Como transformar trabalho em oração
Gostaríamos de fazer mais por Deus, no entanto, são tantas as ocupações, as obrigações familiares, os compromissos financeiros que não temos tempo. Como conciliá-los?
Redação (14/03/2021 10:55, Gaudium Press) Em certos momentos de paz e reflexão, passam, às vezes, pela mente pensamentos mais generosos, que nos levam a horizontes mais amplos.
São as horas em que gostaríamos de ser tão melhores do que somos, de fazer por Deus e por Sua Santa Igreja tanto mais do que o pouco que realizamos.
Lamentamo-nos conosco: “Aqui estou, preso aos meus afazeres neste escritório, nesta fábrica, nesta escola ou nesta cozinha. São tantas as ocupações, as obrigações familiares, os compromissos financeiros… Não haveria um modo de servir melhor a Deus, sem faltar com as obrigações já assumidas?”
Talvez a história narrada a seguir, resumida de um artigo publicado na revista portuguesa Cruzada, sirva para inspirar essas almas sequiosas de uma maior dedicação.
A conversão
Guilherme Manuel Kétteler nasceu no dia de Natal de 1811, na cidade de Münster, na Alemanha. Concluídos seus estudos básicos, feitos com os jesuítas, na Suíça, formou-se em Direito e passou a exercer o cargo de notário.
Influenciado talvez pelo ambiente, deu-se à vida fácil e despreocupada dos jovens de seu tempo.
Uma noite, quando se divertia num baile, viu no ar, pairando acima de si, o rosto de uma freira que o olhava com tristeza. Impressionado com aquela visão, interrompeu a dança e saiu. Tocado por profunda graça, arrependeu-se dos seus extravios e voltou-se sinceramente para Deus.
Um dos maiores bispos do século XIX
Sem saber direito por que, desde aquele dia não mais lhe saía da cabeça a ideia de se tornar sacerdote. Moço rico e inteligente, a quem o mundo sorria com mil encantos, resolveu aceitar o convite do Senhor e se entregar todo a Deus.
Em 1844, aos 33 anos de idade, recebeu o Sacramento da Ordem. Pouco depois, foi nomeado Pároco, primeiro de Hopten, depois de Berlim. Seu apostolado mostrou-se tão frutuoso que, em 1850, o Papa Pio IX o nomeou Bispo de Mogúncia.
Como bispo, fundou seminários, casas de retiro, reafervorou o Clero, levou Ordens religiosas para sua arquidiocese, socorreu os necessitados, realizou congressos, pregando pela palavra e pelo exemplo a boa nova do Evangelho.
Por tão extraordinário zelo e qualidades, Dom Guilherme Manuel Kétteler é apontado como um dos maiores bispos do século XIX.
O segredo da conversão
Certa manhã, foi a um convento de freiras celebrar a Missa. Ao ministrar a Sagrada Comunhão a uma religiosa, ficou surpreso. Aquela idosa freira parecia-lhe a mesma que tinha visto fixar-lhe um olhar magoado, no baile no qual começara a sua conversão havia mais de 30 anos.
Para melhor se certificar, após a Missa pediu à Superiora que reunisse todas as religiosas. Em breve, tinha diante de si a comunidade inteira. Com olhar interrogador, percorreu, uma a uma, todas as irmãs. Mas, nada. Não encontrou aquela que ele supunha ser a freira que lhe aparecera. Teria sido ilusão?
Perguntando à Superiora se não faltava nenhuma, esta lhe respondeu que apenas a irmã cozinheira não estava ali, pois, por ser muito aplicada ao trabalho, pedira para ser sempre dispensada das visitas.
O Prelado fez questão de conhecê-la. A boa freira, muito velhinha, apresentou-se, meio embaraçada por sua humildade.
Mal D. Kétteler a viu, estremeceu: era, sem sombra de dúvida, a religiosa que vira no baile. Perguntou-lhe:
– O que faz a senhora?
– Há mais de 40 anos trabalho na cozinha, mas agora as forças são muito poucas, senhor Arcebispo.
– E não se interessa pelas almas?
– Ah, senhor bispo, gostaria de poder rezar muito mais do que rezo, mas os afazeres não me permitem. Em compensação, ofereço todos os meus trabalhos e sofrimentos a Deus, pela Santa Igreja, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e pelo nosso bispo. Todas as noites, numa determinada hora, rezo e me sacrifico pelos rapazes inteligentes que Nosso Senhor chama para o sacerdócio, mas que, por causa dos prazeres do mundo, não querem ouvir a sua voz.
– Aqui está o segredo de tudo! – pensou o prelado.
Comovido, disse-lhe com paternal carinho:
– Continue assim, minha irmã. Talvez muitos sacerdotes e até mesmo algum bispo lhe devam a Vocação.
Depois de as religiosas se retirarem, contou a visão que tivera à Superiora, acrescentando:
– Ao distribuir hoje a Sagrada Comunhão, reconheci na Irmã cozinheira a religiosa que me apareceu no baile. A hora em que a vi é precisamente a mesma em que ela reza e se sacrifica, todos os dias, pelos rapazes com vocação sacerdotal. A ela devo certamente ser hoje sacerdote e bispo.
Benditas sejam as almas que, no silêncio dos conventos, rezam e se sacrificam pelo aumento de vocações e pela santificação dos sacerdotes.
Somente para os religiosos?
Mas só nos conventos? E por que não também nos escritórios, nas fábricas e nas cozinhas? Por que não oferecer a Deus nossos trabalhos, amarguras e sofrimentos do dia-a-dia, como aquela boa religiosa?
Se queremos que nossas almas também sejam benditas, ofereçamos a Deus, pelas mãos virginais de Maria, nossas orações e sacrifícios, para que subam ao Céu como um incenso de agradável odor em favor da Santa Igreja e do Papa, da Sagrada Hierarquia, do Clero, dos nossos parentes e amigos, pela conversão dos pecadores, por tudo, enfim, quanto se possa e se deva pedir.
Talvez não cheguemos a conhecer, nesta vida, nenhum de nossos favorecidos. Não importa. Teremos depois toda a eternidade para conhecê-los no Céu.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n.15, março 2003.
Deixe seu comentário