Cardeal Dominik Duka, Arcebispo emérito de Praga, morre aos 82 anos

O purpurado sofreu forte perseguição por parte do regime comunista, porém, foi considerado um símbolo de resistência, desempenhando um papel fundamental na Igreja Tcheca.

Praga – República Tcheca (04/11/2025 10:06, Gaudium Press ) O Cardeal dominicano Dominik Duka, Arcebispo metropolitano emérito de Praga faleceu na madrugada desta terça-feira, 4 de novembro, aos 82 anos de idade. A morte ocorreu às 3h da manhã, no Hospital Militar Central (VUN) da capital da República Tcheca.

A notícia da morte do Cardeal foi divulgada pela Arquidiocese de Praga através de um comunicado publicado nas redes sociais. Na semana passada, os Bispos do país pediram aos fiéis para que rezassem pela saúde do purpurado, uma vez que a mesma se deteriorasse após uma cirurgia de emergência realizada no mês de outubro.

Impedido pelo regime comunista de seguir sua vocação religiosa

Nascido no dia 26 de abril de 1943 em Hradec Králové (Boêmia Oriental), então Tchecoslováquia, batizado com o nome de Jaroslav, só conseguiu ingressar na Faculdade Teológica dos Santos Cirilo e Metódio, em Litoměřice, no ano de 1965, pois havia sido obrigado às autoridades do país a prestar serviço militar e a trabalhar em uma fábrica, o que o impediu, em um primeiro momento, de seguir sua vocação religiosa.

No dia 5 de janeiro de 1968, ingressou clandestinamente na Ordem dos Frades Pregadores, (que na época era proibida e considerada ilegal na Tchecoslováquia) recebendo o nome de Dominik. Realizou os votos temporários em 6 de janeiro de 1969. Em 22 de junho de 1970, foi ordenado sacerdote. Durante cinco anos, exerceu o ministério como administrador paroquial nas fronteiras da Arquidiocese de Praga. No dia 7 de janeiro de 1972, fez a profissão solene na Ordem de São Domingos.

Colaborou de forma clandestina com os Dominicanos

Em 1975, ele retirou o “alvará estatal de administrador espiritual”, o que o impedia de viver abertamente sua consagração religiosa. Durante quinze anos, trabalhou como desenhista técnico na fábrica automobilística Škoda, em Plzeň. Apesar do trabalho cotidiano, continua estudando e colaborando clandestinamente com os dominicanos, correndo risco de prisão. De 1975 a 1986 foi vigário provincial e, de 1976 a 1981, mestre dos noviços. Paralelamente, participou da criação de um centro clandestino de estudos religiosos e especificações de atividades da nova geração dominicana na Tchecoslováquia. Em 1979, obteve a licenciatura em Teologia pela Faculdade Pontifícia de Teologia São João Batista, em Varsóvia, Polônia.

Em 1981, foi condenado por se opor à vigilância estatal sobre as Igrejas, conforme o Código Penal vigente. Passou quinze meses preso no cárcere de Plzeň-Bory, acusado de atividades religiosas, organização de estudos para clérigos dominicanos, publicação de material clandestino e colaboração com o exterior. Ao ser libertado, em 1986, foi nomeado superior da província dominicana da Boêmia e Morávia, cargo que manteve até 1998. Nesse período, participou da Assembleia Especial para a Europa do Sínodo dos Bispos (novembro-dezembro de 1991).

Presidente da Conferência Episcopal e Bispo de Hradec Králové

Em novembro de 1989, ano da Revolução de Veludo, que levou ao fim do regime comunista tchecoslovaco, foi eleito presidente da Conferência dos Superiores Maiores Religiosos de seu país, e, de 1992 a 1996, também vice-presidente da União das Conferências Europeias dos Superiores Maiores Religiosos. Em 6 de junho de 1998, foi nomeado Bispo de Hradec Králové, recebendo a ordenação episcopal no dia 26 de setembro do mesmo ano.

Durante onze anos na Diocese natal, promoveu diversas iniciativas, como a fundação do Instituto Teológico e de um ginásio em Skuteč. Em 2002, convocou o segundo Congresso Eucarístico Diocesano. De 2000 a 2004, foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Tcheca. Em 6 de novembro de 2004, o Papa João Paulo II o nomeou administrador apostólico ‘sede plena et donec aliter provideatur’ da Diocese de Litoměřice, cargo que manteve até 22 de novembro de 2008.

Arcebispo de Praga e Cardeal

Em 13 de fevereiro de 2010, foi promovido pelo Papa Bento XVI a Arcebispo de Praga. Grão-chanceler da Faculdade de Teologia da Universidade Carolina de Praga, foi eleito, em 21 de abril de 2010, presidente da Conferência Episcopal Tcheca, função que exerceu até 2020. Nesse cargo, teve papel decisivo na restituição dos bens da Igreja e no diálogo público sobre o papel da Igreja na sociedade, unindo Fé sólida, coragem cívica e abertura à cultura e à ciência. Em 23 de dezembro de 2011, presidiu, na Catedral de São Vito, as exéquias do ex-presidente tcheco Václav Havel, a quem conheceu pessoalmente em 1981, na prisão.

Ao longo dos anos, recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, tanto civis quanto religiosos. Teve papel de destaque na tradução da Bíblia de Jerusalém para o tcheco, publicada em 2009, trabalho ao qual se dedicou por trinta anos. Em 2012, foi criado Cardeal pelo Papa Bento XVI, com o título dos Santos Marcelino e Pedro, tomando posse em 25 de novembro do mesmo ano. Participou do Conclave de março de 2013, que elegeu o Papa Francisco.

Renúncia e nomeações

Em 13 de maio de 2022, Duka renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese Metropolitana de Praga. Em 8 de julho de 2023, foi nomeado enviado especial do Papa à cerimônia de coroação da imagem de Nossa Senhora ‘Saúde dos Enfermos’, venerada desde o século XVI no Santuário Polonês de Smolice, Arquidiocese de Poznań, realizada em 9 de setembro. Ainda em julho de 2023, apresentou ao Dicastério para a Doutrina da Fé algumas questões sobre a administração da Eucaristia a divorciados em nova união, possibilidade aberta, ainda que com limitações, pela exortação apostólica ‘Amoris laetitia’ do Papa Francisco.

Em 24 de outubro do ano seguinte, em Praga, o purpurado participou da cerimônia de assinatura do Acordo entre a Santa Sé e a República Tcheca sobre certas questões jurídicas. E, no final de março passado, acompanhou a peregrinação jubilar nacional a Roma. Em 23 de agosto recente, Leão XIV o nomeou enviado especialmente às celebrações do centenário da Arquidiocese polonesa de Gdańsk, realizadas na Catedral de Oliwa, em 14 de outubro, no entanto, o Cardeal não pôde comparecer por conta de sua hospitalização. (EPC)