Dom Pelayo e a Batalha de Covadonga
“Nós esperamos que, desses rochedos, sairá a salvação de uma pátria que vós traístes. O Todo Poderoso, após castigar servidores rebeldes, mostrará sua misericórdia aos filhos submissos”.
Redação (05/02/2022 15:15, Gaudium Press) No século VII, houve, na Espanha, um santo bispo ao qual Nossa Senhora apareceu e colocou em seus ombros um rico paramento litúrgico.
Ildefonso era membro de uma das mais distintas famílias reais visigodas. Recebeu primorosa instrução e, ainda muito jovem, entrou para um mosteiro das redondezas de Toledo, centro da Espanha, do qual se tornou abade.
Começou a difundir-se nesse país uma heresia que atacava sobretudo a virgindade de Maria. “Sua propaganda encontrava na raça judia, tão numerosa na Espanha, ardentes auxiliares”.
Tomado de ardente zelo pela Mãe de Deus e de ódio ao mal, Santo Ildefonso escreveu uma obra em defesa da virgindade perpétua de Nossa Senhora, que teve grande repercussão no país. Tendo falecido o Bispo de Toledo, em 657, ele foi escolhido para ser seu sucessor.
“Eu lhe trago um vestimento de glória”
Certa noite, encontrava-se o Santo com o clero rezando Matinas na Catedral de Toledo, quando de repente “a basílica ficou iluminada com um deslumbrante esplendor. A divina Maria apareceu sentada no trono episcopal: ao seu redor, um coro de Anjos e virgens fazia ecoar nas abóbadas uma harmonia celeste. ‘Tu me tens louvado dignamente, disse Ela a seu servidor. Eu lhe trago uma vestimenta de glória.’”
Nossa Senhora colocou sobre os ombros de Santo Ildefonso uma riquíssima casula. Terminada a aparição, ele celebrou Missa revestido da casula.
Santo Ildefonso entregou sua bela alma a Deus em 667. Numa nave lateral da grandiosa Catedral de Toledo, em estilo gótico, se encontra uma pedra sobre a qual os pés da Santíssima Virgem pousaram. E no presbitério existe a maravilhosa imagem da Virgen Blanca.
Expansão do islamismo
Algum tempo depois, ocupou o trono de Espanha um péssimo rei visigodo que proibiu o celibato dos bispos. A imensa maioria deles resistiu, e diversos foram condenados à morte ou ao exílio.
Foram substituídos por intrusos que, até aos altares, levavam suas concubinas. A diocese de Sevilha foi ocupada por Oppas, filho de um rei visigodo. Os judeus, que haviam sido expulsos do país, foram chamados de volta e se uniram aos inimigos da Igreja na perseguição contra os católicos.
Enquanto isso, o maometismo – que prega a poligamia – se estendia por várias regiões. Maomé, morto em 632, conseguira unificar, em torno de sua religião, a Península Arábica, situada entre o Mar Vermelho e os Golfos de Omã e Pérsico.
Os maometanos são chamados muçulmanos, sarracenos e mouros. A religião espalhada por Maomé é também denominada Islã ou islamismo.
Meca, na Arábia Saudita, passou a ser a cidade sagrada dos muçulmanos, onde existe enorme mesquita dentro da qual está colocada a caaba, um cubo feito de pedras, cujo lado mede aproximadamente doze metros, sempre coberta por tecido de cor preta.
Num dos cantos da caaba, encontra-se a “pedra negra” que, segundo os maometanos, foi trazida do Paraíso por um anjo. Muçulmanos do mundo inteiro viajam a Meca a fim de prestar culto, circulando em torno da caaba sete vezes.
Atualmente, milhões de muçulmanos de todo o mundo a visitam, mas a entrada na cidade é proibida a pessoas que não sejam adeptos dessa religião.
Chegaram eles inclusive a dominar Jerusalém, em 637, comandados pelo sucessor de Maomé, califa Omar, o qual ordenou que fossem abatidas todas as cruzes.
Logo depois invadiram a Pérsia, onde 110.000 habitantes morreram. Mas Omar tolerou o culto do fogo que era praticado pela população. Nesse país, que passou a denominar-se República Islâmica do Irã, a religião oficial é o maometismo.
Conquistaram Alexandria, no Norte da África, onde havia 4.000 palácios, 4.000 balneários públicos, bem como 400 teatros e lugares de diversão.
Um bispo traidor
Em 711, um exército de turcos maometanos, composto de 25.000 homens, tomou Gibraltar. Posteriormente eles conquistaram a Espanha e estabeleceram sua capital em Córdoba, Sul do país. Assim, o reino visigodo desapareceu após ter durado três séculos.
Os católicos fiéis se refugiaram nas montanhas das Astúrias – Norte do país –, sob o comando de Dom Pelayo, de nobre família, que eles elegeram como rei.
Certo dia, o herói inconforme recebeu, na gruta onde se instalara e que dedicara à Mãe de Deus, um general muçulmano que trazia uma bolsa carregada de ouro. Tendo como intérprete o Bispo Oppas, o mouro prometeu a Dom Pelayo liberdade e riqueza se aceitasse o domínio dos sequazes de Maomé.
Tomando a palavra, Oppas disse a Dom Pelayo:
– Vós sabeis que a Espanha inteira está sujeita aos árabes. Que esperais de alguns fugitivos enterrados nos abismos dessa montanha?
Dom Pelayo respondeu :
– Nós esperamos que, desses rochedos, sairá a salvação de uma pátria que vós traístes. Bispo desertor, retornai aos infiéis nos quais pusestes vossa confiança e dizei-lhes que não tememos sua multidão. O Todo Poderoso, após castigar servidores rebeldes, mostrará sua misericórdia aos filhos submissos.
124.000 muçulmanos dizimados
Passado algum tempo, os muçulmanos apareceram no sopé das montanhas e entraram num extenso desfiladeiro.
Então, os católicos fizeram rolar sobre eles grandes pedras e os crivaram de flechas. A Providência interveio em favor deles, desfechando uma terrível tempestade que dizimou as tropas inimigas: 124.000 morreram. Essa foi a vitória de Covadonga, ocorrida no ano 718.
Assim, teve início a Reconquista espanhola que durou oito séculos e terminou quando os Reis católicos, Fernando e Isabel, dominaram Granada, em 1492.
Dom Pelayo foi o fundador do Reino das Astúrias, o qual ele governou até o ano 737, quando entregou sua alma a Deus. Seus restos mortais estão depositados num túmulo, nas proximidades da bela Basílica de Santa Maria la Real de Covadonga, construída de pedra rosada.
Por Paulo Francisco Martos
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