Caminho de retomada ao relacionamento com o Criador
Assim como os Discípulos de Emaús, devemos reconhecer o Senhor aos poucos, dando-nos conta das nossas limitações, fraquezas e pecados.
Redação (06/05/2022 11:06, Gaudium Press) Se em Adão ficou corrompida a nossa comunicação-comunhão com Deus Criador – ao se descobrir nu, ele teve vergonha de Deus (Gn. 3, 10), ou seja, o que era puro ficou manchado com a nódoa do pecado –, o Homem-Deus, o novo Adão, Jesus Cristo nos trouxe a purificação e a possibilidade de comunicação e comunhão com Deus. E a sua marca é a Santa Cruz.
“Eis por que, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Se pela falta de um só a multidão morreu, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre a multidão”. ((Rom. 5, 12 e 15).
Conforme ressalta Ruthes, parafraseando Ladaria, “o pecado consiste na recusa do dom de Deus e na tentativa soberba de querer ser como Ele”. (RUTHES, 2018, p. 113). E acrescenta afirmando que, no âmbito existencial comunitário, social e cósmico, estamos constantemente a pecar. Mas, Jesus não nos resgatou? Por Sua Vitória sobre a morte, Ele não nos possibilitou a vida nova por meio de Sua graça? Sim! Sobretudo pelo Sacramento do Batismo somos resgatados para a vida nova. “O CIC (2000) destaca, mais concretamente, cinco efeitos do sacramento do batismo:
1) a remissão dos pecados;
2) a transformação em nova criatura;
3) a incorporação na Igreja, corpo de Cristo;
4) o fundamento da comunhão entre todos os cristãos;
5) uma marca espiritual indelével na alma de quem o recebe”. (SIQUEIRA, 2018, p. 33).
Tudo é graça
Já afirmava Santa Terezinha do Menino Jesus, repassando todas as circunstâncias de sua vida e, assim, renovando a sua fé e exaltando a Providência Santíssima: “tudo é graça”. Também nós podemos fazer a mesma experiência que a Santa. Analisemos a graça no contexto sobretudo sacramental.
Em sua segunda carta aos Coríntios, São Paulo elucida a direção de Deus para a sua vida: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”. (II Cor. 12,9). Se basta a graça, é porque ela é suficiente, com ela não se requer outro auxílio. Mas o que é a graça? É a fonte de transformação do pecador; e os Sacramentos são os canais pelos quais nos vêm essa graça.
“Os sacramentos são gestos de Deus na vida do fiel expressos numa forma simbólica. Portanto, podemos dizer que são sinais sagrados, porque exprimem uma realidade sagrada e espiritual. São sinais eficazes, porque, além de simbolizarem certo efeito, produzem-no realmente. Sabemos, também, que são sinais da graça, porque transmitem os dons da graça divina; nutrem, robustecem e exprimem a fé do fiel, o que os torna sinais de fé. Além disso, são sinais da Igreja, porque foram confiados à Igreja, celebrados na Igreja e em nome da Igreja”. (ANDRADE, 2018)
Sacramento da Reconciliação
Reflitamos sobre a graça que nos provém do Sacramento da Reconciliação. “Reconciliação é cura, é sair do que traz fraqueza à vida, é ter paz novamente, comunicar-se livremente, ser reconhecido como pessoa digna, superar inquietudes e isolamentos”. (LOPES, SBARDELLA, 2018, p.152).
A Reconciliação está no reconhecimento que o penitente faz como pecador e se arrepende, se expõe. De fato, toda confissão eficaz passa por uma exposição sincera dos pecados cometidos e arrependidos; não a “confissão por alto”, como que contando com a intuição do sacerdote para concluir o que se confessa.
Desse modo, a partir da exposição ao sacerdote, recebe-se de Deus por meio dele o perdão, o seu interior é curado (II Cor. 5, 18), a graça superabunda a desgraça que o pecado gerou (Rm. 5,20).
Diante de imensa manifestação do amor divino, pela graça, diante de tamanho milagre de ressurreição, fica o conflito das seguintes questões: por que as pessoas não valorizam a graça proveniente desse sacramento? É certo que muitos cristãos buscam efusivamente curas, milagres e prodígios, mas esses desconhecem ou não se dão conta de que o Sacramento da Confissão traz uma graça tão potente, oriunda do perdão de Deus, capaz de curar, libertar, restaurar imediatamente.
Supomos que muitos que encontraram a graça por meio do Batismo não trilharam o caminho com Cristo no decorrer de suas vidas. Assim como os Discípulos de Emaús, devemos reconhecer o Senhor aos poucos, dando-nos conta das nossas limitações, fraquezas e pecados.
Alguns não se veem pecadores, eis outro motivo para depreciar a Confissão. Outros se reconhecendo tão pecadores param na vergonha, no erro e não conseguem dar os passos à fonte da Reconciliação. Será que não veem no sacerdote o Rosto da Misericórdia de Deus? Fato que dificultaria, sobremaneira, a aproximação para a Confissão.
Combate espiritual
Dentre as muitas problemáticas dos impedimentos pela busca da Confissão, lancemos um olhar a partir do que nos exorta São Paulo: “Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais”. (Ef. 6, 12).
Dom Bosco nos ajuda a compreender melhor visto que tinha o dom extraordinário do Espírito Santo de sonhos proféticos. Certa vez, ele sonhou com seus jovens do oratório. Ele estava no confessionário, atendendo-os em Confissão. E quando olhou para a fila de jovens para se confessar, ele via atrás de cada um deles uma sombra. No sonho, ele se levantou do confessionário, foi até os jovens e viu atrás deles o diabo que lhes apresentava fitas: a um amarrava a boca, a outro amarrava o coração, a outro amarrava os olhos. Então, ele expulsou aqueles demônios, de forma que os jovens conseguissem se confessar bem.
Vemos, portanto, que a busca da reconciliação com Deus por meio da Confissão está também associada a um combate espiritual, entre o bem e o mal; como Adão e Eva na decisão de comer ou não o fruto. Porém, o livre arbítrio nos insere na condição de optar e caminhar rumo ao bem, rumo à reconciliação com Deus, conosco mesmo e com os outros.
Deus nos elegeu, ‘trocou reinos por nós’ (Isaías 43, 3-4), nos redimiu por meio de Seu Filho Jesus Cristo. Por meio do Sacramento do Batismo é apagada a mancha do pecado original. Mas devido à natureza humana, no desenrolar da vida, no cotidiano, nos relacionamentos, decisões e comportamentos diversos, não escolhemos o bem e pecamos.
Entretanto, existe reconciliação! A Cruz não foi a última palavra porque Cristo ressuscitou. A queda no pecado quer venial ou mortal não deve ser a última palavra. Buscar o Sacramento da Reconciliação, da cura, eis a forma preciosa de retomar o nosso relacionamento e nossa Comunhão plena com Deus. A Confissão é a porta para a vida nova!
Isadora Maria Oliveira Souza
Consagrada Secular – Instituto Secular Servas de Jesus Sacerdote
Mestranda em Teologia Bíblica na PUCPR
Referências bibliográficas:
BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de Jerusalém .São Paulo: Paulus, 2002.
RUTHES, Vanessa Roberta Massambani. Introdução à Antropologia Teológica. Curitiba – PR. Intersaberes, 2018.
SIQUEIRA, Thácio Lincon Soares de. Sacramentos da iniciação cristã. Curitiba – PR. Intersaberes, 2018
ANDRADE, Joachim. Teologia dos Sacramentos. Curitiba – PR. Intersaberes, 2018.
LOPES, Luís Fernando e SARDELLA, Ellton Luis. Introdução à teologia dos sacramentos. Curitiba – PR. Intersaberes, 2018.
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