Doutor Magnífico
Santo Anselmo escreveu diversas obras sobre temas teológicos, sendo considerado o “Pai da Escolástica” e, posteriormente, recebeu o título de “Doutor Magnífico”.
Redação (04/01/2023 11:50, Gaudium Press) O Papa Beato Urbano II convocou Santo Anselmo para participar de um concílio a ser realizado em Bari – Sul da Itália –, em outubro de 1097.
Nesse concílio estavam presentes 143 bispos, muitos dos quais, influenciados pelos gregos, defendiam a heresia de que o Espírito Santo procedia só do Pai e não do Filho.
As discussões se tornaram calorosas e, em determinado momento, o Papa dirigiu-se a Santo Anselmo, chamando-o de pai e mestre, e pediu-lhe que falasse.
Sua exposição foi tão luminosa que os prelados eivados pelos erros dos gregos se converteram. E o Beato Urbano II, confirmando que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho como ensinara Santo Anselmo, excomungou quem negasse essa verdade.
Algum tempo depois, Santo Anselmo foi à Lyon – Sudeste da França – cujo arcebispo era seu fiel amigo, e depois se dirigiu a Cluny.
Terrível castigo de Guilherme, o Ruivo
Em julho de 1099, morreu o Beato Urbano II; seu sucessor, Pascoal II, havia sido monge de Cluny. O Rei da Inglaterra Guilherme, o Ruivo, rejeitou o novo Papa porque este apoiava Santo Anselmo.
Mas no ano seguinte, fazendo uma caçada, Ruivo foi ferido acidentalmente por uma flecha lançada por um de seus ajudantes e caiu morto coberto de sangue. Todos entenderam que era um terrível castigo divino.
A pedido de bispos e nobres da Inglaterra, Santo Anselmo voltou para esse país e foi recebido triunfalmente. O novo rei Henrique I, irmão de Ruivo, restituiu-lhe todas as terras e rendas da arquidiocese de Cantuária que haviam sido roubadas pelo monarca falecido.
O arcebispo primaz abençoou o casamento de Henrique I com Matilde, filha do Rei da Escócia, a qual venerava Anselmo como um santo.
Com a mente voltada para horizontes grandiosos, Santo Anselmo escreveu uma carta a Balduíno I, irmão de Godofredo de Bouillon, felicitando-o por ter sido coroado Rei de Jerusalém no Natal de 1100, na Basílica da Natividade em Belém.
Henrique I reconcilia-se com Santo Anselmo
Mas Henrique, influenciado por péssimos conselheiros, quis continuar a exercer o pretenso direito à investidura, distribuindo cargos e benefícios eclesiásticos. Todos os bispos concordaram com o rei; somente Santo Anselmo resistiu-lhe firmemente.
Então o monarca reuniu o Parlamento em Londres, em setembro de 1102, e declarou a Santo Anselmo que deveria viajar a Roma a fim de tratar da questão com o Papa Pascoal II. Era uma forma de lhe impor um exílio velado.
Em abril de 1103, Santo Anselmo, estando com 70 anos de idade, saiu da Inglaterra rumo à Cidade Eterna, onde foi acolhido por Pascoal II o qual já havia recebido a visita de um enviado de Henrique I. O problema levantado por este não ficou inteiramente resolvido.
Santo Anselmo viajou a Lyon e ali permaneceu durante seis meses. Recebeu uma mensagem do Rei da Inglaterra a qual lhe informava que só poderia voltar para essa nação se aceitasse as condições impostas pelo monarca.
A Inglaterra mergulhara em imensa desordem eclesiástica e civil; por todo o país espalhava-se a mentira de que isso ocorria por culpa de Santo Anselmo, o qual havia abandonado a arquidiocese de Cantuária. Até os seus monges acreditaram nessa infame calúnia…
Henrique I foi à Normandia – Noroeste da França –, onde vivia seu irmão mais velho Roberto Courteheuse, duque dessa região, o qual pretendia ocupar o trono da Inglaterra. E ali Henrique recebeu uma graça divina.
Santo Anselmo encontrava-se na Abadia de Nossa Senhora do Bec. Henrique para lá se dirigiu e reconciliou-se com o Arcebispo de Cantuária. Logo depois, em agosto de 1106, ambos voltaram à Inglaterra.
No ano seguinte, Santo Anselmo promoveu um concílio em Londres, no qual foram proclamadas as decisões de Pascoal II, condenando a investidura promovida por leigos. Henrique I aprovou os decretos papais e a Inglaterra entrou na devida ordem. O Santo regressou à Cantuária.
Após tantas lutas e sofrimentos, Deus resolveu chamar a Si esse heroico varão. Não podendo mais levantar-se de seu leito, ele exortava os que o visitavam a batalharem pela Igreja. E dando a bênção a todos que o circundavam, sua alma foi levada ao Céu em 21 de abril de 1109.
Pai da Escolástica
Santo Anselmo escreveu diversas obras sobre temas teológicos, e mais de 450 cartas contendo profundos ensinamentos. É considerado o “Pai da Escolástica”[1], a qual alcançará seu esplendor com São Tomás de Aquino, no século XIII. Posteriormente, recebeu o título de “Doutor Magnífico”.
Escolástica provém da palavra latina “schola” – escola, referindo-se aos estabelecimentos de ensino existentes nos mosteiros e catedrais da Idade Média, onde se lecionavam o trivio (Gramática, Retórica e Lógica) e o quadrivio (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). Essas sete matérias eram chamadas “artes liberais”.
Pela atividade racional iluminada pela Fé procurava-se demonstrar ou esclarecer as verdades, sabendo que há mistérios, como o da Santíssima Trindade, indemonstráveis pela simples razão.
Segundo a escolástica, existe uma “harmonia intrínseca e substancial entre Fé e razão”. [2]
A respeito de Santo Anselmo, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:
“Esse homem marca o século XI pela sua ciência, sua piedade, pelas suas lutas, e leva a Causa Católica à vitória.
“Então, considerando a vida dele, tem-se a impressão de uma fortaleza formidável, de um homem que encheu o seu tempo, venceu, e cuja glória perdura por todos os séculos por causa das vitórias que ele obteve em favor da Fé.
“Quando se olha isso, fica-se com a sensação da solidez, da força, da grandeza de toda a Idade Média, que contrasta com a pequenez, o efêmero, a índole de ‘matéria plástica’ de todas as coisas de nossos dias. E essa impressão não é falsa; é verdadeira porque nos mostra a solidez da estatura dos grandes homens que marcaram a Idade Média. […]
“Peçamos a Nossa Senhora que nos dê forças e nos compenetre da verdade, para entendermos bem o seguinte: agora, como durante o Reino de Maria, a nossa vida deve ser de luta constante e, no dia em que não tivermos lutado, precisamos nos compenetrar de que não carregamos a Cruz de Cristo, e que esse foi um dia frustrado em nossa existência.
“Não lutar é não sofrer; não sofrer é não carregar a Cruz de Cristo. Para um católico, um dia passado longe da Cruz de Cristo, longe de Maria Santíssima, é um dia cancelado, um dia em branco.” [3]
A memória de Santo Anselmo é celebrada em 21 de abril.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] DICTIONNAIRE DE THÉOLOGIE CATHOLIQUE. Paris: Letouzey et Ané. 1909, v. 1-I, coluna 1343.
[2] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes. 2007, p. 401.
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santo Anselmo, varão de muitas lutas. In Dr. Plinio. Ano XVIII, n. 205 (abril 2015), p. 29.
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