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Cristo Rei, o prêmio e o castigo

Neste domingo, Nosso Senhor descreve os últimos momentos da História do mundo, quando estaremos todos reunidos para o Juízo Final.

Foto: Leandro Souza

Foto: Leandro Souza

Redação (26/11/2023 08:59, Gaudium Press) Hoje a Igreja celebra a Solenidade de Cristo Rei.  Nas leituras dos dias anteriores, Jesus insistia na necessidade de estarmos preparados para o momento de comparecer ante o tribunal divino, como na parábola das virgens tolas e das prudentes – com a qual se inicia o capítulo 25 de São Mateus – e na parábola dos talentos, que vem logo a seguir. Ambas ilustram o discurso escatológico, iniciado no capítulo 24 do mesmo Evangelista, quando nosso Redentor adverte para os acontecimentos que marcarão o fim do mundo: “Como o relâmpago parte do Oriente e ilumina até o Ocidente, assim será a volta do Filho do Homem” (Mt 24,27).

Era natural que, na sequência desses ensinamentos, Ele passasse à descrição do último ato da História da humanidade: o Juízo Final.

O julgamento

Uma das características próprias a um rei é exercer julgamentos. Ora, Nosso Senhor, sendo o Rei dos Reis, será também o Juiz Supremo.

Mas há uma interrogação que poderia passar pelo espírito de vários leitores: a maior parte dos homens já terá sido julgada logo após sua morte ― excetuam-se aqueles que estiverem vivos, quando chegar a hora do fim do mundo ―; por que, então, passar de novo por um Juízo?

A Suma Teológica[1] e o Catecismo Romano[2] fazem compreender melhor o motivo desses dois tribunais. De fato, no juízo particular cada homem é julgado privadamente por Deus, permanecendo o seu foro íntimo, bem como todas as consequências de seus pecados, ocultos aos outros homens. Para a plena glorificação da justiça divina é indispensável que haja um outro Juízo, público e universal, no qual fiquem patentes aos olhos de todos a inocência dos bons e a torpeza dos maus.

Nenhum ato de virtude e nenhuma falta, por menores que sejam, serão omitidos. Assegura São Paulo que em Deus “temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28), portanto, nada pode escapar a seu divino conhecimento e a seu absoluto julgamento, e, no dia do Juízo, “Deus fará prestar contas de tudo o que está oculto, todo ato, seja ele bom ou mau” (Ecl 12,14).

O Redentor nos atribuirá méritos ou penas por nossas obras: “Retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6). Também pedirá contas por nossas omissões: “Aquele que souber fazer o bem, e não o faz, peca” (Tg 4,17).

Nossa consciência, por um auxílio divino poderoso, far-nos-á relembrar com claríssima memória todas as nossas ações, boas e más, e até as que deviam ter sido praticadas e não o foram por nossa culpa. Do mesmo modo, nos recordará nossos pensamentos e desejos. Não somente, pois, os pecados graves, mas também os leves e até as imperfeições. Essa tão exata e minuciosa recordação já de si constituirá uma sentença inapelável.

Nesta Terra, quando queremos permanecer no mau caminho, abafamos nossa consciência. Porém, no dia do Juízo, ela se imporá às nossas veleidades.

Qual será nosso destino?

“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!” (Mt 25,34).

A essência do prêmio será a visão beatífica, quer dizer, a contemplação de Deus face a face. Pela força da graça nos será possível contemplar a própria essência de Deus, em vez de apenas discerni-Lo por seus reflexos nas criaturas: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1Cor 13,12).

Além da visão de Deus, os Bem-aventurados receberão no Céu outros prêmios, desmesuradamente menores, mas mesmo assim valiosíssimos e incomparáveis com as coisas da Terra. Em primeiro lugar, terão corpos gloriosos; ademais, terão a inimaginável alegria de poderem contemplar Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora e os Santos, bem como as maravilhas do mundo já então renovado; e o Céu Empíreo será sua morada eterna.

Os maus, por sua vez, serão rejeitados pelo próprio Criador:

“Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos!’” (Mt 25,41).

Que castigo espantoso! Trata-se da chamada pena de dano, palavra derivada do latim damnum, perda, pois esse tormento consiste na perda da posse de Deus, nosso fim último. Além disso, as almas dos condenados serão atormentadas, para sempre, pelas chamas de um fogo eterno. E não nos iludamos, pensando que a expressão “fogo eterno” seja apenas uma metáfora, uma imagem para se referir ao remorso da consciência. É doutrina universalmente aceita na Igreja, baseada na Sagrada Escritura e no consenso dos Padres, que se trata de um fogo real, eterno e inextinguível, que tortura os espíritos e queimará os corpos sem os destruir.

Uma resolução inadiável

Ao nos revelar esse mistério, Jesus demonstra sua infinita bondade para conosco. Seu objetivo, ao nos alertar de maneira tão veemente, é evitar para nós a desgraça eterna, e levar-nos para junto d’Ele, na felicidade do Paraíso.

Profundamente gratos, tomemos sem demora a firme resolução de Lhe rogar as graças necessárias para reprimirmos nossas más paixões, evitar o pecado e praticar a virtude. De tal modo que possamos ouvir de seus lábios adoráveis este celestial convite: “Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!”.

Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. Città del Vaticano: LEV, 2013, v. 2, p. 487-497.


[1] Cf. TOMÁS DE AQUINO, Santo. Suma Teológica. Suppl., q. 88, a. 1, ad 1.

[2] Cf. CATECISMO ROMANO. P. I, c. 8, n. 4.

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