Diante do Coronavírus: Ficar em casa, na ‘igreja doméstica’
Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas tenham sido colocadas em quarentena em todo o mundo, com o objetivo de interromper a pandemia.
Redação (Segunda-feira, 30-03-2020, Gaudium Press) Todo mundo opina sobre o coronavírus e suas terríveis consequências. Curiosamente, no ano de 2018, a Organização Mundial da Saúde relatou a possibilidade de um vírus desconhecido, com maior letalidade do que a gripe comum, poderia provocar uma pandemia capaz de alterar completamente a vida mundial, advertência que passou… sem ser escutada. Antes disso, em 2015, Bill Gates, famoso empresário da informática, asseverava que: “a próxima grande ameaça à humanidade não seria uma guerra, mas uma pandemia. Não haverá mísseis, mas micróbios”. Por seu lado, infectologistas de peso, afirmam que pode haver milhões de mortos devido aos efeitos do COVID-19. Existem aqueles que, desconsiderando a situação, propõem deixar a epidemia correr, pois do contrário… os hospitais entrarão em colapso; também os que concluem que não voltaremos mais ao cenário anterior.
As notícias nos surpreendem por sua quantidade, nos estremecem por serem trágicas. Basta considerar que, na Itália, se chegou ao número de 793 mortes em um único dia. Causam profunda tristeza as notícias de Bérgamo, uma cidade de 120 mil habitantes no norte deste país: hospitais cheios, falta de leitos, cemitérios e crematórios, filas de caixões, quase todas as famílias foram atingidas, muitas pessoas morrendo sozinhas nos hospitais, sacerdotes dando a bênção a um falecido sem ninguém por perto; 10 sacerdotes já morreram.
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Entre as sérias medidas preventivas recomendadas -podemos dizer a principal- está a de ficar em casa, não sair para coisas não autorizadas, evitando ser portadores silenciosos desse inimigo invisível. Isolamento total preventivo e obrigatório, em família, que se estenderá ao longo de não sabemos quantos dias. Drásticas disposições contra uma vertiginosa propagação. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas tenham sido colocadas em quarentena em todo o mundo, com o objetivo de interromper a pandemia.
Nos encontramos diante de um grande desafio para a ciência e para a sociedade, pois de fato, até o momento, não há uma estratégia de saída diante de acontecimento tão singular, inesperado pelo qual o mundo todo está passando.
Acabaram os entretenimentos ou diversões favoritas, concertos, eventos esportivos, cinema ou teatro, ginásios, saídas para comer, festas, sair para tomar cerveja com os amigos. Muito mais triste é que, até ir para uma igreja para assistir a Missa ou rezar, foi proibido. Entramos em uma espécie de reclusão, estranha, mas imperiosa, somente devemos sair de nossas casas para buscar alimento, remédios ou responsabilidades indispensáveis.
Transpomos, quase instantaneamente, de um estilo de vida para outro. Estamos juntos ao nosso núcleo humano mais próximo: a família. Nunca pensamos que ocorreria isso. Estamos confinados a uma vida bem diferente da agitação diária que estávamos levando. Algo que tínhamos deixado um pouco de lado: a vida de família. De repente, voltamos aos tempos antigos, quando, como dizia a virtuosa dama brasileira Dona Lucilia Ribeiro dos Santos, “viver é: estar juntos, olhar-se e querer-se bem”. Voltamos para casa, ficamos no que São João Paulo II sempre lembrava: uma “igreja doméstica”.
Não faltam os artigos incentivando as famílias a fazer um “ordo”, uma rotina de vida, pois as coisas mudaram, estamos em casa o dia todo, as crianças não vão à escola, apesar de terem lições de casa, compartilhamos todas as refeições, os trabalhos domésticos, os momentos de lazer, estamos juntos.
Poucos são os que aprofundam o fato de estarem fechados no canto que o homem mais deseja, sua própria casa: sua esposa, seus filhos, esse pequeno núcleo que funciona como uma “igreja”, mas doméstica. Esse lugar onde os corações serão como um altar onde todos colocarão os sacrifícios da vida cotidiana; no qual os pais terão que pregar, principalmente com seu testemunho de vida; no qual, lamentavelmente, não deixarão de ocorrer as divergências, que deverão ser resolvidas com um pedido de perdão e um perdoar, como se fosse um confessionário. O que mais? Acrescentaria momentos de silêncio, como existem nas igrejas, para pensar, meditar, refletir.
A que singular circunstância, de novo estilo de viver, nos levou esta misteriosa pandemia! Nos retirou dos ritmos da vida moderna, alguns dos quais nos tinham “escravizados” às coisas da terra, penetrando ao mais belo que pode estar um homem e uma mulher, a vida de família, junto com seus filhos.
O eterno exemplo da Sagrada Família
Claro que, isto terá seus vai e vens, suas lutas, suas cruzes, seus cansaços, seus aborrecimentos. Diante disto, queridos irmãos, é preciso que levantemos os olhos ao Céu. Deus permitiu isto. Alguma razão, que não compreendemos, terá. Por isso, o principal será manter o espírito religioso, a elevação de nossos pensamentos, na agitação diária, mais nas coisas do Céu, que nas da terra, o rezar em família. Criando um ambiente marcado pela presença de Deus, e pelo exemplo, tanto dos pais, como entre os irmãos. Teremos, como dizia o Papa Emérito Bento XVI, que: “redescobrir a beleza de rezar juntos em família como na escola da Sagrada Família de Nazaré. E assim chegar a ser realmente um só coração e uma só alma, uma verdadeira família”.
Assim, como está bem aconselhado levar uma rotina, não muito distante da que se levava, não podemos deixar de colocar, prioritariamente, a recitação do Santo Rosário –recordemos que a força de rezar é incalculável–, como também a leitura do Evangelho do dia ou a vida de algum Santo. Estará ali Nosso Senhor Jesus Cristo acompanhando-os, e protegendo-os, porque “quando dois ou mais se reúnem em meu nome, ali Eu estarei com eles”.
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Que a Sagrada Família, ícone e modelo de toda família humana, ajude a cada um de vocês nestes cruciais momentos. Que lhes conceda um convívio fraterno e amoroso, um dar-se uns aos outros, e os acompanhem com sua proteção incessante.
O mundo de hoje vive nas trevas da Fé, se esqueceu completamente do Deus que o criou. Diante desta grande dificuldade, como o é uma epidemia de caráter mundial, recordemos o Salmo 22: “O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará”. Confiemos. Não fiquemos desesperados com a falta de comida, a falta de hospitais, a morte de um familiar próximo. Recorramos ao sobrenatural com muita Fé. Nada temamos.
Diante de momentos difíceis, que podem se chegar, dobremos os joelhos diante de alguma imagem de Nossa Senhora, pedindo a Deus Nosso Senhor, de quem procede toda bondade, para que nos proteja: Salvai-nos Senhor, do mal do COVID-19!
(Publicado originalmente em La Prensa Gráfica de El Salvador, 29 de março de 2020).
Por Padre Fernando Gioia, EP
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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