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Cardeal Sarah: “Não pretendo parar de trabalhar”

Palavras do purpurado na primeira entrevista que deu após a aceitação de sua renúncia.

Cardenal Sarah 2

Redação (11/03/2021 09:47, Gaudium Press) Já na condição de Prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino, o Cardeal Robert Sarah concedeu sua primeira entrevista a Matteo Matzuzzi de Il Foglio, da qual o National Catholic Register fez uma tradução para o inglês.

Destacamos alguns pontos.

“Estou feliz por ter servido três papas”

Sobre sua renúncia recentemente aceita pelo Papa, o purpurado africano disse: “Estou feliz e orgulhoso por ter servido três Papas: São João Paulo II, Bento XVI e Francisco, na Cúria Romana por mais de 20 anos. Eu tentei ser um servidor leal, obediente e humilde da verdade do Evangelho.”

Sobre o que aprendeu com seu serviço no Dicastério, o Cardeal Sarah afirmou, entre outras coisas, que “a responsabilidade da liturgia nos coloca no coração da Igreja, de sua razão de ser. A Igreja não é nem uma administração nem uma instituição humana. A Igreja misteriosamente prolonga a presença de Cristo na Terra. (…) A Igreja existe para dar os homens a Deus e dar Deus aos homens. Este é precisamente o papel da liturgia: adorar a Deus e comunicar a graça divina às almas. Quando a liturgia está doente, toda a Igreja está em perigo porque sua relação com Deus não está apenas debilitada, mas profundamente danificada. (…) Em vez de falar de nós mesmos, vamos a Deus! Esta é a mensagem que venho repetindo há anos. Se Deus não está no centro da vida da Igreja, então Ela está em perigo de morte. É por isso que Bento XVI disse que a crise da Igreja é essencialmente uma crise da liturgia porque é uma crise de relação com Deus.”

O papel do silêncio

O purpurado quis ressaltar de maneira especial o papel do silêncio na liturgia: “Eu nunca deixei de dar lugar ao silêncio na liturgia. Quando o homem permanece em silêncio, ele deixa um lugar para Deus. Pelo contrário, quando a liturgia se torna falante, esquece que a cruz é seu centro e se organiza em torno do microfone. Todas essas perguntas são cruciais porque determinam o lugar que damos a Deus. Infelizmente, elas se transformaram em questões ideológicas.”

Sobre as lutas dentro da Igreja, o purpurado disse: “Hoje na Igreja, muitas vezes agimos como se fosse tudo uma questão de política, poder, influência e a imposição injustificada de uma hermenêutica do Vaticano II que rompe totalmente e está irreversivelmente em desacordo com a Tradição. Para mim, tem sido um grande sofrimento testemunhar essas lutas de facções. Quando falei da orientação litúrgica e do senso do sagrado, disseram-me: “O senhor se opõe ao Concílio Vaticano II”! Isso é falso! Não acho que a luta entre progressistas e conservadores tenha sentido na Igreja. Essas categorias são políticas e ideológicas. A Igreja não é um campo de luta política. A única coisa que conta é procurar Deus mais profundamente, encontrá-Lo lá, e ajoelhar-se humildemente para adorá-Lo.”

Francisco o encorajou em seus problemas pela publicação “Do fundo dos nossos corações”

Acerca de seu relacionamento com o Papa Francisco, o cardeal sublinhou que o Pontífice “gosta de franqueza. Sempre trabalhamos juntos com simplicidade, apesar das fantasias dos jornalistas. Por exemplo, o Papa Francisco entendeu muito bem e recebeu o livro para o qual havia colaborado com Bento XVI, “Do fundo dos nossos corações”. Não escondi dele minha preocupação com as consequências eclesiológicas de questionar o celibato dos sacerdotes. Quando ele me recebeu depois de sua publicação, quando as campanhas da media me acusaram de mentir, ele me apoiou e me encorajou. Parece que ele leu e apreciou a cópia autografada que Bento XVI, com sua delicadeza, lhe havia enviado.”

A respeito do futuro da Igreja, o Cardeal Sarah destacou que “a Igreja vive hoje uma Sexta-feira Santa. O barco parece estar recebendo água por todos os lados. Alguns a traem por dentro. Penso no drama e nos terríveis crimes dos padres pedófilos. Como a missão pode ser frutífera quando tantas mentiras cobrem a beleza do rosto de Jesus? Outros são tentados a trair quando deixam o navio para seguir os poderes da moda. Penso nas tentações que ocorrem na Alemanha no Caminho Sinodal. Pergunta-se o que restará do Evangelho se tudo isso chegar ao fim: uma verdadeira apostasia silenciosa. Mas a vitória de Cristo sempre vem através da Cruz. A Igreja deve ir em direção à Cruz e ao grande silêncio do Sábado Santo. Devemos rezar com Maria ao lado do corpo de Jesus. Velai, rezai, fazei penitência e reparação para que possamos proclamar melhor a Vitória do Cristo Ressuscitado!”

“Vou continuar escrevendo, falando, viajando”

Sobre seu futuro pessoal, o Cardeal Sarah diz que não pretende parar de trabalhar: na verdade, estou feliz por ter mais tempo para rezar e ler. Continuarei escrevendo, falando e viajando. Aqui em Roma, continuo recebendo padres e fiéis de todo o mundo. Mais do que nunca, a Igreja precisa de bispos que livre, clara e fielmente falem de Jesus Cristo e dos ensinamentos doutrinários e morais do seu Evangelho. Pretendo continuar esta missão e até expandi-la. Devo continuar trabalhando a serviço da Unidade da Igreja, na verdade e na caridade. Quero humildemente continuar apoiando a reflexão, a oração, a coragem e a fé de tantos cristãos que estão desorientados, confusos e perplexos com as muitas crises que estamos passando agora: crise antropológica, cultural, de fé, sacerdotal, moral, mas, acima de tudo, crise do nosso relacionamento com Deus”.

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