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Como podem sofrer as almas no Purgatório?

“O que mais aflige no Purgatório é ter tido à disposição todos os meios para se salvar e não ter sabido aproveitá-los”.

Almas do Purgatório - Catedral de Loja (Equador) - Foto: Juan Carlos Villagómez

Almas do Purgatório – Catedral de Loja (Equador) – Foto: Juan Carlos Villagómez

Redação (02/11/2023 09:42, Gaudium Press) A Igreja ensina que “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados”.

Nesses angustiantes momentos, é natural que as almas procurem compaixão, recorrendo às pessoas que ainda vivem e que podem interceder por elas. Com efeito, Deus Se compraz com as mediações.

Folheando a história dos heróis de Israel lemos que, após a vitoriosa investida sobre o exército de Górgias, Judas Macabeu e seus companheiros voltaram ao campo para recolher os corpos dos que haviam tombado, a fim de dar-lhes sepultura. Sob suas túnicas, porém, encontraram amuletos consagrados aos ídolos de Jâmnia, indicando o motivo sobrenatural de haverem perecido. Judas, além de exortar a multidão sobre a gravidade do pecado, mandou oferecer um sacrifício pela falta de seus irmãos falecidos.

“Belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição! Pois, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma belíssima recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento”, comenta o autor sagrado (II Mac 12, 43-46).

O próprio Divino Mestre nos ensina que algumas faltas são perdoadas nesta terra e outras no mundo futuro, quando diz: “Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro” (Mt 12, 32).

Também São Paulo, escrevendo aos coríntios, adverte que o fogo provará o que vale o trabalho de cada um pois, sobre o fundamento que é Cristo, cada qual edifica com matérias diferentes, uns com ouro e prata, outros com feno e palha: “Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém, passando de alguma maneira através do fogo” (I Cor 3, 14-15).

É por isso que desde seus primórdios a Igreja recorda a memória dos fiéis defuntos, recomendando o sufrágio por eles, especialmente no Sacrifício Eucarístico, para que sejam livres de suas faltas. Em certas ocasiões também as próprias almas, por permissão divina, recorrem de maneira extraordinária aos homens para obter alívio em suas penas. Foi o que se deu com Eugênia von der Leyen: Deus a investiu com uma missão de misericórdia, a fim de sofrer pelas almas de um modo muito singular.

“Por que as almas vêm a mim?”, era este o grande dilema da vidente e, consequentemente, a pergunta que sempre fazia a elas. Quando podiam lhe responder, diziam invariavelmente que sua alma as atraia e que, por permissão do bom Deus, o caminho até ela estava desimpedido. Não havia remédio senão acompanhá-las em suas penas, sempre tão lancinantes.

Entre as narrações das aparições, encontramos linhas dedicadas a expressar os mais diversos estados de alma: desejos de maior perfeição, fraquezas e enormes cansaços, permeados com graças profundíssimas que lhe faziam experimentar a presença divina em sua alma; eram gotas de orvalho a lhe refrescar e consolar em meio ao sofrimento.

Como podem sofrer as almas?

Por clara disposição e vontade de Deus, muitas almas se apresentavam com formas animalescas, significando o pecado cometido. Um grande macaco, por exemplo, a fez sofrer enormemente nos últimos meses de 1925. Sua repugnante aparência causava horror e suportá-lo era-lhe quase impossível. Seu couro, molhado e sujo, apresentava chagas purulentas de onde saíam vermes que o devoravam. Era bem o símbolo das paixões e dos pecados de luxúria que aquela alma ainda precisava purgar.

Outra alma, de nome Catarina, apareceu-lhe com a boca inchada, desforme e repulsiva, de modo a despertar verdadeiro asco. Após algumas semanas, ela confessou: “Eu sempre desuni os homens”. Eis o preço a pagar quando os sentidos se voltam para as coisas do mundo, para promover o mal. A Igreja chama essa purificação de pena dos sentidos, na qual um fogo real, mas misterioso, castiga o espírito por ter-se sujeitado aos desregramentos da carne.

Em outra ocasião, quando Eugênia perguntou a uma alma em que consistiam seus sofrimentos, esta se aproximou e, antes que a princesa pudesse impedir, tocou sua mão, fazendo-a gritar de dor e deixando uma mancha vermelha de queimadura.

Entretanto, não é este o maior sofrimento de uma alma no Purgatório. Há algo incomparavelmente mais doloroso: ver-se impedida de contemplar o Criador, e isto a purifica no mais íntimo de sua relação amorosa com Ele.

Enquanto a pena dos sentidos acrisola a alma por ter se voltado para as criaturas, a pena de dano castiga o homem por se ter afastado do Senhor. O desprezo divino, a sensação de abandono e o desejo veemente de ver a face de Deus consomem as almas em dores indescritíveis e inconcebíveis. “O anseio devorador de revê-la [a majestade Divina] é nossa tortura”, confessou-lhe entre gemidos outra alma.

O alívio das almas do Purgatório

O que invariavelmente lhe pediam era muita mortificação da vontade e dos sentidos, além de esquecer-se de si mesma e ser generosa. Ela procurava unir-se a Cristo, completando em sua carne o que faltava aos sofrimentos do Redentor (cf. Col 1, 24). Chegava a flagelar-se, quando lho pediam, e suportava acordada noites inteiras, num verdadeiro martírio.

O Banquete Eucarístico era, sem dúvida, a maior fonte de consolação para as almas, sobretudo para as que durante a vida manifestaram sincera e profunda devoção à Santa Missa. “A corrente do Sacrifício corre sem parar. É a salvação daqueles que nele têm crido”, explicava uma delas. Todavia, não se beneficiavam tanto aquelas cuja devoção eucarística fora ínfima: “Nem todos recebem os frutos; Deus é justo”.

Também a água benta era ao mesmo tempo o consolo das almas e a proteção de Eugênia. Consolo porque lhes aliviava os sofrimentos, e proteção quando satisfazia as exigências de algumas que ameaçavam agredi-la. Curiosamente, apesar de se tratar de espíritos, a princesa não via nenhuma gota de água benta no chão após aspergir seus visitantes.

As almas do Purgatório sofrem terrivelmente, mas com uma grande vantagem sobre nós: a esperança segura do Céu. Portanto, a comemoração dos Fiéis Defuntos é uma ocasião feliz que a Igreja nos proporciona para aliviarmos os que padecem no Purgatório. Mas ela também traz consigo um ensinamento para nosso proveito espiritual: temos uma responsabilidade e, se não agirmos como devemos, poderemos escutar esta terrível sentença do Divino Juiz: “Não estás preparado!”

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 263, novembro 2023. Por Adriel Brandelero.

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