Como um Anjo do Céu, fulminou os inimigos
Diversas vezes os reis de Castela haviam invadido Portugal. Dois meses depois da batalha de Aljubarrota, realizada em agosto de 1385, São Nuno penetrou com seu exército em terras castelhanas.
Redação (21/09/2024 17:37, Gaudium Press) O Rei de Castela João I enviou grande número de soldados para defender seu território e uma grande batalha foi travada em Valverde, Sudoeste da Espanha. O exército de Castela era quatro vezes maior do que o de Portugal: 39.000 castelhanos e 11.000 portugueses.
Durante a refrega, o Condestável retirou-se para rezar. Terminadas suas orações, seu rosto estava luminoso. Reuniu seus guerreiros e investiu contra os inimigos cujos principais chefes morreram e os restantes fugiram. Em 1411, os Reis João I de Portugal e João II de Castela assinaram um acordo de paz.
Desejando expandir a Fé católica, o soberano português, cognominado “Rei de boa memória”, planejou conquistar Ceuta dominada pelos muçulmanos e localizada no Norte da África, junto ao Estreito de Gibraltar.
O próprio Rei João I assumiu o comando geral da expedição, assessorado por São Nuno. Formou-se uma frota de 120 navios, dezenas de galés e outras embarcações, que transportavam cerca de 50.000 homens.
Os três filhos mais velhos do rei iriam acompanhá-lo porque desejavam também ser armados cavaleiros em campo de batalha.
Tendo sido atingida pela peste negra, a Rainha Filipa de Lancastre tomou uma bela atitude. Reuniu junto ao seu leito seus filhos para lhes dar a bênção. Entregou a cada um dos três que partiriam para a guerra uma espada incrustada de joias e uma relíquia do Santo Lenho, ordenando-lhes que batalhassem em defesa da Fé. Logo depois, ela se colocou em oração e, esboçando um tênue sorriso, faleceu.
Conquista de Ceuta
A frota partiu de Lisboa rumo ao Sul, em 25 de julho de 1417. Chegando em Lagos, o rei desembarcou para participar da Missa na catedral, pois era domingo. Após o Santo Sacrifício, foi lida a Bula de Gregório XII, declarando que os lutadores pela conquista de Ceuta tinham os privilégios dos integrantes de uma Cruzada.
Em 21 de agosto, os portugueses iniciaram o ataque à Ceuta, na qual havia 100.000 muçulmanos, e no dia seguinte tomaram-na. Celebrou-se uma Missa solene na mesquita, transformada em igreja, e os três príncipes reais foram armados cavaleiros por seu pai. Algum tempo depois, Ceuta tornou-se diocese e o bispo nomeado havia sido confessor da falecida Rainha Filipa.
Após a conquista de Ceuta, o reino de Portugal desfrutou a paz e São Nuno pôde realizar o que tanto almejara: consagrar-se totalmente à Igreja.
Distribuiu seus bens – que eram imensos, devido às doações efetuadas pelos monarcas – e, em 1423, tornou-se irmão leigo no Convento do Carmo de Lisboa o qual ele mesmo mandara construir. Muito devoto de Nossa Senhora, recebeu o nome de Nuno de Santa Maria.
Cota de malha sob o hábito religioso
Levando uma vida de oração e penitência, manteve e aumentou o espírito guerreiro. Usava um cilício e jejuava a pão e água três vezes por semana; durante o Advento o fazia diariamente.
Certo dia, o embaixador de Castela visitou-o e perguntou-lhe o que ele faria se o Rei João II invadisse Portugal. São Nuno mostrou-lhe a cota de malha que usava sob o seu hábito e disse-lhe: “Se o Rei de Castela outra vez mover guerra à Portugal, servirei ao mesmo tempo à Religião e à terra onde nasci”.
Notando que se aproximava o momento de partir para a eternidade, São Nuno Álvares fez uma confissão geral e comungou. Segurando com a mão esquerda uma vela e com a direita um Crucifixo, pediu que lessem em voz alta o trecho do Evangelho de São João sobre a Paixão. Às palavras “eis aí teu filho” (Jo 19, 26), sua alma foi levada ao Céu. Era o dia 1 de novembro de 1431. Beatificado em 1918 por Bento XV, foi canonizado em 2009 por Bento XVI.[1]
Fervor religioso, Fé ardente, piedade profunda
A respeito desse grande Santo, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu:
“Dom Nuno Alvares Pereira sempre manifestou a sua missão predestinada. Do princípio ao fim de sua vida, sempre encontramos nele o mesmo fervor religioso, a mesma fé ardente, a mesma piedade profunda.
“A sua vida guerreira era o corolário de sua vida religiosa. O grande general invencível, que não conheceu derrotas, e era o terror de seus inimigos, ia buscar a sua força em Deus, em Deus punha a esperança de suas vitórias e, particularmente, apoiava-se em sua devoção filial à Nossa Senhora, a “Santa Maria” de sua grande devoção.
“No auge das batalhas, quando a sorte vacila e o sucesso é incerto, Dom Nuno afasta-se do combate e, num lugar retirado, queda-se longos momentos em oração contemplativa, enquanto os seus capitães o procuravam ansiosos.
“Porém, quando ele volta da oração, é como um Anjo do Céu, radiante e cheio de força, que cai sobre os inimigos, fulminando-os, e decidindo a vitória em poucos instantes: o combate continuava a sua oração sobrenatural.
Um santo guerreiro é uma sublime coerência
“E enquanto foi preciso lutar, ele lutou. Mas quando veio a paz, e o seu rei estava garantido, ele, que podia ter tudo, tudo abandonou, e foi ser o humilde Frei Nuno de Santa Maria. O grande guerreiro cristão orava e batalhava, porque assim o dever o exigia; agora que ele venceu todas as batalhas, vai apenas orar, porque já não há onde batalhar. Fosse, porém, necessário e lá estaria ele novamente no campo da honra.
“Sirva o grande e santo Condestável de exemplo a todos os católicos, principalmente nestes tempos em que a diminuição humana das verdades divinas desfigurou o ideal cristão, transformando-o, não raro, em ridícula caricatura.
“Um santo guerreiro não é uma contradição, como o desfibramento do liberalismo religioso o quer considerar, mas é uma sublime coerência”.[2]
Roguemos a São Nuno Álvares Pereira, cuja memória se celebra em 1 de novembro, que nos obtenha de Nossa Senhora a graça de combatermos rijamente contra nossas tendências desordenadas e os inimigos velados ou declarados da Igreja.
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. BAKER, G. Leslie – Vida e obra de Dom Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável. Lisboa: Editora Occidentalis, 2008. MONTEIRO, João Gouveia. Nuno Álvares Pereira. Guerreiro, senhor feudal, santo. Os três rostos do Condestável. Lisboa: Editora Manuscrito, 2017.
[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, São Paulo, 2-7-1944.
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