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Concílio de Clermont: torrentes de graças místicas

Após o Concílio de Clermont, em novembro de 1095, o Beato Urbano II percorreu diversas cidades da França e da Itália a fim de pregar a Cruzada, bem como verberar a imoralidade existente no clero e na sociedade civil.

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Redação (16/01/2023 11:06, Gaudium Press) O Beato Urbano II teve contatos com bispos espanhóis e os animou na continuação da Reconquista, ou seja, na luta contra os mouros que dominavam grande parte da península ibérica, a qual foi iniciada por Dom Pelayo, com a Batalha de Covadonga, em 718, e somente terminou com a tomada de Granada pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel, no ano de 1492. Durou quase 800 anos!

A Reconquista espanhola havia sido incentivada por São Gregório VII e pelos monges de Cluny. E nessa época, seu grande herói foi Cid Campeador, braço direito do Rei Afonso VI, o Valente, que expulsou os invasores maometanos de várias regiões de Espanha e tomou a cidade de Toledo, antiga capital, em 1085.

Alguns meses antes da autêntica Cruzada, houve uma expedição composta de homens, mulheres e crianças, sem disciplina militar, conduzida por Pedro, o Eremita, e um pobre cavaleiro francês chamado Guilherme sem Fortuna. Os turcos maometanos os massacraram em Civitot, nas proximidades de Niceia, Turquia: 22.000 católicos morreram; os rapazes e as moças foram reduzidos à escravidão.

Definição de “Cruzada”

333px CrusadeLeadersA verdadeira Cruzada teve início em 15 de agosto de 1096, composta por quatro exércitos oficiais comandados por nobres franceses, sob a égide espiritual do Bispo Ademar de Monteil, legado papal.

Godofredo de Bouillon, Duque da Lorena tornou-se o mais heroico de todos os comandantes. Após muitas batalhas e terríveis sofrimentos, Jerusalém foi conquistada em 15 de julho de 1099, uma Sexta-Feira Santa, às três da tarde, hora em que o Redentor expirou na Cruz.

Quatorze dias depois, morreu em Roma o Beato Urbano II, com 59 anos de idade, vitimado por uma doença desconhecida e repentina. Estando próximo de sua agonia, conduziram-no ao Palácio de Latrão e lhe pediram que indicasse um sucessor; ele, então, designou o Cardeal Rainer, antigo monge de Cluny, que se tornou o Papa Pascoal II.

A memória do Beato Urbano II é celebrada em 29 de julho.

Houve oito Cruzadas, mas somente a primeira foi vitoriosa. Padre Aimond assim as define: “Expedições empreendidas pelos cristãos do Ocidente, sob os auspícios da Santa Sé, para libertar o Santo Sepulcro e em seguida defender o Reino de Jerusalém. Os Cruzados se reconheciam pela cruz de tecido vermelho, costurada sobre suas vestimentas; daí seu nome.”[1]

Daniel Rops afirma que a primeira Cruzada foi um “evento místico”.[2]  A graça mística é a que se faz sentir em nossas almas, as quais, iluminadas por Deus, “operam de modo frequente e manifesto segundo a maneira sobre-humana dos dons do Espírito Santo”.[3]

Em Clermont, a Providência concedeu torrentes de graças místicas. Segundo a palavra utilizada por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, houve um flash coletivo, ou seja, brilhou uma luz sobrenatural que iluminou as inteligências, fortaleceu as vontades e harmonizou as sensibilidades das pessoas, conduzindo-as para o bem, a verdade e a beleza, e se espraiou por toda a Cristandade.

Heroísmo total e entusiástico em defesa da Fé

Sobre as Cruzadas, Dr. Plinio teceu comentários que transcrevemos a seguir.

“O magnífico surto militar das Cruzadas constitui uma das mais puras páginas de idealismo que a História registra.”[4]

“As Cruzadas demonstram que o católico deve defender com um heroísmo total e entusiástico a sua Fé, em qualquer terreno em que ela seja ameaçada, inclusive no campo de batalha.

“Ao mesmo tempo que a Igreja promovia a organização das Cruzadas, não se descuidava por um só momento de intensificar, por todos e absolutamente todos os meios ao seu alcance, a vida religiosa da Europa.

“Porque era essa vida religiosa a fonte das energias sobrenaturais que, nas Cruzadas, se iriam traduzir em magníficos lances de heroísmo. Se fraquejasse a vida religiosa na Europa, as Cruzadas imediatamente seriam esmagadas pelos muçulmanos. Porque a luta é o fogo, e a vida espiritual é o azeite de que este fogo se alimenta.”[5]

“A oposição entre o Catolicismo e o islamismo é tão aguda que, nos tempos em que os povos muçulmanos gozaram do poder e do prestígio, empregaram conscientemente todos os recursos para destruir a Cristandade, o que só não conseguiram por causa do esforço heroico das Cruzadas.

“E assim, a nossa atual civilização, de que até os próprios muçulmanos tiram vantagens não pequenas, quase morreu no nascedouro e teria morrido certamente não fosse a indefectibilidade da Igreja, por obra desses mesmos muçulmanos, que queriam impor ao mundo a sua civilização maometana.[6]

Santa Teresinha possuía a coragem de um Cruzado

“As Cruzadas representaram um dos mais belos movimentos de alma que a Igreja teve ao longo de todos os séculos de sua existência. Como tudo quanto de belo que se passa na Igreja, a esse movimento de alma correspondia uma grande graça.

“Era a graça das Cruzadas, da qual um resto de brilho ainda refulge no olhar poluído e cansado do homem contemporâneo, porque quando se fala das Cruzadas todo mundo compreende.

“Ao ser dito: ‘Fulano tem o espírito de um Cruzado’, entende-se que é um herói, não de um heroísmo comum, mas iluminado de Religião, de Fé, de certezas de toda ordem, com uma disposição e um ânimo extraordinários para suportar qualquer forma de dor, de sofrimento, de risco.

“Um ímpeto de guerra, uma capacidade de impacto sem precedentes, e provavelmente sem consequentes na História. Todos esses conceitos se reúnem e brilham aos olhos com uma luz de Fé, quando se fala a respeito das Cruzadas”.[7]

O ideal da Cruzada entusiasmou Santa Teresinha, que escreveu:

“Sinto em mim outras vocações, a de Guerreiro, a de Sacerdote, a de Apóstolo, a de Doutor, a de Mártir, enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar, para Ti, Jesus, todas as obras mais heroicas… Sinto na minha alma a coragem de um Cruzado, de um zuavo pontifício. Queria morrer num campo de batalha pela defesa da Igreja”.[8]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] AIMOND, Charles. Le Moyen Âge. Paris: J. de Gigord. 1939, p. 132-133.

[2] DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja das catedrais e das Cruzadas.Sã o Paulo : Quadrante. 1993, v. III, p. 483.

[3] GARRIGOU- LAGRANGE, Reginald. Les Trois Ages de la Vie Intérieure. Paris: Cerf, 1938, p. 22.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário. São Paulo, 25-7-1937.

[5] Idem. O Legionário, 21-11-1937.

[6] Idem. O Legionário, 9-11-1941.

[7] Idem. Balduíno IV, o protótipo do católico. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXI, n. 245 (agosto 2018), p. 14.

[8] SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE Manuscritos Autobiográficos In: Obras Completas. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2001, p 211).

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