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Divisão do Império Romano

Em meio às corrupções e horrores, Bizâncio teve grandeza; herança do Império Romano, com sua força, lógica e espírito de organização acrescidos da graça do Batismo.

Em meio às corrupções e horrores, Bizâncio teve grandeza; herança do Império Romano, com sua força, lógica e espírito de organização acrescidos da graça do Batismo.

Redação (06/04/2021, 17:19 Gaudium Press) Constantino havia se mudado para Bizâncio. Posteriormente, o Império dividiu-se em duas partes: a do Ocidente e a do Oriente, cujas capitais eram respectivamente Roma e Bizâncio. Esta foi logo depois chamada Constantinopla.

Bizâncio teve pulcritude própria

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comenta:

“O Império do Oriente, sobretudo Bizâncio, parece-me ter sido chamado a realizar o ideal do Império uno e cristão, católico, mais do que Roma e o Império do Ocidente, o qual já estava em decadência e não tinha mais o brilho do Império do Oriente.

“Em meio às corrupções e horrores, Bizâncio teve uma indiscutível grandeza, herança do Império Romano, com sua força, lógica e espírito de organização acrescidos da graça do Batismo. E por isso com um pulchrum próprio, que não chegava a ser o de uma sociedade orgânica perfeita; esta deveria ter essa grandeza natural, porém aprimorada pela graça que, sendo amiga da natureza, pousa sobre ela e a sacraliza, dando-lhe fulgores próprios, os quais não excluem a glória natural que, de acordo com um desígnio da Providência, se tenha acumulado.

“O Império Cristão do Ocidente parece-me ter sido chamado a representar mais a força enquanto vencendo. E o do Oriente, a força já vitoriosa que se inclina sobre os escombros daquilo que ele havia derrotado e, não mais com temor, mas com amor, vai selecionando de dentro deles coisas para adornar a sua própria glória. De maneira que há um quê de síntese no Império Romano do Oriente. […]

“É preciso ponderar ainda que as situações dos dois impérios eram diferentes. O Império do Ocidente tratava com vastidões europeias “caipirosas”, mas dominadas por ele até o momento das invasões dos bárbaros; tinha, portanto, uma estrutura cultural mais unitária. E o do Oriente trabalhava com povos podres, caindo aos pedaços, mas numerosos e com algum poder.

Poderia ter sido o encanto do universo

“O melhor de tudo isso era o estado de alma que essas várias justaposições criavam, recompondo, unindo todos esses passados gloriosos, salvando-os, numa tentativa de introduzi-los na Igreja e de irmaná-los. De algum modo, portanto, restabelecendo uma ordem legal mais próxima do feudalismo: protetorados, povos com relativas independências, com seus governos próprios e muito mais autônomos.

“A ideia de dividir o Império em dois subimpérios — impérios irmãos, unitários, mas diferentes e parecidos entre si como os dois lados da face; não idênticos, pois ficariam monstruosos — já mostrava certa composição da velha tradição unitária romana com condições novas, que impeliam sair daquela camisa de força da unidade primitiva da época heroica das conquistas, mas sem perder o sonho de unidade, o desejo de um todo. […]

“Se o Império Bizantino tivesse sido ortodoxo, submetendo-se à velha Roma em qualquer de suas fases; se o irmão mais rico, mais forte, tivesse reconhecido a primogenitura do irmão mais pobre, mais fraco, entretanto mais espiritual, que era o Império do Ocidente — seriam como um Esaú bom e um Jacó bom —, isso seria o encanto do universo.

“Dessa forma se teriam afirmado reciprocidades de espírito, estilos de vida, enfim, todo um colorido da alma humana do qual não temos ideia, mas que era uma possibilidade da natureza e da Igreja Católica. […]

Esplendor superior ao das pirâmides do Egito

“Teríamos assim uma beleza magnífica. O esplendor humano que daí deveria nascer, eu considero, sob vários aspectos, superior ao das pirâmides. Fazer uma obra destas, na ordem do espírito, vale muito mais do que as pirâmides. E ainda que se pudesse provar que as pirâmides eram deslocadas por enigmáticas forças mentais não diabólicas, elas valeriam menos do que essa construção. O Sacro Império teria sido filho dessa obra.

“E tudo constituindo uma espécie de síntese, onde também entraria um lado que não vejo ter sido muito aproveitado na Antiguidade: o panorama.

“Roma, por exemplo, não tem panorama. Se não fosse Constantino, mas um homem de hoje, em vez de Constantinopla ele pensaria em restaurar Atenas, em reconstruir a Acrópole ou fazer desta um museu monumental da cidade. E teria feito outras estultices do gênero, que absolutamente não atormentaram Constantino.

“Eles estavam tão certos da sua continuidade com Roma e a Grécia, que não se preocuparam muito com aquelas ruínas; aquilo tudo foi aproveitado como o senso faz e o plano não faz. Não sou contrário ao plano, quando este não é senão a florada magnífica das premissas dadas pelo senso. Nesse caso, sou muito favorável ao plano.

“Agrada-me saudar tudo isso, como formando um conjunto no qual a graça punha qualquer coisa que a Basílica de Santa Sofia ainda hoje exprime. É preciso reconhecê-lo. E os minaretes acrescentam algo. Dir-se-ia que faltava à Santa Sofia alguma coisa à maneira da graça do minarete que nasceria. Isso proporcionou um conjunto que deveria ter dado glória a Nossa Senhora e a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Castidade, penitências, vida mística, milagres

“Essa glória tinha um preço: o equilíbrio que todas essas coisas devem possuir. Eu vejo na formação dos grandes solitários, no povoamento dos desertos, nas macerações, nas penitências fenomenais, na vida mística, nos milagres, alimento para o outro aspecto. […]

“À beleza espiritual dessa época se integram, como em todas as eras da Igreja, manifestações de virgindade e castidade — as virgens de Deus consagradas em Bizâncio, Roma e outros lugares.

“Mas o grande traço eram as penitências lancinantes, os Confiteor capazes de encher desertos, as tristezas desoladas de ter pecado, os pedidos de perdão do indigno, do miserável que de repente começa a resplandecer como um querubim.

“Isso era próprio a uma humanidade pecadora que ia entrando para o seio da verdadeira Igreja, e precisava se arrepender dos desbordamentos do passado. A Igreja herdava os esplendores, expurgava o mundo das demasias e ia formando as pessoas rumo à ordem perfeita. Assim, com penitências monumentais, ela limpava o que o paganismo tinha trazido de ruim.”

Por não terem sido fieis à Santa Igreja, ambos os Impérios soçobraram: o do Ocidente, invadido pelos bárbaros, desapareceu em 476; o do Oriente precipitou-se em heresias e, em 1453, ruiu quando Maomé II tomou Constantinopla.

Considerando a gravíssima situação moral em que o mundo atual se encontra, peçamos a Nossa Senhora que nos dê Fé, confiança e firmeza para enfrentarmos os terríveis acontecimentos que a mensagem de Fátima prenuncia. 

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História da Igreja” – 46)

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  CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Império Romano nos planos de Deus. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIV, n. 160 (julho 2011), p. 23-26.

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