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Em busca de uma saída para o Caminho Sinodal alemão e a Igreja alemã

The Catholic Herald publicou um editorial que apresenta uma espécie de panorama geral sobre a complexa situação da Igreja Católica alemã.

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Redação (21/12/2025 10:52, Gaudium Press) A pergunta “O Caminho Sinodal alemão abandonou o catolicismo?” não vem de grupos católicos marginais ou de veículos de imprensa rotulados como “ultraconservadores” — termo frequentemente usado para estigmatizar vozes mais alinhadas à ortodoxia tradicional. Não. Quem a formula é um editorial do The Catholic Herald, publicação católica britânica de grande influência no mundo anglófono. Trata-se de uma interrogação que já ecoa entre muitos fiéis e que chegou aos protagonistas do processo sinodal alemão, como o bispo de Mainz, Dom Peter Kohlgraf. Em sua homilia na solenidade da Imaculada Conceição, o prelado rejeitou as acusações de que o episcopado alemão teria deixado de ser católico, afirmando que tais críticas distorcem sua posição.

“Repetidas vezes leio que eu e outros bispos na Alemanha já não somos católicos”, lamentou o bispo.

Sua defesa, porém, revelou-se frágil. Após afirmar que a fé não se resume a um conjunto de questões polêmicas, Dom Kohlgraf rejeitou a visão do catolicismo como “uma verdade imutável que deve ser proclamada em todos os tempos, independentemente dos problemas e acontecimentos atuais”. “Para mim, ser católico também significa aceitar a possibilidade de me equivocar”, enfatizou.

As dúvidas sobre a catolicidade desse caminho sinodal alemão não surgem do nada. Elas têm fundamentos sólidos, como recorda o The Catholic Herald.

Desde 2019, o Caminho Sinodal aprovou uma série de resoluções que exigem mudanças radicais no ensinamento da Igreja, por exemplo, bênçãos para casais do mesmo sexo, ordenação feminina, revisão da moral sexual e a criação de um conselho sinodal permanente de bispos e leigos.

Por sua vez, a Assembleia Sinodal votou a favor de permitir bênçãos na Igreja para uniões homossexuais, declarando que tais relações “devem ser colocadas sob a bênção de Deus” — em direta contradição com a declaração vaticana de 2021 e com toda a tradição da Igreja.

Em setembro de 2022, 83% dos bispos alemães apoiaram textos que defendem uma moral sexual mais liberal, em conflito aberto com o Catecismo da Igreja Católica. Em fevereiro de 2022, o Caminho Sinodal endossou, no documento “Mulheres nos Ministérios e Ofícios da Igreja”, a admissão de mulheres ao ministério ordenado, desafiando a carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de São João Paulo II, de 1994. Em uma votação da sessão, 92% dos delegados sinodais e 82% dos bispos votaram por explorar o acesso feminino à ordenação.

O bispo emérito de Osnabrück, Dom Franz-Josef Bode, sugeriu que doutrinas como o sacerdócio exclusivamente masculino são condicionadas historicamente e que poderiam evoluir — ideia que ecoa exatamente as palavras de Dom Kohlgraf sobre a ausência de doutrinas imutáveis na Igreja.

Agora, o debate centra-se no chamado Conselho Sinodal, órgão misto de bispos e leigos nascido do Caminho Sinodal Alemão, que pretende exercer governo efetivo na Igreja alemã. Essa proposta já provocou múltiplos encontros — e tensões — entre o episcopado alemão e a Cúria Romana, para ver se Roma consegue de alguma forma enquadrá-la na estrutura hierárquica da Igreja fundada por Cristo, e não em um modelo democrático.

Afinal, o Senhor não disse: “Reúnam-se todos em assembleia, analisem a situação, debatam e depois votem”. Ele afirmou: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12) e “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer será condenado” (Mc 16,15-16). O Redentor também não declarou: “Eu sou a luz do mundo, uma luz que varia conforme as épocas…”.

Portanto, temos uma Igreja que, com valiosas e não poucas exceções, há muito tempo caminha na heterodoxia doutrinária. Diante disso, as discussões sobre uma estrutura mais ou menos católica para o Conselho Sinodal perdem relevância: mesmo o melhor sistema de governo é ineficaz quando cidadãos e funcionários já não buscam o bem comum nem são inspirados pela doutrina divina.

“Essas avaliações, provenientes de múltiplos setores e facções da Igreja, apontam para um consenso crescente de que o Caminho Sinodal ultrapassou os limites da reforma legítima e seguiu uma trajetória amplamente vista como heterodoxa”, afirma o The Catholic Herald. “Alguns já argumentaram que os desvios consistentes do catecismo já colocaram os bispos dissidentes fora do ensinamento católico, e a condenação vinda de vários membros da hierarquia simplesmente confirma essa realidade. Outros gostariam de obter mais esclarecimentos, desejando que o Vaticano emitisse sua própria decisão vinculativa e até mesmo impusesse sanções àqueles que promovem ensinamentos contrários à fé católica”.

E o The Catholic Herald pergunta: o que fará Roma a respeito?

Em seu retorno a Roma vindo de Beirute, Leão XIV foi muito delicado ao tratar do assunto, após a pergunta da jornalista Anna Giordano, da Ard Radio:

“O caminho sinodal não é o único na Alemanha; a Igreja inteira celebrou um sínodo e a sinodalidade nos últimos anos. Há grandes semelhanças, mas também algumas diferenças marcantes entre como o “Synodaler Weg” foi conduzido na Alemanha e como poderia continuar de forma melhor na Igreja universal. Por um lado, gostaria de dizer que há espaço para o respeito pela inculturação. O fato de que, em um lugar, a sinodalidade seja vivida de um certo modo e, em outro, de modo diferente, não significa que deva haver ruptura ou fratura. Penso que isso é realmente importante de recordar. Ao mesmo tempo, temo que muitos católicos na Alemanha acreditem que certos aspectos do caminho sinodal celebrados até agora no país não representem suas esperanças para a Igreja ou sua maneira de viver a Igreja.

“Portanto, é necessário mais diálogo e escuta dentro da própria Alemanha, para que nenhuma voz seja excluída, para que a voz dos mais poderosos não silencie a voz daqueles que podem ser muito numerosos, mas que não têm um espaço para falar e ser ouvidos. De modo que suas próprias vozes e expressões de participação na Igreja sejam de fato escutadas.

“Ao mesmo tempo, como tenho certeza de que sabem, o grupo de bispos alemães encontrou-se, nos últimos anos, com um grupo de cardeais da Cúria Romana. Também ali está em andamento um processo para tentar garantir que o Caminho Sinodal alemão não se desvie, por assim dizer, daquilo que deve ser considerado um caminho da Igreja universal. Estou certo de que isso continuará. Acredito que haverá alguns ajustes de ambas as partes na Alemanha, mas espero sinceramente que as coisas se resolvam de forma positiva”.

É claro que o Pontífice fala como pastor, que deseja reunir todas as ovelhas em um único rebanho. Ele faz isso após uma viagem cujo tema principal era justamente a unidade entre os cristãos. Mas, mesmo assim, ele não deixa de advertir, com palavras suaves e diplomáticas, que a Igreja alemã corre o risco de se separar da Igreja universal. Ele espera que isso não aconteça, mas pode ser que sim.

No entanto, o que constata o The Catholic Herald é que muitos afirmam que esse afastamento já ocorreu, há uma divisão de corações há muito tempo, e isso ocorreu no que é a base da vivência cristã, ou seja, daquilo que identifica os católicos como tais, como seguidores do Senhor, e que, portanto, o tema não é simplesmente uma questão de “carpintaria”, de boa gestão diplomática, de gestos caridosos ou de paz.

É por isso que muitos, como também vimos constatar no Herald, já começam a clamar ao Vaticano “por um maior esclarecimento”, por “decisões vinculativas”, mais fortes, e até mesmo por “sanções”. Esses gestos, para dizer com excessiva franqueza, poderiam até mesmo fazer recapacitar os hierarcas-funcionários, mais mundanos e aburguesados, que temeriam perder seu status e seus benefícios. E, acima de tudo, impediriam a maioria dos católicos alemães de saber o que é católico e o que não é, ou seja, o que é fiel à Luz do mundo e o que não é.

É um equilíbrio difícil que o Pastor deve encontrar, buscando reunir todas as ovelhas, curar as feridas, mas também sabendo que existem lobos que podem sequestrá-las. Certamente esse equilíbrio ocupou tempo e recursos mentais do Papa Prevost.

Esse tema específico surgirá no próximo consistório? É muito provável que sim, pois há muito tempo é um assunto delicado para a Igreja universal. (CCM)

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