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Carrinhos de bebê e as mudanças na relação parental

Poucas coisas na vida são mais ternas e tocantes que a doçura de uma jovem mãe passeando com seu filho, seja carregando-o nos braços, como se protegesse uma joia rara ou empurrando-o em um prático e aconchegante carrinho de bebê.

Foto: Freepik

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Redação (28/09/2024 11:36, Gaudium Press) Os bebês nascem pequenos e frágeis e precisam de atenção, colo e carinho. Diferentemente das outras espécies de mamíferos, os bebês humanos levam cerca de um ano para começarem a andar. Com isso, acabam ficando pesados e conduzi-los no colo resulta uma tarefa difícil…

Para tentar minimizar o esforço da esposa conduzindo o filho robusto nos passeios diários, um nobre inglês chamado Duque de Devonshire pediu a um amigo arquiteto que construísse um carrinho para seu filho.

Isso aconteceu no ano de 1733, e o nome do arquiteto era William Kent. Em atendimento à encomenda do duque, ele construiu um cesto em forma de concha sobre rodas no qual a criança pudesse ser transportada com algum conforto e segurança, aliviando a carga da pobre mãe.

O carrinho podia ser conduzido por ela – ou por quem cuidasse da criança – ou puxado por pequenos animais como pôneis, bodes e até mesmo um cão de grande porte.

De invento rudimentar a gênero de primeira necessidade

Foto: Wikipedia

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Esse primeiro carrinho era um tanto rudimentar, mas o que importava era que os braços de Madame Devonshire ficaram aliviados e o bebê não perdeu nenhum banho de sol matinal.

O engenho agradou tanto a duquesa que outras mães do seu círculo acabaram encomendando carrinhos. Contudo a História registra que demorou cerca de cem anos para o invento se tornar popular.

Em 1889, William Richardson patenteou a invenção de um carrinho de bebê reversível, permitindo que a criança ficasse de frente para a mãe durante o passeio.

No entanto, ainda era um produto caro, produzido sob encomenda e com detalhes luxuosos.

Foi só a partir de 1920 que os carrinhos passaram a ser produzidos em escala industrial, mais simples e práticos, acessíveis à grande parte da população.

Em 1965, outro inglês, Owen MacLaren, um engenheiro aeronáutico aposentado, criou o primeiro carrinho desmontável com estrutura de alumínio e capota retrátil, num formato que as crianças podiam ser transportadas sentadas, em vez de apenas deitadas.

Rapidamente, os carrinhos de bebê se tornaram um artigo de primeira necessidade das famílias e, em muitos casos, serviam até como berço nos primeiros meses de vida da criança.

Coreia do Sul duplica o número de carrinhos

Os carrinhos de bebê se tornaram tão comuns que não se fala muito sobre eles; como roupas e calçados são algo que todo mundo usa.

No entanto, o equipamento voltou aos holofotes quando se notou o extremo crescimento da produção e da venda na Coreia do Sul, que dobrou entre 2018 e 2023.

Naquele país, é muito comum andar pelas ruas e sentir a emoção de ver jovens mães empurrando os carrinhos com seus bebês. Mães e pais, para sermos justos, porque os homens também costumam passear com os “filhos”.

Mas, espere, há algo errado aqui! A Coreia do Sul é o país com a menor taxa de fertilidade do mundo, apenas 0,72, um terço do nível necessário para manter a população estável, o que fez com que o governo decretasse uma emergência demográfica nacional.

Qual é então o motivo desse boom na produção de carrinhos de bebê? Exportação, você pode responder. Errou! Os carrinhos fabricados são para consumo interno e, segundo notícias, não há lugar que você vá no país que não esteja tomado por eles, de todas as cores, tamanhos e modelos cada vez mais sofisticados.

Bem, você não precisa ir à Coreia para ver esse aumento de carrinhos; o número deles está crescendo também aqui no Brasil e em várias partes do mundo.

Mas, cuidado! Não se aproxime muito dos carrinhos, pois, se o bebê se sentir invadido e ameaçado pela sua curiosa proximidade, ele poderá lhe dar uma mordida!

Por isso a maior parte dos carrinhos vêm com uma redinha de proteção, também para evitar que os bebês escapem, pulando fora dos carrinhos.

As crianças não são mais as mesmas!

Foto: Japheth Revelo/ Unsplash

Foto: Japheth Revelo/ Unsplash

Claro, não estamos falando de crianças e pais normais, mas de cachorros, gatos e “pais de pets”!

Na Coreia, aqui ou em qualquer parte, em passeios nos parques, nos shoppings e nas ruas, vemos cada vez menos crianças, mas os pets estão por toda parte.

Antigamente os pais compravam um cachorro para as crianças, hoje, as crianças são os cachorros.

Aumenta vertiginosamente o número de pessoas solteiras e casais sem filhos que vivem com seus cachorros, que acabam sendo a “pessoa” mais importante da casa, e os gastos com eles, entre roupinhas, comida, veterinário e acessórios – como os carrinhos de bebê pet – acabam sendo maiores do que os gastos de uma pessoa adulta.

Os pets mandam nas casas, que se são adaptadas aos seus gostos e necessidades. Quando mordem e estragam roupas, calçados, móveis e outros objetos, os tutores, ou “pais”, não os repreendem.

Repõem os objetos destruídos ou ficam com a casa toda estragada, afinal, há que se ter compreensão com os bichinhos que passam grande parte do tempo sozinhos enquanto seus donos, ops, dono não! Dono é de coisas, de objetos. Não é mais politicamente correto dizer-se dono de um cachorro, a palavra certa é tutor, mas, na prática, são “pais” e “mães” mesmo.

Sozinhos? Bem, ficavam! Agora, enquanto os “pais” trabalham, eles vão para as creches, com roupinhas e lancheiras e, em muitos lugares, de ônibus escolar pet!

Lugares adaptados

Poucos setores da economia conseguem competir com o crescimento bilionário do mercado pet – desde a indústria de rações, acessórios, banho e tosa e veterinários – que agora tem especialidades como cardiologia, acupuntura, dermatologia, endocrinologia, homeopatia e diagnóstico por imagem, entre outras.

Os carrinhos de pet, sofisticadas adaptações do invento de Sir William Kent são apenas a ponta do iceberg.

Os cachorros ocupam os sofás das casas, dormem nas camas de seus do… digo, “pais”, sejam eles solteiros ou os cada vez mais abundantes casais sem filhos. Desculpe, sem filhos humanos eu quero dizer.

E os “pais de pets” não vão aonde seus “filhos” não são bem aceitos, por isso aumenta o número de estabelecimentos como hotéis, mercados, lanchonetes e restaurantes em que pets são bem-vindos e, se forem bem-comportados, podem até se sentar à mesa. O mercado se adapta.

E, se você não gosta de pets, é muito simples, é só não frequentar esses lugares. É claro que, nesse caso, suas opções de lazer ficarão bem reduzidas…

A dominação pet

Ah, mas se você não gosta de crianças, sinta-se aliviado, já existem vários cafés e restaurantes que não aceitam crianças, ou estabelecem áreas proibidas para elas porque são muito barulhentas e malcomportadas.

Práticas como sessões de massagem relaxantes em spas e festas de aniversário de pets já se tornaram comuns. E, em muitos países de economias mais avançadas, incluindo os Estados Unidos, os adultos tratam seus animais de estimação como crianças mimadas, construindo mansões caninas climatizadas e viagens de avião particular.

Ah, e já que nossa conversa começou com carrinhos de bebê, há locais, como a mencionada Coreia do Sul, onde as pessoas colocam bolsas de água quente no inverno e de gelo no verão dentro dos carrinhos, para garantir o conforto térmico dos bichinhos. Bichinhos pode falar? Acho que não também.

Jovens solteiros e uma grande quantidade de casais alegam que é muito caro ter filhos, e uma moça entrevistada na Coreia do Sul, empurrando um carrinho com seu cachorro negou a possibilidade de ter filhos, dizendo: “Se eu tivesse um filho não conseguiria cuidar do Salgu como faço agora”.

E assim caminha a humanidade, escravizada por dois senhores: os smartphones e a doce tirania pet.

Por Afonso Pessoa

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