Como rezar?
A liturgia deste 30° domingo do Tempo Comum nos mostra o quanto a oração é indispensável em nossa vida. Contudo, é necessário saber pedir.
Redação (09:33:33, Gaudium Press) Imaginemos uma cena: um pai, que possui toda a sorte de bens: imóveis, terras, empresas, fortunas, e – o seu mais precioso tesouro – uma família muito unida e coesa. Ele tem um filho muito dileto, ao qual tributa um amor incalculável a tal ponto que deseja lhe dar tudo o que possui. Muitas vezes levou-o para ver seus próprios tesouros e posses, a fim de que houvesse uma ocasião de pedir o que quisesse; todavia, isso nunca acontecia…
Então, perplexo, pensava:
– Por que meu filho não me pede nada? Tenho tudo para lhe oferecer! É verdade que, após minha morte, ele receberá tudo isso como herança; mas, eu o amo tanto, que queria presenteá-lo muito já agora, acumular mais tesouros e, assim, fazer crescer aquilo que ele herdará de mim. Dar-lhe-ia muito agora e ainda mais no futuro!
E o pai esperava, com santa ansiedade, o dia em que seu filho lhe dissesse:
– Papai, dai-me algo de vosso tesouro.
Bastava apenas o seu pedido para receber tudo em abundância!
Ora, quem é este pai? E quem é este filho?
Humildade: predisposição à oração
Acaso o mais excelente dos pais, possuidor de todas as riquezas e virtudes imagináveis, pode ser comparado ao nosso Pai Celeste, que vela por cada um de nós como a filhos únicos? Pois bem, se não compreendemos a atitude deste filho que nada ousa pedir ao seu pai, com muito mais razão deveríamos nos espantar por ter a Deus por nosso Rei e Pai e não Lhe pedir o que Ele tanto nos quer dar.
Vemos no Evangelho de hoje a cura de um cego, que recebeu o dom da vista por uma razão muito simples: porque pediu. Mas, com que disposição?!
Naquele tempo, Jesus saiu de Jericó junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mt 10, 46-48).
Em geral, o orgulho é um dos principais empecilhos para que a alma faça uma súplica. De fato, quem julga muito possuir, não se vê na contingência de fazer um pedido, já que este é um ato de humildade, no qual nos rebaixamos e reconhecemos nossas debilidades. E, quando – por uma raridade – um orgulhoso faz um pedido ao seu Criador, é muito difícil que seja atendido; não porque Deus Se negue a escutá-lo, mas porque sua alma não está apta para receber as dádivas do céu.
Já para a alma humilde, pedir algo a Deus é muito simples, pois afinal, Ele é nosso pai. Quando o Criador vê uma alma curvar-se diante de Si, seu Coração enche-Se de tanto amor que Se vê quase “obrigado” a atender. De fato, a humildade é a chave do Coração de Deus e nos faz obter o que pedimos, como diz São João Maria Vianney: “A primeira das virtudes é a humildade, a segunda, a humildade, a terceira, a humildade. Oh! Bela virtude! Os Santos se julgavam nada, mas Deus os estimava e lhes concedia tudo o que pediam.”[1]
É o que vemos no Evangelho de hoje. Que diz Bartimeu? Porventura afirma suas qualidades? Muito pelo contrário; ele diz: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim” (Mt 10, 47). “Tem piedade”… quão raro é ouvir tais palavras de lábios presunçosos! Mais raro ainda é serem atendidos em seus desejos, ou melhor, em suas ambições. Se este cego não fosse humilde, não teria pedido, e não seria curado…
Fé: garantia de sermos atendidos
Com a humildade, a alma já está predisposta à oração e preparada para receber aquilo que deseja. Entretanto, Nosso Senhor nos pede mais. Para que sejamos realmente atendidos, Ele não quer somente que reconheçamos nossas misérias, mas também que confiemos em seu Poder, com uma Fé inabalável. É o que faz Bartimeu no evangelho de hoje:
Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que Eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho. (Mt 10, 51-52)
Seu pedido é categórico: “Domine, ut videam”.[2] São esses os pedidos cheios de Fé que movem a Deus. O que mais impressiona é o fato de Nosso Senhor ter atribuído a cura à Fé daquele cego: “Tua fé te curou” (Mt 10, 52). Não é sem razão que São Tomás afirma que o Salvador condicionava a realização do milagre à Fé – sólida ou apoucada – que encontrava nas almas.[3]
Deus premeia os insistentes
Há mais outra lição que o Evangelho de hoje nos dá: a perseverança e a insistência na oração. Às vezes, Deus demora em conceder-nos o que desejamos para provar a nossa perseverança. É natural, pois, se recebêssemos logo depois de pedirmos, não daríamos o devido valor aos bens concedidos por Deus. Foi tal insistência que levou Bartimeu a ser curado:
Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mt 10, 48)
Muitas vezes o mesmo se passa conosco: quanto mais pedimos, mais o mundo, as tentações e as nossas paixões e más inclinações nos “repreendem para que nos calemos”. Neste momento, não paremos de implorar, mas imitemos a Bartimeu, gritemos ainda com mais força: “Filho de Davi, tem piedade de mim”. Sem dúvida, seremos atendidos!
Portanto, rezemos. Mas com humildade, fé e insistência.
Por Lucas Rezende
[1] FOURREY, René (Org.). Ce que prêchait le Curé d’Ars. Dijon: L’échelle de Jacob, 2009, p.267-268.
[2] Do latim: “Senhor, que eu veja.”
[3] Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.43, a.2, ad 1.
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