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Conferência episcopal francesa escreve mensagem aos fiéis, após revelação de escandâlos

Após a revelação de escândalos de agressão sexual cometidos por parte de autoridades eclesiásticas, os Bispos da França, reunidos em conferência, escreveram uma carta dirigida a todos os fiéis

Há uma cegueira generalizada para com a dignidade de todo ser humano: bispos convidam franceses a pedir a Deus a graça de abrir os olhos de todos.

Redação (10/11/2022 09:10, Gaudium Press) A 90ª conferência dos Bispos franceses começou com o clima tenso, no último dia 7 de novembro, na cidade mariana de Lourdes.

O caso Michel Santier

Com feito, alguns dias antes, a imprensa revelou casos graves de agressão sexual cometidos pelo Bispo Michel Santier, antigo Bispo de Luçon e Bispo emérito de Créteil.

Os fatos aconteceram nos anos 90, quando Dom Santier, ainda mero sacerdote, era responsável por uma escola. O prelado teria se valido do sacramento da penitência para cometer abuso espiritual com fins sexuais sobre dois homens adultos.

Dom Michel Santier foi sancionado pelo Vaticano em 2021 o que explica sua demissão precoce. Contudo, o escândalo foi mantido em segredo, o que aparentemente contraria a política vaticana de tolerância zero aos abusos dentro da Igreja.

Nova revelação durante a conferência dos Bispos

Com este panorama tenso, os Bispos começaram a conferência em Lourdes. Porém, a confissão do Cardeal Jean-Pierre Ricard, alta personalidade da Igreja na França, foi mais uma revelação chocante com a qual os Bispos tiveram que lidar.

Face aos dois escândalos cometidos por membros do Episcopado, os Bispos da França escreveram uma carta aos fiéis intitulada: “Perturbados e resolutos”.

Mais que números frios de uma estatística, os resultados da recente pesquisa descrevem a alma de um povo no que ele tem de mais elevado: a religiosidade.

Mensagem dos Bispos franceses aos fiéis

A tradução do texto original pode ser lida na íntegra abaixo:

Queridos irmãos e irmãs,

Reunidos na Assembleia Plenária de Lourdes, ouvimos o espanto, a cólera, a tristeza, o desânimo suscitados pelo que descobrimos sobre Dom Michel Santier, ex-bispo de Luçon e depois de Créteil, e agora sobre Dom Jean-Pierre Ricard, ex-arcebispo de Montpellier depois de Bordeaux.

Estamos cientes de que essas revelações afetam dolorosamente as vítimas, em particular aquelas que escolheram confiar em nós. Vemos o choque de muitos fiéis, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas. Esses sentimentos também são nossos. Membros do mesmo corpo eclesial, também nós somos feridos, tocados profundamente.

No caso de Michel Santier, temos plena consciência das responsabilidades que nos cabem e trabalhamos durante nossa Assembléia para identificar as disfunções e erros que levaram a uma situação que choca a todos.

Alguns podem ter se perguntado se a lei da Igreja não organizou uma forma de impunidade ou de tratamento especial para os Bispos. Pensam, com razão, que a responsabilidade episcopal reforça naqueles que a exercem o dever de justiça e às legítimas exigências dos fiéis, bem como da instituição eclesial. Repetimos com força: não há e não pode haver impunidade para os Bispos.

Pela própria natureza de seu ofício apostólico, os Bispos dependem diretamente da Santa Sé. Os procedimentos relativos a eles são mais complexos e demoram mais. Estamos empenhados em trabalhar com a Santa Sé nos esclarecimentos e simplificações que forem necessários. Decidimos criar um Conselho de Acompanhamento que nos permitirá não enfrentar estas situações sozinhos e entre nós.

Alguns se perguntam: nas atuais circunstâncias, que crédito deve ser dado aos compromissos assumidos há um ano para tirar as conclusões do relatório do CIASE (sobre os abusos sexuais na Igreja da França)? Podemos assegurar que está em curso uma transformação das práticas, com a ajuda de muitos fiéis leigos especialmente qualificados, incluindo as vítimas. Decisões já foram tomadas e implementadas. Dioceses e movimentos da Igreja estão mais ativamente envolvidos na proteção dos menores. Os grupos de trabalho constituídos há um ano entregarão suas conclusões em março de 2023. Terminamos a análise do progresso dos grupos durante esta Assembleia. Este trabalho de base está começando a dar frutos. Continuaremos neste rumo.

Outra pergunta estava em nossos corações no início da Assembleia Plenária: há, haverá outros casos desse tipo? Sendo a condição humana o que é, ninguém está imune a faltas graves e dramáticas. Mas podemos e queremos fortalecer na Igreja os procedimentos que os limitem ao máximo e, quando surgirem, tratá-los da maneira adequada.

Neste contexto, o comunicado de imprensa do Cardeal Jean-Pierre Ricard chocou a todos nós. Sua iniciativa de revelar um fato grave de seu passado é importante. Mencionamos todas as situações que conhecemos. Os fatos dizem respeito a Bispos que não estão mais no cargo. Todos eles foram julgados na Justiça.

Irmãos e irmãs, humildemente, mas de todo o coração, continuamos o trabalho começado para tornar a Igreja um lar mais seguro. As vítimas permanecem mais do que nunca no centro da nossa atenção. Suas expectativas e exigências são legítimas e verdadeiramente ouvidas. Nós as acolhemos como vindas do próprio Senhor. Todos juntos, sabemos, podemos contribuir para uma fidelidade renovada ao Evangelho. Tal é a nossa determinação. Esta é a nossa humilde oração.

Lourdes, 8 de novembro de 2022.

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