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Cardeal Müller sobre Cardeal Zen: “Nós o deixamos sozinho”

Ontem, Il Messagero noticiou as declarações do Cardeal Müller sobre a difícil situação do Cardeal chinês, que será julgado no próximo mês.

Cardeal Muller

Redação (02/09/2022 15:13, Gaudium Press) Ontem o jornal italiano Il Messagero noticiou algumas declarações do Cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nas quais este cardeal trata do destino do Cardeal Joseph Zen, Bispo Emérito de Hong Kong, que se encontra sub judice, claramente por causa injusta, por defender os direitos humanos das pessoas que protestaram em Hong Kong.

O Cardeal Zen não pôde comparecer ao último Consistório dos Cardeais, pois não tem permissão para sair de Hong Kong.

“No próximo mês haverá um processo injusto. Ninguém levantou [no Consistório] a gravíssima questão do nosso irmão Zen. O decano, o cardeal Re, ou o secretário de Estado, Parolin, ou mesmo o papa não o fizeram. Não havia nenhum documento de solidariedade, nenhuma iniciativa de oração por ele”, afirmou o cardeal Müller.

“Espero que não seja abandonado.”

“Obviamente – continuou o Cardeal Müller – há razões políticas por parte da Santa Sé que impedem tais iniciativas (iniciativas como manifestação de solidariedade com o Cardeal chinês). Refiro-me ao acordo para a renovação dos bispos recentemente assinado com o governo Xi [Jinping]. Lamento dizer isso, mas não podemos submeter os interesses da Santa Sé e do Estado do Vaticano à dimensão eclesial e à verdade”.

O que o senhor quer dizer?, perguntou Il Messagero .

“Talvez a Igreja devesse ser mais livre e menos presa à lógica mundana do poder, portanto mais livre para intervir e, se necessário, criticar aqueles políticos que acabam suprimindo os direitos humanos. Neste caso, pergunto-me porque não criticar Pequim. Zen é um símbolo e foi preso com um pretexto, não fez nada, é um personagem credenciado, corajoso e muito temido pelo governo. Ele tem mais de 80 anos e nós o deixamos sozinho”.

Mais adiante, o cardeal alemão aprofundou a questão:

“O temor de intervir em um tema relacionado às relações com a China é evidente, em minha opinião. A situação com Pequim é complexa, as informações que aqui chegam são parciais e, infelizmente, nem tudo é bom e triunfante. A Igreja clandestina é atualmente perseguida em muitos âmbitos e confronta-se com bispos patrióticos mais obedientes ao Estado ateu de Pequim do que ao Papa, sacrificados no altar da razão de Estado, para defender e cumprir o acordo diplomático com Pequim. Eu vejo esse risco e sinto dor.”

“Poderia realmente ser sacrificado?” pergunta Il Messagero.

“Infelizmente, esta dúvida surge – responde o Cardeal. Além disso, não é a primeira vez na história da Igreja que cristãos exemplares são sacrificados. Às vezes, o cinismo da política prevalece sobre a liberdade que o Evangelho nos ensina. Que suas palavras sejam sim sim, não não”.

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