Cardeal Müller: “A tarefa dos bispos é administrar a Eucaristia aos fiéis e não afastá-los dela”
Em uma entrevista ao National Catholic Register, o cardeal alemão falou sobre a missão da Igreja em tempos de pandemia.
Redação (02/12/2021 19:06, Gaudium Press) Os eclesiásticos agora fazem um mea culpa, ou pelo menos um culpa alterius, pela forma da Igreja em aceitar demasiadamente submissa e às vezes até mesmo promovendo restrições injustificadas ao culto devido à pandemia, o que prejudicou espiritualmente os fiéis e a própria Igreja.
Ontem, a Gaudium Press relatou as críticas do secretário do Papa Emérito Bento XVI, Mons. Ganswein, que afirmou, referindo-se à Alemanha, que a alma valia mais do que o corpo, e que parecia que isso não esteve muito claro quando foram impostas duras restrições aos serviços religiosos.
Agora o National Catholic Register registrou as palavras do Cardeal Gerhard Müller sobre o mesmo assunto. O purpurado, em entrevista a esse meio de comunicação, expressa que a atual resposta de alguns bispos e sacerdotes ao fechar igrejas ou negar os sacramentos por ocasião da pandemia é um “pecado grave” que vai contra sua “Autoridade dada por Deus”.
Referindo-se às poucas dioceses da Alemanha onde só podem assistir às missas aqueles que foram vacinados ou recém-recuperados do vírus, o cardeal declarou que essas decisões eram “provas chocantes do quanto a secularização e a descristianização do pensamento já atingiram os pastores do rebanho de Cristo”.
A Igreja e os governos devem “trabalhar pela coesão social”, e evitar uma retórica divisiva que rotula alguns como “teóricos da conspiração” ou “pecadores contra a caridade”, manifestou o cardeal. Os sacerdotes e os bispos “não devem se oferecer como cortesãos aos governantes deste mundo e fazer-se seus propagandistas”.
Alguns princípios básicos
O cardeal, que é teólogo especialista e foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, enumerou alguns princípios que devem orientar a ação nestes tempos de pandemia:
1) O bem comum deve ser o fator determinante que, em certas circunstâncias, pode restringir, senão abolir, a liberdade do indivíduo.
2) A produção de vacinas deve ser eticamente correta,
3) As consequências médicas, psicológicas, sociais e efeitos colaterais devem ser mensuráveis e proporcionais aos benefícios esperados.
Infelizmente, muitos governos perderam a confiança do público por meio de medidas caóticas que possuem uma lógica contraditória.
Ele expressou também que em muitos casos, as regulamentações foram comprometidas e contaminadas pelos interesses financeiros e políticos de lobbies ideológicos e gigantes farmacêuticos. Em vez de unir a sociedade na luta contra a pandemia, os poderes que estão na política, a grande mídia e a Big Tech têm explorado implacavelmente a situação para promover a agenda do “Grand Reset”, ou seja, o pensamento totalitário. Mesmo nas famílias, as pessoas discordam umas das outras.”
Buscar a unidade, não a divisão
“Mas em uma crise, a Igreja e os líderes do Estado devem trabalhar em prol da coesão e evitar discriminar os dissidentes, chamando-os de ‘teóricos da conspiração’, ‘pecadores contra a caridade’. Caso contrário, eles são culpados da conduta causadora de divisão, da qual eles acusam publicamente os outros”, esclareceu.
Sobre as decisões como a de Berlim que exige passaporte de vacina para assistir às missas, Card. Muller afirmou que é “contrário à Lei Divina se o acesso aos meios de graça da Igreja, ou seja, aos sacramentos de Cristo, é impedido ou mesmo proibido pelas autoridades estaduais. O fato de os bispos fecharem suas igrejas ou negarem os sacramentos às pessoas que procuram ajuda é um pecado grave contra a autoridade que Deus lhes deu.”
“Os bispos, no entanto, como sucessores dos apóstolos, não são governantes segundo os caminhos do mundo, mas ministros da Palavra e ministros da graça de Cristo. Algo diferente é a observância de regras razoáveis para prevenir a transmissão da doença. Mas isso não pode ser usado para justificar a recusa dos sacramentos por princípio. Pois a graça da vida eterna deve prevalecer sobre os bens temporais.”
A Eucaristia é o remédio eterno
Sobre como a Igreja deve responder às necessidades em tempos de crise, como essa pandemia, o cardeal alemão afirmou que “os lugares de culto e o coração das pessoas devem estar bem abertos para que elas possam buscar refúgio em Deus, de quem vem toda a ajuda. Todas as vacinas têm um efeito temporal limitado. Nenhum medicamento ou invenção técnica pode nos salvar da morte temporal e eterna. O Pão que Jesus dá é a cura para a morte eterna e, sem prazo de validade, o alimento para a vida eterna. Quem come deste pão viverá para sempre. (João 6, 51). E é por isso que, no início do século II, o bispo mártir Inácio de Antioquia, em sua Carta à Igreja de Éfeso (20, 2), pôde chamar a Eucaristia de ‘remédio da imortalidade'”.
“A tarefa dos bispos é administrar a Eucaristia aos fiéis, não afastá-los dela. A devoção pessoal em casa e a co-celebração virtual nas telas não podem substituir a presença real e física na assembleia dos fiéis porque somos seres corporais e sociais. Portanto, a graça e a verdade de Deus nos são comunicadas por meio da Encarnação de seu Filho e compartilhadas conosco na comunidade da Igreja. É o seu corpo. Na Eucaristia, Cristo está escondido, mas realmente presente com sua divindade e sua humanidade, em carne e osso”, concluiu o cardeal.
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