Como encontrar a Jesus?
Nas dificuldades e dramas da vida, como encontrar a Jesus? Quais são os meios que Ele nos oferece para encontrá-Lo?
Redação (26/12/2021 19:00, Gaudium Press): A leitura do Evangelho, recolhida para esta solenidade, trata do drama em que se encontraram Maria e José frente à perda do Menino Deus no Templo.
Descreve São Lucas que, por ocasião da festa da Páscoa, a Sagrada Família partiu à Jerusalém, como faziam todos os anos. Entretanto, ao regressarem a Nazaré, notaram que Jesus não se encontrava entre os parentes e conhecidos. Retornaram, então, à Cidade Santa, e após três dias de caminhada, encontraram-nO no Templo, discutindo com os doutores.
“Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua Mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura’” (Lc 2, 48).
A admiração de que nos fala este versículo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro no sentido explicitado por São Tomás de Aquino: estavam eles, em meio aos efeitos, à procura da causa, da razão.[1] Segundo, ficaram admirados ao encontrar o Menino cumprindo Sua missão em tão tenra idade e presenciar a manifestação que Ele dava de Si mesmo.
Maria e José dão-nos aqui exemplo de como devemos nos comportar quando a graça sensível se afastar de nós. Antes de tudo, evitar qualquer atitude de revolta; se aconteceu, foi porque Deus quis. São os percalços da vida, os dramas, as dificuldades que a Providência permite para unir-nos mais a Ela. Aceitemos tudo com o mesmo estado de espírito dos pais de Jesus. E quando revirmos Nosso Senhor, teremos também admiração.
Na pergunta feita por Nossa Senhora, não se nota uma manifestação de queixa. Com sua retíssima consciência, Ela demonstra aflição e perplexidade, desejando uma explicação para, assim, melhor servir a Deus. Essa deve ser também nossa atitude, resignada e amorosa, face aos problemas que se nos deparam ao longo da vida.
Resposta segundo a natureza divina
“Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’” (Lc 2, 49).
Em sua pergunta, na qual transparece bem a preocupação de mãe em relação ao filho, a Virgem Maria toma em consideração a natureza humana de Jesus. E Ele, respondendo por meio de outra pergunta, chama a atenção para a Sua natureza divina.
Por essa resposta — a qual, segundo Fillion, constituía “o programa de todo o seu ministério”[2] —, podemos conjecturar ter o Menino Jesus instruído Nossa Senhora a respeito de como Ele deveria cumprir a vontade do Pai. E de como esse chamado divino superava qualquer laço de sangue. Ele quis dizer a seus pais terrenos que Sua missão divina estava acima dos vínculos familiares.
Mas, com isso, estaria Ele reprovando Maria e José porque se colocaram como seus pais? São Beda faz um inspirado comentário: “Não os repreende porque O buscam como filho, mas os faz levantar os olhos da alma para verem o que Ele deve Àquele de quem é Filho eterno”.[3] Jesus Cristo tinha uma missão a cumprir e queria que seus pais terrenos compreendessem que tudo devia se subordinar ao Pai Celeste.
O exemplo de Maria diante do não entender
“Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera” (Lc 2, 50).
Por que Nossa Senhora e São José não entenderam? Deus não lhes deu luzes para isso naquele momento, a fim de que pudessem ter maior mérito, compreendendo só mais tarde as razões do comportamento do Menino Jesus.
Maria não entendeu as palavras de seu Filho, mas, como se vê no versículo seguinte, conservava no seu coração “todas essas coisas”, com amor, sabendo que havia uma lição por detrás desse episódio.
Essa deve ser nossa atitude em relação a tudo quanto nos transcende e que porventura não consigamos entender em nossa vida espiritual: com paz e confiança, guardar os acontecimentos no coração e refletir sobre eles ao longo do tempo, lembrando-nos da promessa de Nosso Senhor: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai vos enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos lembrará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14,26). Mais cedo ou mais tarde, o Espírito Santo nos fará compreender, na medida que isso for útil para nossa santificação e o cumprimento de nossa missão.
Neste episódio, ensina-nos também o Divino Mestre que, por vezes, até nossos parentes podem não entender alguma atitude nossa, de firme decisão de cumprir um dever moral ou religioso. Portanto, se isso acontecer, não nos surpreendamos.
Oração e Doutrina
Que aplicação tem esta passagem do Evangelho para nossa vida espiritual?
Há momentos de nossa existência nos quais temos a sensação de ter “perdido o Menino Jesus”, isto é, com ou sem culpa nossa, a consolação espiritual desaparece e nos sentimos desamparados. O que fazer quando percebemos que estamos sem graças sensíveis, sem aquilo que nos dava ânimo e sustentação para praticar a virtude?
Esta passagem do Evangelho ensina-nos a imitar Maria e José: ir atrás do Menino Jesus, isto é, pôr-se à procura da graça sensível, quando ela se retirar. Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo Sacramento. Não há nada, absolutamente nada necessário para nossa santificação que, se pedirmos a Jesus Eucarístico, não acabemos por obter.
Contudo, não nos esqueçamos de que, no Templo, Nosso Senhor estava entre os mestres da Lei, o que bem pode significar a importância da doutrina para nos sustentar na hora da provação. Daí decorre para nós a necessidade de uma boa e sólida formação doutrinária.
Como quem vai fazer uma longa viagem providencia com antecedência documentos, roupas apropriadas e tudo o mais, assim precisamos fazer nós: rezar muito e conhecer bem a doutrina, a fim de estarmos preparados para atravessar os períodos de aridez. Se tivermos os princípios bem vincados na alma, quando bater o vento da provação, as folhas estarão firmes na árvore da Fé.
Por Guilherme Motta
Texto extraído de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Deus mais próximo dos homens. Arautos do Evangelho, n. 96, dezembro de 2009, p. 10-17.
[1] TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q. 32, a. 8, Resp.: “A admiração é um certo desejo de saber, que surge no homem porque vê o efeito e ignora a causa”.
[2] FILLION, Louis-Claude. Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 2000, p. 88.
[3] BEDA, San. Apud TOMÁS DE AQUINO. Catena Áurea. Buenos Aires: Cursos de Cultura Católica, s.d., p. 70.
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