011). Hiperconectados, todas as suas atividades passam pela tela, eles vivem imersos no mundo digital. Nessa “virtualidade”, vivem letárgicos e refugiados no imediatismo. As datas geracionais aproximadas, os consideramos como grupos que compartilham uma identidade contemporânea diante do mundo que os cerca.
Em meio a essa onda de avaliações, também vêm à tona os chamados “gamers”, levados pelos videogames; e o singular apelido de “geração muda”, já que vivem de mensagens instantâneas, sem chamadas telefônicas.
Dentro deste panorama começa a polêmica diante dessa caminhada e dependência digital. Muitos se perguntam se, ao longo dos anos, houve um aumento no nível de inteligência. Normalmente acontecia, com o passar do tempo, que os descendentes eram mais inteligentes do que os mais velhos. O que está acontecendo hoje?
Temores que se repetem
Chama a atenção que, quando a imprensa apareceu, se pensava que os textos escritos poderiam minar a memória e a sabedoria das pessoas. No século passado, o nascimento do rádio foi considerado uma ameaça, e com razão, pois distraía as crianças dos deveres de casa. Chegada a televisão, a reação foi ainda mais assustadora. Esta parecia caminhar para o seu desaparecimento superado pela entrada em cena de modernas tecnologias que invadem sigilosamente a vida cotidiana. Filmes, videogames, redes sociais, etc, estimulam as distrações, prejudicando a concentração e, como consequência elementar, a memória.
Estudaram, por meio de varreduras cerebrais, vínculos entre o uso da tela e o desenvolvimento cerebral em crianças, mostrando seu impacto na linguagem. Maior exposição à tela, pior linguagem expressiva, até dificuldade na velocidade em nomear objetos, impactam na plasticidade neural, em suas habilidades vitais, essenciais para o aprendizado. Em resumo: atraso no nível de conhecimento, na linguagem, consequências socio-emocionais e no desenvolvimento intelectual.
Adentrando-nos no meio do redemoinho desta polêmica, alguns afirmam que estamos ficando mais burros. Com base em estudos realizados através do denominado “efeito Flynn”, se descobriu que o QI, que sempre aumentava desde os anos 90, nos últimos vinte anos diminuiu acentuadamente nos países mais desenvolvidos.
O tema do esforço
Afirmam que a internet se converteu em uma memória externa, delegando a atividade cerebral aos dispositivos eletrônicos. Tornando-se essencial para não poucos, facilitando a agitação diária de várias maneiras. Para nos movermos já não nos esforçamos, um botão indica-nos o caminho ou muda de canal sem nos movermos. A tecnologia nos proporciona uma solução para tudo. Informações diretas, rápidas e breves, mas sem aprofundamento. Estamos imersos em informações e todos os tipos de estímulos. Não usamos nossos próprios recursos cerebrais. Estamos cada vez mais dependentes. Desenvolve-se, assim um vício no qual as pessoas não conseguem se separar do celular, que mesmo desligado continua a exercer sua influência.
Um estudo da ‘Royal Society for Public Health’ afirma como as redes sociais diminuem nossas capacidades intelectuais. Temos um acesso gigantesco à informação e nossas buscas se limitam a leituras superficiais. Oprimidos pelo excesso de informação, nossa concentração e reflexão diminuem.
A Inteligência é a capacidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar, compreender, aprender rapidamente. De geração em geração, de acordo com o chamado “efeito Flynn”, considerou-se que, com o desenvolvimento social, melhorando as condições de vida e educação, o quociente de inteligência aumentava. Mas está sendo notado o oposto.
O neurocientista Michel Desmurget (Lyon, 1965), diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, com dados concretos e conclusivos, mostra como os dispositivos digitais estão afetando seriamente o desenvolvimento neural de crianças e jovens.
Há uma diminuição na qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e emocional; o tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura, etc.) está desaparecendo; o sono diminui, afetando a atenção e a retenção; a concentração torna-se difícil, afetando a aprendizagem, o cérebro é incapaz de desenvolver suas capacidades.
Há mais de dez anos, Nicholas Carr, um escritor norte-americano, se perguntava se essa situação estava nos tornando mais estúpidos. O chamaram de exagerado. Autor do livro ‘Superficiais: o que a internet está fazendo com a nossa mente’, afirma: “O uso desta tecnologia tem grande repercussões mentais porque nos rouba a atenção, e isso nos faz pensar mais deficientemente. Está se perdendo habilidades como a contemplação, a reflexão e a introspecção” (BBC News Mundo 4-2-2021).
Como serão as próximas gerações? Será uma geração de apáticos, colados aos monitores, sem emoções ou relações humanas. Eles passaram da conversa para a digitação, ficaram “mudos”.
Regulemos o uso da tecnologia nos mais novos, por que não, os adultos também procedam a isso. Sob pena de…
(Publicado originalmente em Prensa Gráfica de El Salvador, 2-5-2021)
Por Padre Fernando Gioia, EP
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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