Condenaram Santa Joana d’Arc e libertaram um criminoso
Graças aos heroicos esforços de Santa Joana d’Arc, Carlos VII foi coroado como Rei da França na Catedral de Reims, em 17 de julho de 1429.
Redação (05/11/2024 19:05, Gaudium Press) Quatro mil pessoas assistiram à cerimônia. Nas primeiras fileiras de bancos do belíssimo templo estavam os pais e irmãos da Santa Joana d’Arc.
Ao término da solenidade, o Rei concedeu à família Arc o título de nobreza, bem como um escudo de armas: uma espada encimada por uma coroa num fundo azul semeado de flores de lis.
No dia seguinte à coroação, a virgem queria partir a fim de conquistar Paris, mas Carlos VII fizera um acordo com o Duque da Borgonha, o qual lhe ofereceu dinheiro prometendo que lhe entregaria a capital.
O chefe inglês, que comandava a capital da França, aproveitou a trégua e trouxe da Normandia grande número de soldados para reforçar suas tropas.
Santa Joana, sabendo dessa traição, reuniu seu exército e atacou Paris, em 7 de setembro de 1429, mas foi ferida por uma flecha. Carlos VII dissolveu seu exército, e os professores da Universidade de Paris espalharam a calúnia de que ela era bruxa, declarando ser necessário prendê-la a fim de ser submetida a um processo inquisitorial, dirigido pelo Bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, ex-reitor daquela universidade.
Escreve Monsenhor João Clá: Carlos VII era “homem ignóbil, mesquinho e venal”.[1]
Refugiando-se em Compiègne – perto de Paris –, ela foi vendida pelo prefeito dessa cidade aos ingleses e colocada numa prisão de um castelo, localizada a 30 metros de altura. Amarrando cordas e lençóis tentou fugir, mas caiu e a reconduziram à cela.
Admiráveis respostas no processo em Rouen
Em 23 de dezembro de 1430, foi levada à Rouen – cidade da Normandia dominada pelos ingleses – e posta num calabouço de um castelo, com pesadas correntes nas mãos e nos pés, vigiada por vários soldados, alguns dos quais permaneciam continuamente dentro de sua cela. Ela rogou que a transferissem para uma prisão eclesiástica onde havia carcereiras, mas não a atenderam.
Pierre Cauchon, aliado aos ingleses, instaurou novo processo inquisitorial contra a Santa, em janeiro de 1431. Ele não possuía jurisdição sobre Rouen, cuja sede episcopal estava vacante. A virgem havia sido inquirida num processo em Poitiers, em março de 1429, e julgada inocente.
Para constituir o tribunal, Cauchon escolheu professores da Sorbonne, todos eles vendidos aos ingleses. Não lhe permitiram que tivesse advogado de defesa.
Nas audiências era inquirida por mestres de Teologia e canonistas; entre os assistentes havia monsenhores e abades.
Nas sessões mais importantes também estava presente Henri Beaufort, Cardeal bispo de Winchester, que viera da Inglaterra com o objetivo de condenar a Santa.
Seis meses após o martírio de Santa Joana d’Arc, ele coroou como rei da França, na Catedral de Notre-Dame de Paris, o inglês Henrique VI que contava dez anos de idade e fora trazido de sua nação. Ao lado do cardeal estava Cauchon…
Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Modelo de combatividade cristã, fez ela, em admiráveis respostas no processo iníquo que sofreu, a apologia da virtude enquanto aplicada em guerrear e destroçar o mal.
“Assim, quando os juízes lhe perguntaram se Santa Catarina e Santa Margarida odiavam os ingleses, Joana d’Arc respondeu: ‘Elas amam o que Nosso Senhor ama e odeiam o que Deus odeia’.
“’Deus odeia os ingleses?’ continuaram os juízes. – ‘Do amor ou do ódio que Deus tem aos ingleses, nada sei, respondeu a Santa; o que sei perfeitamente é que todos eles serão expulsos da França, excetuados os que aqui morrerem.”[2]
Indagaram se estava em estado de graça e ela respondeu: “Se não estou, que Deus me conceda; se estou, que Deus me conserve.”
Ato infame realizado no cemitério
Ela renovou o pedido de que a conduzissem a uma prisão onde fosse vigiada por mulheres, e apelou ao Papa. Mas os ímpios juízes não a atenderam.
As audiências eram feitas quatro a cinco vezes por semana e duravam praticamente o dia inteiro, e a virgem sempre algemada nas mãos e pés. Ela “respondia às perguntas em voz alta e enérgica, cabeça erguida, olhando os interrogantes de frente”.[3]
Entre outras acusações, diziam que ela era feiticeira, cismática, perturbadora da paz pública, sedutora dos povos, trânsfuga de seu sexo por usar roupa masculina.
Em 24 de maio de 1431, foi conduzida ao cemitério de Rouen. Ali havia uma fogueira acesa e um estrado com cadeiras nas quais estavam sentados Cauchon, ladeado pelo Cardeal de Winchester, dois bispos e o governador da cidade.
E no solo muitos indivíduos certamente pagos para se manifestarem contra a Santa, que foi trazida acorrentada. Cauchon apresentou-lhe um pergaminho com um texto no qual ela declarava serem provindas do demônio as “vozes”, e jurava que nunca mais usaria roupa de homem; e entregou-lhe uma pena de ganso para apor sua “assinatura”.
As vozes são do Céu
Vários autores afirmam que ela, por ser analfabeta, desenhou uma cruzinha no pergaminho, significando que concordava com o texto.
Mas o coronel francês Charles Boulanger (1891-1972) escreveu um livro[4] demonstrando que Santa Joana afastou aquele pergaminho, confirmou que as “vozes” eram do Céu e apelou ao Papa. Quanto ao traje, renovou seu pedido de ser conduzida a uma prisão eclesiástica a fim de ser custodiada por mulheres.
Levaram-na para a mesma cela e entregaram-lhe traje feminino, dizendo que se voltasse a colocar roupa de homem seria condenada à morte. Após três dias, retiraram de sua cela, à noite, aquele traje e deixaram pantalonas as quais ela vestiu pela manhã.
Em seguida, Cauchon entrou na prisão e, vendo que ela usava roupa de homem, berrou “relapsa”. E o tribunal declarou que Santa Joana seria queimada em 30 de maio de 1431, solenidade da Ascensão de Jesus.
A diocese de Rouen possuía o privilégio de, anualmente, libertar um condenado à morte por ocasião dessa solenidade. À semelhança do que aconteceu com Nosso Senhor – que os judeus condenaram e livraram Barrabás –, os juízes libertaram um criminoso e mandaram Santa Joana d’Arc ao suplício.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens. São Paulo: Arautos do Evangelho. 2020, v. III, p. 92.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Catolicismo. Campos dos Goitacazes, outubro 1953.
[3] SEQUEIROS, Marie de la Sagesse, Santa Joana de Arco. Buenos Aire: Katejon. 2018, p. 243.
[4] BOULANGER, Charles. 7 juillet 1456, enterrement de l’afffaire Jeanne d’Arc, triomphe de l’Université de Paris. Rouen : Ed. Maugard. 1956.
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