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Cuide-se bem!

Enquanto alguns gastam o que têm e o que não têm para cuidar do corpo e da aparência, alterando-a com recursos estéticos e cirurgias plásticas, outros descuidam tanto de si, por fora e por dentro, que até deixam de parecer humanos.

Redação (09/11/2025 11:04, Gaudium Press) Os cuidados consigo mesmo ficam numa região limítrofe. Alguns dedicam-se a isso mais do que a qualquer outra coisa, e outros, pelos mais diferentes motivos, deixam de cuidar do corpo, da mente e, sobretudo, da alma.

Há aqueles que acreditam que todo cuidado com o corpo ofende a Deus, confundindo modéstia com desleixo e, dessa forma, desobedecem ao importante preceito de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Com essas palavras, Nosso Senhor deixou claro que o amor a Deus vem em primeiro lugar e, em seguida, o amor a si, servindo de parâmetro ao amor que devemos ter pelos outros.

Cada época tem a sua beleza

Amar-se implica cuidar de si. Cuidados que vão desde a higiene pessoal, a alimentação saudável, a atenção para com a saúde, o exercitar-se a fim de não atrofiar nervos e músculos, o respeito ao repouso até o zelo pela aparência.

Ninguém precisa ter o espelho como seu melhor amigo e perder tempo precioso diante dele, conferindo detalhes insignificantes que, para alguns, causam grandes preocupações, como o cabelo que diminui ou branqueia ou as rugas que, com a idade, vão ocupando seu lugar na pele outrora firme e brilhante.

Desde o nascimento até a morte, cada época tem a sua beleza, os seus encantos e reflete diferentes aspectos de nossa trajetória.

Quando pequenos, precisamos ser cuidados por nossos pais, mas, até nessa área, vemos alguns deslizes. Há mães que cuidam bem de suas crianças, mantendo-as limpas e saudáveis. Há outras, que não são tão cuidadosas e, com isso, colocam em risco a saúde dos pequeninos.

E, infelizmente, existem mães que exageram, vestindo seus filhos como se fossem mini-adultos, usando roupas e maquiagens que sensualizam as crianças, pondo em risco o futuro de suas almas, por crescerem sobre uma base frágil e deturpada.

Conflitos na juventude e no envelhecimento

Quando jovens, enfrentamos as maiores brigas com o espelho e a aparência. Nessa fase, muitos procuram até se esconder; outros partem para o exibicionismo, alguns para a degradação, com o uso de piercings, tatuagens e trajes inadequados.

De um modo geral, uma grande quantidade de pessoas se cuida, se arruma e vive em paz e em harmonia com seus corpos e sua aparência.

Começamos a envelhecer no dia em que nascemos, e esse processo nos acompanha por toda a vida. No entanto, para muitos, o problema surge quando começam a notar as mudanças que anunciam que a juventude está entrando em seu ocaso, e a velhice passa a dar os seus sinais.

Eis o seu grande martírio: a não aceitação da passagem do tempo e das transformações que isso traz, que se tornam mais visíveis nas últimas décadas de nossa peregrinação pela terra.

Pessoas que se deformam

Temos visto o crescimento acelerado de clínicas e métodos de tratamento estético que prometem prolongar os aspectos da juventude.

Acreditando nessa utopia, muita gente gasta o que tem e o que não tem com cirurgias, lipoaspiração, aplicação de Botox e outras substâncias que podem ser nocivas e muito perigosas.

Assim como entre os adolescentes e jovens vemos muitas aberrações na aparência, entre os “novos velhos” também.

Tem gente que até nos incomoda quando olhamos para o seu rosto, de tão esticado, artificial, inchado e nada harmonioso que está; corpos moldados pelo silicone, pelos anabolizantes e pelo excesso de exercícios para definir a musculatura.

Há casos que até assustam! Pessoas que se deformam e se transformam em outras, quebrando o ciclo natural do amadurecimento.

É claro, cada um cuida de si da forma que lhe parece mais adequada, porém, a luta e os gastos exorbitantes com tratamentos de beleza para tentar encontrar o “elixir da eterna juventude” não é cuidar de si, mas apegar-se a algo que se esvai pelos vãos dos dedos, e fugir da parte mais satisfatória da vida.

Há os que engordam demais pelo descontrole no comer, há os que emagrecem demais pela anorexia, que é a outra face do vício da gula. Há os que se “bombam” e os que se destroem em vícios, vivendo na imundície, totalmente descuidados da aparência e da saúde, assemelhando-se mais a bichos que a seres humanos.

Da mesma forma, há os que ferem seus corpos no excesso de trabalho e aqueles que os relaxam entregando-se às garras da preguiça.

Cuidar da alma

Bem, até agora só falamos sobre o corpo e este artigo pode estar parecendo matéria de revista de moda, mas, longe disso, nosso objetivo é falar da alma e dos cuidados que ela requer, afinal, como São Paulo disse: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habi­ta em vós, o qual recebes­tes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?” (I Cor 6,19).

Isso é muito importante, pois, sendo templos do Espírito Santo, devemos cuidar desse templo, ou seja, cuidar de nós.

Esse cuidado deve começar internamente, e se refletirá no exterior, porque, quando cuidamos da parte de dentro, automaticamente cuidaremos bem da parte de fora, sem dar a ela nem mais e nem mesmo importância do que ela possui.

Assim, cumprimos o que São Paulo diz no versículo seguinte: “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.” (I Cor 6, 20).

No entanto, se nos preocuparmos mais com a parte de fora, nem ela será bem cuidada e nem o nosso interior.

Contudo, cuidar-se não significa apenas tratar das questões de asseio, bons modos no vestir e aceitação de nossa aparência em cada fase. Devemos também ser bondosos conosco no que tange à nossa alma e ao nosso coração.

Há pessoas que são tão críticas e exigentes consigo mesmas que se tratam pior do que seus inimigos as tratariam.

Há uma passagem no Breviário da Confiança que diz: “Quando alguém se fere não deve arranhar, irritado, a ferida, mas pensá-la cuidadosamente e acalmar-se”.

Isso, longe de significar que devemos ser coniventes com nossos erros, nos ensina a sermos humildes para reconhecer nossa fraqueza humana, pedirmos perdão a Deus e seguirmos adiante.

“Coragem! Deus nos ajudará!”

São Francisco de Sales nos dá uma lição muito preciosa. Afirma ele: “Se eu caísse numa grande falta, não censuraria meu coração com frases como estas: ‘Miserável! Abominável! Depois de tantas resoluções, ainda te deixaste arrastar ao pecado! Morre de vergonha! Não ouses levantar os olhos para o céu, traidor, impudente, desleal, imprudente!’ Não, eu não lhe falaria assim, mas procuraria corrigi-lo racionalmente, pelo caminho da piedade, dizendo-lhe docemente: ‘Ora, meu pobre coração… Vamos! Caímos? Pois bem. Levantemo-nos. Deixemos esta miséria, vamos reclamar a infinita misericórdia de Deus, Ele nos há de assistir daqui em diante para que sejamos mais fortes e vivamos no caminho da humildade. Coragem! Deus nos ajudará!’”

Em seguida, ele explica que tomará a sólida resolução de não mais cair e empregará todos os meios para não pecar.

Alimentar a culpa não levará a lugar algum e, com o mesmo rigor e crueldade com que nos tratamos, trataremos também os outros, faltando com o amor ao próximo e, consequentemente, com o amor a Deus.

Neste caso, de falta grave ou de repetidas pequenas faltas, nossa melhor decisão é procurar o confessionário para recebermos o perdão por nossos pecados e tocar a vida adiante.

Essa atitude também faz parte do cuidar-se bem. E quem se cuida bem está fazendo a vontade de Deus e tratará o seu próximo com respeito.

Por Afonso Pessoa

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